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Jingyi foi castigado pela milhonesima vez por correr nos corredores, mas dessa vez Qiren havia lhe dado outra tarefa que não fosse plantar bananeira e copiar as regras de seita, ele deveria levar as refeições de Zewu-jun todos os dias, assim ele aprenderia a respeitar horários e não correr pelos corredores. Também era uma oportunidade para Xichen ter contato com alguém que não fosse o tio ou o irmão.

No horado designado, Jingyi foi até a cozinha e pegou a travessa com a comida do líder de seita, não era tão pesada quanto ele havia previsto e pode carregar com uma única mão, no entanto, assim como Qiren previa, ele não conseguia correr carregando, então a tarefa não seria terminada tão rapidamente quanto ele esperava.

Os aposentos do líder ficavam em um quintal particular e ninguém entrava sem a permissão de Qiren, então era bem quieto e muito solitário. Jingyi se perguntou o que faria alguém querer ficar em um local como esse por conta própria. Após adentrar o quintal ele deu a volta pelo deque para alcançar a porta dos aposentos de Zewu-jun e bateu na porta não tão levemente quanto gostaria.

-Pode entrar.

A voz que veio de dentro parecia, cansada, não, esse não era o jeito certo de descrever, parecia arrasada como se estivesse aguentando apenas por um fio muito fino, quando ele entrou, viu que a aparência não era muito melhor. Os cabelos de Zewu-jun estavam soltos e pareciam mais esbranquiçados, seu rosto estava abatido e tinha olheiras sobre os olhos, por um momento Jingyi não conseguiu se mover olhando para aquele que deveria ser seu maior exemplo.

Durante esse mesmo tempo Zewu-jun encarou o rapaz, primeiro imaginando o que fazia ali e depois de ver a bandeja em sua mão, ficou imaginando porque seu tio tinha mandado justamente o júnior mais fofoqueiro até seu quarto para vê-lo dessa forma.

-Pode deixar a bandeja sobre a mesa e sair, obrigado Jingyi.

-O mestre Qiren disse que preciso esperar para levar de volta, faz parte da minha punição.

Xichen suspirou pesadamente, claro que seu tio colocaria uma regra dessas para ter certeza de que ele comeria a refeição, mesmo que fosse apenas para salvar o discípulo de ser castigado. Ele colocou o livro que estava lendo de volta na estante, cobrindo o rosto com o lenço para tossir antes de ir até a mesa.

Jingyi se perguntou se era alergia a poeira dos livros, mas tudo no quarto parecia meticulosamente limpo dava até arrepios. Xichen se sentou e serviu uma tigela de sopa, tomando o conteúdo rapidamente e devolvendo os talheres para a bandeja.

-Pronto, já me viu comer, pode levar embora.

-Só isso?

Ele percebeu que havia falado seus pensamentos alto demais quando recebeu um olhar reprovador de Zewu-jun.

-Eu vou me retirar. Até a noite Zewu-jun.

O mais velho acenou com a cabeça sem prestar atenção, voltando a estante para pegar novamente o livro, somente quando a porta se fechou que ele realmente compreendeu o que o mais novo havia dito, então ele ainda voltaria. Nunca pensou que concordaria com Wei Wuxian em algo, mas seu tio era mesmo uma raposa astuta o forçando a tomar certas atitudes já que sabia da volta do jovem discípulo. Ele havia entrado em reclusão justamente porque não queria se preocupar com as aparências.

Durante a tarde ele limpou melhor seu quarto, arrumou os livros espalhados em uma pilha com as páginas mais importantes marcadas ao invés de deixá-los abertos pelo chão, se banhou, prendeu o cabelo e colocou vestes limpas. Olhando no espelho ele quase parecia com seu antigo eu, exceto por parecer terrivelmente cansado.

Quando Jingyi chegou ele já estava preparado, guardou o livro na estante e se sentou atrás da mesa para comer rapidamente e se livrar do rapaz. Jingyi também não via a hora de sair dali. Ver Zewu-jun naquele estado, parecia que ele estava tocando em algo muito frágil e que com certeza quebraria considerando seu histórico de quem não consegue lidar com coisas delicadas. O rapaz passou a tarde inteira pensando no que havia visto de manhã e mesmo que agora a noite as coisas pareçam mais arrumadas, a melancolia no olhar de Zewu-jun não tinha desaparecido.

O líder de seita pegou um prato de arroz e comeu até a metade, depois metade do prato de legumes e tomou o caldo quente. Jingyi sabia que essa era a sua deixa para se levantar do lugar em que estava sentado, na lateral da mesa, mas em sua pressa de executar a ação, acabou pisando em sua meia com o outro pé e quando foi dar um passo caiu para frente por cima da mesa.

Zewu-jun agiu rapidamente para evitar que o rapaz se queimasse com a comida, ele passou o braço por baixo do peito do rapaz e o puxou para o lado, mas com isso Jingyi veio para cima dele e caiu por sobre seu peito, fazendo um barulho alto ao chutar a mesa.

Jingyi tinha fechado os olhos e esperado a queda, ele devia saber que tudo estava indo certo demais para sua sorte de merda e que algo tinha que dar errado, ele só não imaginava que daria tão errado. Cair nos braços de Zewu-jun não era o problema maior. Pior que isso, foi sentir algo macio sob os seus lábios e quando abriu a boca para respirar sentir que aquilo também se moveu.

Zewu-jun segurou os ombros do rapaz e o empurrou para longe, seu cérebro ainda não tinha sido capaz de processar o que aconteceu e nem o de Jingyi pelo jeito, porque ele encarava Zewu-jun com os olhos arregalados e os lábios entreabertos, os mesmos lábios que...

Ele não podia continuar com esse pensamento, foi apenas um acidente, somente isso, nada demais. Seu coração não concordava e pedir desculpas faria parecer que eles realmente fizeram algo. O melhor era fingir que nada aconteceu. Xichen empurrou mais o menino para que saísse de cima dele, o que Jingyi fez apressadamente, se sentando novamente enquanto tentava acalmar o coração acelerado, ele realmente tinha? Não, claro que não, foi um acidente bizarro. Zewu-jun nem olhava na cara dele, devia estar furioso, será que era melhor se desculpar?

Xichen recolheu os livros que caíram no chão e recolocou a mesa no lugar, por sorte a comida caiu apenas dentro da bandeja e não havia mais sopa para derramar.

-Você já pode ir.

No entanto, o rapaz não se mexeu, deixando Xichen nervoso. Jingyi respirou fundo e se curvou, tocando o chão com a testa.

-Por favor me perdoe Zewu-jun, minha falta de cuidado causou um acidente desse tipo, irei tomar mais cuidado da próxima vez.

-Não se preocupe, apenas vá.

Jingyi se sentiu culpado pelo cansaço na voz do homem, não deve ter sido fácil para ele receber Jingyi duas vezes no mesmo dia, ninguém além de Sizhui conseguia passar muito tempo com ele e até mesmo o amigo tinha limites. Com sorte ele pediria a Qiren para trocar o castigo, mas será que ele preferia mesmo copiar as regras da seita pela milionésima vez?

-Boa noite Zewu-jun.

Assim que saiu do quarto o ar frio da noite fez seu corpo estremecer, com sorte isso acalmaria seu coração e o calor que sentia devido a adrenalina dos eventos anteriores. Xichen não teve tanta sorte em se acalmar, ele tocou os lábios tentando se lembrar da última vez que beijara alguém, aquilo foi um erro porque uma lembrança levou a outra até ter uma espada fincada no peito de seu melhor amigo.

O sono não veio facilmente ao contrário, o que assolou o homem foi um calor inexplicável, ele sempre foi bom em controlar o que sentia, mas não conseguia parar de pensar no beijo, nos lábios do rapaz e no que mais poderia ter. Não era correto, ele repetiu para si mesmo, mas sua imaginação seguia por um caminho muito perigoso, seus pensamentos eram tão realistas que logo ele precisou de alivio para a tensão em seu corpo. Sua mão escorregou para dentro das calças e rapidamente cuidou disso, não queria manter aqueles pensamentos incorretos em sua mente nem mais um momento. Somente depois de gozar imaginando a boca do rapaz foi que ele conseguiu adormecer.

O melhor e o pior Lan - XiyiOnde histórias criam vida. Descubra agora