23 de agosto de 2015
Dor.
A única coisa que eu sentia.
O único sentimento presente.
Estava de noite, de madrugada. Faltava dois minutos para ser meia-noite e ponto. Nesse mesmo instante lembrei de uma coisa que minha mãe sempre me falava quando era meia-noite e ponto.“faça um pedido”
Escutei um susto bem no meu ouvido.
Estava parado de frente para a sua lápide que já havia sido colocada mesmo ela tendo sido enterrada a poucos minutos.
Senti uma lágrima escorre do meu olho junto com um arrepio no meu ombro.-Eu não quero me sentir sozinho.-Fiz meu pedido e senti uma mão tocar meu ombro. Olhei para cima e vi o rosto da minha irmã mais velha.
-Nós temos que ir.-Ela disse com uma voz de choro tentando disfarça um pouco. Me levantei do chão e enxuguei a lágrima que havia escorrido.
Enquanto íamos embora, olhei para o lado e vi que também estava tendo um enterro, não muito longe de onde se minha mãe acabará de ser enterrada. Algumas pessoas se dispensaram da frente do túmulo e permitiu a aparição de um garoto, muito bonito, fofo, um pouco mais alto que eu. Seu cabelo também era liso que nem o meu, estava meio jogado sobre a sua testa. Estranhei por que ninguém o chamou para ir embora. O mesmo olhou para o lado e me avistou, aparti daquele momento era como se o mundo estivesse em câmera lenta. Assim que o garoto me viu deu um sorisso de lado, o que eu achei estranho já que estávamos em um enterro e provavelmente ele também havia enterrado alguém também. O mesmo acenou para mim, ainda com o sorriso, e se virou indo embora.
Mais aquela não foi só última e nem única vez que eu vi ele.
23 de agosto de 2016
No ano seguinte eu fui visitar o túmulo da minha mãe novamente junto com a minha irmã que colocou flores sobre o túmulo deixando arrumado.
Naquele tarde o sol não estava tão quente, tinha muitas nuvens tampando o mesmo e o clima estava meio frio, tipo morte, luto, o clima sempre era o mesmo.
Olhei para o lado e vi que umas três pessoas estavam de frente para a mesma lápide que eu os vi no ano passado. Só não vi o garoto em volta, ou por qualquer canto por perto de lá.
Senti um vento passando pelas minhas costas e virei meu rosto para o meu lado direito de onde eu senti o vento, mais não vi nada. Voltei a olhar para o meu lado esquerdo e vi o corpo de um garoto passando pelo meu lado. Ele estava de costas mais mesmo assim eu reconhecia que era o garoto que eu tinha visto ano passado. Ele estava exatamente igual ao ano passado, só estava um pouco mais alto, como eu que também só havia crescido um pouco. O mesmo caminhou até as três pessoas que estavam de frente para a lápide e também pronto para irem embora. As três pessoas começaram a andar e o garoto os seguiu indo embora e sumindo do meu campo de visão.
Eu continuei o vendo por mais três anos, mais nunca troquei sequer uma palavra com ele. Quando o mesmo me via só dava um sorriso e acenava para mim. Comecei a me pergunta de ele se importava realmente com a pessoa que ele tinha enterrado ou se a pessoa que ele tinha enterrado se importava com ele. Mesmo estando em um cemitério ele conseguia sorrir e não demonstrar tristeza.
23 julho de 2020
Eu já estava na universidade três anos depois daquele. Esta prestes a voltar a estudar, estava no período de feriadão. Eu só estava aproveitando os meus últimos minutos que poderia ficar deitado na cama, tinha que levantar para arrumar o dormitório que eu estava.
Levantei a cabeça e olhei para a cama que estava do lado. Debaixo do lençol consegui ver que o Ae ainda estava lá deitado cobrindo todo seu corpo com o lençol e deixando apenas os seus pés de fora. Me arrastei, ainda na cama, até a ponta da mesma e em seguida estiquei meu braço até minhas mãos conseguirem tocar seus pés fazendo cócegas no mesmo. Ae começou a balançar seu pé e depois o puxou com tudo se sentando na cama assustado olhando para a ponta da sua cama e me vendo sorrindo.
-Droga Zon! Eu ainda estava dormindo.-O mesmo disse tentando acalmar sua respiração que tinha ficado ofegante. Enquanto eu sorria me virei na cama e fiquei de peito pra cima.
-Nós temos que arrumar o quarto.-Me sentei na cama e olhei para ele.
-Arrume o seu lado. Que depois eu arrumo o meu.-O mesmo se deitou na sua cama e em seguida de cobriu.
-Como se isso fosse possível.-Me levantei da cama e fui para o outro lá da mesma.-Suas coisas também estão do meu lado do quarto.-Juntei uma camisa embolada e joguei no mesmo que tirou o lençol de cima dele e olhou para a camisa do lado.-Suas chuteiras.-Joguei a chuteira nele que acertou sua cabeça.-E a camisa do Tutor também.-Peguei a camisa, que estava perto da porta do banheiro, embolei a mesma e joguei na direção do Ae que se levantou da cama rapidamente e pegou a camisa que estava preste a acertá-lo.
-Essa camisa não é do Tutor. Ela é nova, comprei a alguns dias.-O mesmo tentou se explicar.
-Claro. Enquanto o Tutor tem uma camisa idêntica a sua.-Afirmei me aproximando do mesmo cruzando os braços com uma cara de convencido.
-Tá! Eu trouxe ele aqui. Mais não quer dizer que fizemos alguma coisa.-O mesmo jogou a camisa na sua cama e depois se sentou na mesma.
-Então por que ele tirou a camisa? Ele foi embora exibindo aquele peitoral dele?-Realmente era muito bonito o peitoral do Tutor.
-Nem morto. Eu o mataria se ele fosse embora sem camisa.-O mesmo se levanta da cama e volta a ficar na minha frente. Parecia com raiva.
-Então como é que ele foi? Você deu uma camisa sua para ele, ou ele pegou?-Olhei para o seu tamanho, que era menor que o meu e o Tutor era maior, como a camisa do Ae caberia no corpo grande do Tutor?
-Não. Foi uma sua.-O mesmo correu para o banheiro e trancou a porta.
-Ae seu merda!-Gritei batendo na porta do banheiro com força.
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In My Dreams - Mii2
RomanceRomance Adolecente bl/Concluída Um garoto que perdeu a mãe no dia do seu aniversário. Um garoto que diz ter perdido o seu irmão. No dia do enterro, no cemitério, os olhares dos dois se cruzam. Um sentimento que até então era estranho para os dois...