I. Capitulo 1: Coisas de Matilha

13 0 0
                                    

  Entrego um dos pedaços de carne do alce ao filhote encolhido entre minhas patas. Observo ele comer como se sua vida estivesse dependendo disso, o que não deixa de ser verdade.

  Graças a uma liderança totalmente errada do meu irmão, a nossa alcateia está fazendo os alces e cervos irem embora, tendo apenas camundongos e lebres para se alimentar. 

  Meu irmão prioriza apenas os lobos que caçam, filhotes e fêmeas ficam por últimos para se alimentarem, enquanto os lobos são os primeiros. 

  Observo o filhote terminar com a carne e se lamber, na tentativa de tirar o sangue fresco do alce dos pelos, sorrio com a tentativa que falhou miseravelmente.

   —Conseguiu algo?— Pergunto olhando para Anali, a mãe do filhote.

   —Bom... — Ela coloca o osso no chão — Acho que durará até amanhã  — A mais velha, se refere ao osso.

    — A caçada foi boa hoje  — Olho para os lobos atacando a barriga do alce morto, enquanto as lobas e filhotes ficam na beirada com as patas.

 — Sim... pelo menos não iremos dormir com fome, ou apenas com alguns camundongos e esquilos — Ela entrega o osso ao filhote — Acompanhou a caçada hoje? 

 — Claro — Me animo  —Eu vi a matilha caçar hoje e faz um bom tempo que não os acompanho... mesmo que seja de longe — respiro fundo frustrada. 

— Lobas não caçam  — ela lambe o filhote. 

— Elas caçam... Mas — Sou interrompida

— Não nessa alcateia — Ela sorri para mim e se levanta com o filhote na boca

— E se... eu começar a caçar? — Acompanho ela 

— Impossível, os lobos da patrulha não irão deixar você sair, não há nenhuma comida em menos de 10 km, tirando que os lobos cinzas estão ansiosos para ter a cabeça de um dos alfas. — Ela ri, mas sei que ela está falando sério. 

— Eu preciso! As lobas e filhotes estão famintas... Ambos estão com as costelas aparecendo, e mal conseguem ficar de pé — Olho para a loba na minha frente, que aparenta ter jogado uma camada com pelos por cima de um monte de ossos, com metade de suas patas cobertas de lama. 

— Akela, precisamos de você mais viva do que morta, sou mais velha e sei os perigos que essa floresta esconde —  Ela olha ao redor procurando a direção do riacho

— Meu irmão não irá saber... Eu sou silenciosa, não tem como dar errado — Ando em direção ao riacho sendo seguida por ela. 

— E como você vai passar pela patrulha? — Ela coloca o filhote no riacho.

— Isso é algo com que a Akela do futuro vai se preocupar — Ela olha para mim como se fosse dar errado — Mas eu vou dar um jeito!

— Você sabe que não vai dar certo —  O filhote começa a brincar na água tentando pegar alguns salmões, mas tem suas tentativas fracassadas, já que toda vez que ele tentava acabava engolindo água.

Anali é uma loba bem conhecida por aqui, ela vive na alcateia bem antes que eu nasci, e até chegou a me criar por algumas estações. graças a ela, eu sei de diversas coisas e caminhos pela alcateia. Infelizmente, os lobos tiram sarro dela, pois ela não precisa da presença de um lobo para sobreviver, nessa alcateia isso é motivos de chacota, xingamentos e até mesmo agressões.

Na verdade... nenhuma loba é realmente respeitada nessa alcateia desde que meus pais se foram... Eu e Gray assumimos o controle de toda a alcateia muito cedo e enquanto eu ainda brincava com alguns filhotes, meu irmão estava cuidando de toda a alcateia, e quando eu tive a noção do meu papel de líder, já era tarde, a alcateia tinha uma mentalidade totalmente diferente de antes. Meu irmão havia mudado muito, se tornou irresponsável e arrogante.

— Anali? — Olho para ela 

— Sim? — A mais velha, tira seu filhote da água e olha pra mim

— Como meus pais eram? — Essa pergunta parece atormentar ela, que no mesmo segundo arregala os olhos e logo lacrimejam, Anali sorri.

— Seus pais foram um dos poucos casais que realmente eram verdadeiros... Era lindo ver a forma de como sua mãe olhava para seu pai — Ela fala com admiração no olhar. por incrível que pareça, eu nunca perguntei como meus pais eram pra ela — Eu era amiga da sua mãe desde a infância, E sendo sincera ... — Ela olha nos meus olhos e eu aceno com a cabeça afirmando — Você puxou ao seu pai — Rimos juntas.

— E você Anali? já faz tanto tempo que eu não te vejo! Você passou algumas estações fora não foi?—  Me deito, já que sei que vai ser uma longa conversa. 

— Eu passei duas estações fora... eu precisava de um tempo para pensar em tudo, nessa minha jornada, acabei encontrando um antigo amigo — abro um sorriso malicioso - E assim eu e ele fomos nos conhecendo... — Ela fica envergonhada—  E foi assim que o Raj nasceu.

— E cadê ele? — limpo minha pata.

 — Foi pra um lugar melhor — Arregalo os olhos — Quando eu estava voltando para a alcateia fomos atacados... ele arriscou a própria vida por mim... ele não sabia que eu estava esperando um filhote—  Ela suspira e olha para mim — Vamos voltar Akela, aqui é perigoso.

— Aqui é a fronteira da nossa alcateia com a dos lobos cinzas? — olho pra ela.

— Sim, de acordo com o que me disseram, a única coisa que diferencia um território do outro é essa nascente e os cheiros — ela vai andando de volta para a alcateia.

— Não me deixa pra trás — reclamo e antes de ir andando olho para trás para ver um lobo de pelagem mais escura, uma cor parecendo fumaça, com ambos os olhos parecendo um gramado verde cintilante — quem é...? 

— Akela! — Escuto Anali gritar meu nome e eu desvio o olhar para olhar Anali me observando de longe, quando olho para o lugar que o lobo estava, ele havia sumido.

—Estou indo — Corro até Anali.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Mar 16, 2022 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

A FugitivaOnde histórias criam vida. Descubra agora