Era por volta das 2:14 da madrugada, dia 31 de outubro e eu estava completando meus 12 anos de idade. Dormia tranquilamente em meu quarto quando ouvi uma voz ecoando por todos os lados, em um sussurro frio e profundo, acordei de imediato, pensei eu que seria minha mãe chamando pelo meu nome, mas porque aquela hora?!
Levantei-me em um pulo, na tentativa de saber de fato quem seria a dona daquela voz, em uma completa escuridão procurava o interruptor da luz do abajur que ficava do lado da minha cama. Ele sempre estava perto, mas naquela noite, não encontrava nem um rastro de luz sequer. A voz mais uma vez, sussurrou em um tom melancólico e parecia mais alto, em um movimento de desespero em meio aquele completo breu, achei o interruptor, liguei a luz e olhei a minha volta, não havia nada ali, apenas eu e meu medo intenso do que podia ter ocorrido naquele momento.
Naquela mesma noite, demorei a dormir e deixei as luzes acesas, na esperança de que meu nome não fosse pronunciado outra vez, não podia pensar na ideia de que algo sobrenatural estaria acontecendo comigo...Na manhã seguinte, falei a minha mãe o que tinha acontecido, e como todos os adultos, ela disse que eu deveria ter tido um pesadelo e que não deveria pôr essas coisas em minha cabeça pois eu era apenas uma criança de imaginação muito fértil. Deixei isso para lá, uma grande parte de mim queria acreditar naquela explicação, mas no fundo eu sabia que eu realmente tinha escutado algo, que aquela voz doentia e distante chamando pelo meu nome, não era só fruto da minha imaginação.
Os dias se passaram fazendo com que eu deixasse isso para lá, até porque não tinha mais escutado aquela voz. Me apeguei ao que minha mãe falou e deixei as "paranoias" de lado.
Um ano depois, exatamente na mesma hora, no dia em que eu completo ano, acordei novamente com aquela voz clamando pelo meu nome, dessa vez ela estava mais perto, mais rouca e me assustava mais do que a primeira vez em que a ouvi. Na mesma hora, acendi a luz e me encolhi para o canto da cama, olhei ao meu redor, mas não seria burro de olhar debaixo da minha cama, afinal já tinha assistido filmes de terror, e essa ideia idiota nunca acabava bem.
Eu me tremia, tentando achar de onde vinha aquela voz agonizante, o quarto estava frio, e o silêncio pairava entre os intervalos em que ouvia os sussurros, não tinha mais sono, minha boca estava seca e eu não tinha coragem o suficiente para me levantar ou dar sequer uma palavra. Mais uma vez, não dormi, passei a noite sob a luz daquele abajur, rezando para o dia chegar de uma vez.
Depois de uma longa noite, finalmente vi um raio de sol entrando entre os espaços das telhas do quarto. Ainda assustado me levantei e contei a minha mãe que havia acontecido mais uma vez, que uma voz assustadora havia chamado pelo meu nome durante a madrugada e que aquilo havia tirado o meu sono pelo resto da noite, e mais uma vez, ela me disse que eu estava delirando, e estava levando meus sonhos muito a sério. Ainda sonolenta, me mandou não falar sobre isso e voltou a dormir.
E em todos os anos, durante o vazio da madrugada, aquela voz voltava para a minha infelicidade, cada vez mais sombria, cada vez mais próxima, sem um dono, invisível aos meus olhos, apenas aquela voz, que a cada ano voltava mais demoníaca e mais alta. Tentei de tudo, fones de ouvido, tampões... Mas nada adiantou, era como se estivesse em minha cabeça, e isso me torturava, me assombrava entre a escuridão.
Nunca tive coragem de contar a alguém, nem falava mais a minha mãe, e toda vez que eu tentava, ela agia de forma estranha, me mandando parar de falar besteiras. Todos os anos, nesse mesmo dia, eu não dormia na tentativa de ver de o que tanto me tirava o sono, mas nunca consegui desvendar.
Na véspera do meu aniversário de 17 anos, minha mãe veio até o meu quarto, ela chorava como uma criança, me pedia desculpas pelo que havia feito, e eu não entendia toda aquela situação, me perguntava o que havia acontecido, mas ela se recusava a dar mais explicações, a abracei e ela estava fria, tremendo como se estivesse dado de cara com a morte, então ela se levantou, deu de ombros e saiu pela porta, dizendo que só estava emotiva e que não era nada demais. Eu havia tido um dia cheio na escola, estava cansado e preferi acreditar no que ela disse, esqueci que à poucas horas, eu completaria 17 anos.
***
Fui até a cozinha pois estava com sede, e vi que a porta do escritório da minha mãe estava entreaberta, coisa que era rara já que ela nunca me deixou chegar perto.
Em um impulso de curiosidade, entrei e vi que na mesa tinham várias fitas, taxadas com uns avisos estranhos, o que naquele momento despertou mais a minha curiosidade. As coloquei em um aparelho antigo da minha mãe, mas em poucos segundos, me arrependi do que havia feito, na tela passava um vídeo horripilante do que parecia ser um parto de uma criança, que supostamente seria eu já que era a minha mãe quem sofria em um ritual aterrorizante e doloroso, as pessoas ao redor falavam palavras estranhas, em volta de um círculo de animais mortos. Pelo que eu entendi, minha mãe fazia parte de uma ceita quando mais jovem, e eu havia sido envolvido em uma espécie de ritual, o que estava me deixando apavorado naquele momento, e mentiria se falasse que não passou pela minha cabeça que estava ali, diante dos meus olhos o motivo de estar tão apavorado com os acontecimentos dos últimos anos.
No final da gravação, uma mulher pegou a criança em seus braços e pronunciou algo que depois de muita pesquisa cheguei a descobrir que significa "filho de lilith", e depois falou que após 18 ciclos, ela herdaria o que é dela.
Saí daquele escritório, guardei as fitas e fugi de lá correndo. Naquela noite, durante a madrugada, a voz parecia estar ao meu lado, sussurrando em meu ouvido. Me desesperei e em prantos me virei para olhar o que havia ali, mas como sempre... nada. Dessa vez, a voz estava em uma rouquidão molhada e assustadora, fazendo com que eu lembrasse daquele episódio horrível que tivera no escritório a poucas horas.
A voz nunca havia me assustado tanto como naquela noite, me fez pensar que meu destino não seria como eu havia imaginado, me fez temer o amanhã e tornar normal o ato de noites mal dormidas.
Após aquilo, não dormia, não comia, e minha mãe estava cada vez mais estranha e distante, com o olhar mais frio e assustador, ela não era mais a minha mãe, e aquilo só concretizava os meus achismos, todas as noites eu tinha pesadelos com o vídeo daquele ritual, temia pelo que poderia acontecer ao chegar o dia do meu próximo aniversário.
... E hoje eu sei! Hoje é a madrugada do dia 31 de outubro, dia em que completo meus 18 anos, e ela está aqui, sobre o meu peito, com um sorriso sombrio e demoníaco, olhando diretamente para mim, com esses olhos que parecem sugar toda a minha vida a cada segundo que se passa, sussurrando o meu nome e se aproximando cada vez mais...
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Into In The Darkness°
Horror×''Apenas uma mistura de contos de terror autorais que faço para o entretenimento daqueles que gostam do gênero. × ¥Desejo-lhes bons sonhos... ^_^ *~°OBS: POSTAREI NOVOS CONTOS A QUALQUER MOMENTO...