Falar é preciso

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Harvey ficou pensando no que ela disse, intrigado, irritado e não ia deixar isso barato. Foi em direção à sala dela, entrou, fechou a porta de vidro e apoiou os dois braços em cima da mesa dela.

H: então quer dizer que a tal regra de não me envolvo com quem eu trabalho só servia pra mim?

D: Harvey, eu não quero falar disso. Você me provocou e eu retruquei, só isso.

H: não importa Don, eu quero saber.

D: olha Harvey, depois daquele fatídico beijo que eu te dei e de tudo aquilo que aconteceu eu resolvi que nunca mais vou guardar coisas ou mentir pra você. A regra na verdade nunca existiu, foi a maneira que eu encontrei pra me proteger do que eu senti depois da nossa longa e intensa noite juntos. Não sei se você percebeu, mas o Stephen era da empresa e ainda assim eu fiquei com ele. Thomas é cliente, eu não deveria, mas resolvi me jogar de cabeça. Usei dessa regra idiota pra me proteger de você e, até um certo ponto, deu certo.

H: Como assim até um certo ponto?

Donna ficou de pé e virou de frente para a janela de vidro, de costas pra ele – deu certo até eu pensar que algo entre a gente poderia acontecer, quando você disse que me amava na minha casa e depois disse que não era nada disso. Tive uma ponta de esperança e você matou, na unha. Aí, depois de muito ouvir do Louis, do Mike, que precisava dar uma chance ao que sentia eu te beijei e nunca fui tão maltratada na vida, nossa... então enquanto essas coisas não aconteciam, até que a tal regra fictícia funcionava.

Nisso ela vira de frente pra ele, com os olhos cheios de água.

Harvey fica desnorteado, coloca as mãos no bolso e olha pra ela – Já pedi desculpas pela forma que te tratei, eu tirei a Paula da minha vida porque ela queria me afastar de você, sei que nunca fui adiante com a gente mas ver você desse jeito me faz pensar que isso não foi superado e que você ainda está magoada comigo.

D: não é mágoa. Só não aguento você fazendo brincadeirinhas com a tal da regra como se ainda estivéssemos vivendo há mais de 10 anos, como se tudo isso não tivesse acontecido. Enfim, Harvey. Não, não tem regra. A única que eu sigo agora é ser feliz, com quem quer me fazer feliz

H: com o Thomas?

D: quem sabe com ele... não sei do futuro. Donna deu um suspiro e se afastou, querendo encerrar a conversa.

H: aquele dia que você me beijou e eu te beijei de volta, afinal eu não sai correndo ou te empurrei, eu nunca me senti como naquele dia. Foi uma mistura de coisas, um medo do que eu senti...

Ele passa as duas mãos no rosto e senta na cadeira em frente à mesa dela. Apoia os cotovelos na mesa e começa a falar com o rosto virado pra baixo

H: e você não sabe mas o que mais me deixou pirado, descontrolado e estúpido com você, depois do beijo, foi porque até você parar, eu tava gritando por dentro que eu precisava mais daquilo do que jamais imaginei e fiquei surpreso quando você parou e eu queria mais, não queria que você parasse.... e só quando você saiu da sala eu lembrei da Paula e veio a raiva de mim... mas até então eu estava adorando...apesar da minha falta de coragem idiota de te dizer isso..

Quando ele levantou o rosto ela tava sentando na cadeira dela, de frente pra ele, incrédula com o que ele disse...

D: você nunca parou pra pensar como teria sido tudo diferente se você tivesse me dito que sentiu isso?

H: mas vc me disse que não sentiu nada!

D: e você acreditou!! Harvey, eu beijei você dentro do escritório enquanto você namorava outra mulher e conhecendo bem o seu histórico de traição. Meu Deus, você acreditou mesmo que eu fiz aquilo e não senti NADA? Você fala do Louis mas é tão alienado quanto. Pelo amor de Deus....eu me expus, me entreguei, me coloquei como prioridade e ouvi coisas horríveis...

Ela respirou fundo, se mexendo na cadeira a cada palavra que saltava da boca dela.

D: Você foi egoísta e insensato. Mas eu resolvi esquecer isso porque eu gosto demais de você pra romper com a nossa história por causa da sua fraqueza..

H: Wow, calma. Eu fui fraco, sim, mas não quero mais ser.

D: não é isso que você tem me mostrado... falar de regra, agora? Ah, por favor..

Harvey levanta da mesa com raiva – olha Donna, eu te entendo e sei que estraguei tudo algumas vezes mas eu confesso que não esperava uma conversa tão..é, sincera como essa. Quero dizer que eu torço por você e se o Thomas for o cara certo eu ficarei muito feliz por você... apesar de me achar pronto pra você...apesar de tudo

D: como assim, pronto?

H: pronto pra ter você do meu lado do jeito que eu sempre quis e nunca tive coragem de falar. SIM, o Thomas teve que entrar na sua vida pra eu perceber isso, mas é isso! Quando vocês entraram no elevador ontem eu perdi o chão. Eu torço por você mas te ver com ele me destruiu e eu nem sei como estou te contando isso assim...

Donna ainda com os olhos marejados vira pra ele e se aproxima e coloca as duas mãos nos braços dele – você é um filho da puta Harvey Specter. Espera aparecer uma nova oportunidade pra mim pra chegar e vomitar tudo isso na minha cara. Olha, sinceramente...

Ela sai andando da sala e ele fica lá, parado. Mas algo acontece dentro dele e vai atrás dela.

H: Donna, eu quero continuar a contar tudo que nunca contei. Quero deixar de ser o babaca que eu sempre fui. Tão fodão com os clientes, nos tribunais e tão fraco quando o assunto é você.

Ele falou isso no meio do corredor, algumas pessoas ouviram e ela ficou vermelha de vergonha.

D: Hoje, oito horas, na minha casa a gente conversa sobre isso, definitivamente.

H: eu levo o vinho.

Ela saiu andando e ele ficou parado ali, pensando em tudo o que diria mais tarde.

Verdades sinceras me interessamOnde histórias criam vida. Descubra agora