Meus demônios internos

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- Ele não vai assinar - dizia uma mulher com a voz alterada.
- Não custa tentar - alguém a respondia.
- Pirralho nojento, deveria ter morrido junto com os pais - dizia a mulher.

Park Jimin ouvia tudo sentado atrás da porta do quarto, trancado, sozinho.

Ele já não chorava mais, não tinha mais lágrimas, não tinha mais forças, ele não se importava mais, ele também achava que deveria ter morrido junto com os pais, ele queria ter morrido junto com os pais.

Ele sentia falta do toque delicado da mãe, sentia falta do cheiro de cigarro que o pai exalava, o cheiro que a mãe tanto reclamava, mas mesmo assim o beijava, com amor, havia amor ali.

HAVIA, porque tudo chegou ao fim no dia 5 de maio, seu pai dirigia, sua mãe estava ao lado, Jimin sentava atrás, ouvindo música, no fone tocava " Sam Smith - Fire on fire" música que ele gostava muito, sua mãe também gostava.

A pista estava escorregadia, primeiro Jimin viu um clarão, depois um impacto, e depois não viu mais nada.

Seus pais morreram, o deixando sozinho, Jimin chorava, aquele pobre menino chorava muito, era filho único, e agora estava sozinho, nesse mundo onde todos são cruéis e só pensam em si.

Quem iria se importa com ele agora? As outras pessoas estavam ocupadas demais pensando em si. Pobre Jimin, ele não sabia, mas tudo iria piorar.

- Abra a porta Park Jimin - berrava a mulher ao lado de fora.

Jimin abriu, era aquela mulher, a mulher que quis a sua guarda, a mulher que o agredia psicologicamente e fisicamente todos os dias, sua própria tia.

- Assine esse papel Jimin, agora - ela dizia brava.

Jimin não se mexia, não falava, nem ao menos levantava a cabeça para ver o rosto daquela mulher horrível.

- Estou falando com você Park Jimin, porque você não abre a porra dessa boca? - Ela dizia agarrando o rosto de Jimin com força.

Naquele momento alguém entrou no quarto, era o cúmplice dela, seu tio, ambos interesseiros e cruéis, queria toda a herança de Jimin, ele era filho único, seus pais eram donos de muitas propriedades, ele podia cuidar de tudo sozinho, afinal já tinha 20 anos, fazia faculdade de administração, era inteligente.

Mas sua tia conseguiu sem lá como, exames que mostravam que Park Jimin tinha problemas psicológicos, naquela época ele não tinha, mas de tanto sofrer nas mãos da sua nova "família", Jimin sofria de ansiedade, depressão e síndrome do Pânico.

Jimin não falava mais, e nem pretendia falar, ele só queria morrer, morrer e voltar para o colo quente e reconfortante da mãe.

- Vamos Sun, ele não vai assinar, a gente deveria deixar ele sem comida hoje? - dizia o homem.

- Muleque nojento, porque você não assina essa droga de papel? Você já está praticamente morto - Ela dizia rindo e olhando para Jimin sentado no chão gelado daquele quarto.

- Você não pode cuidar das propriedades dos seus papais - Ela dizia debochando e rindo - Você deveria ter morrido Jimin, ia ser bem mais útil.

O casal saiu do quarto deixando Jimin sozinho, humilhado. Ele não sabia se estava realmente vivo ou tinha morrido e ido para o Inferno. Às vezes ele pensava que estava apenas em um pesadelo e que a qualquer momento iria acordar.

Ele queria muito acordar.

Depois de muito tempo jogado no chão, Jimin se levanta e se olha no espelho. Ele não parece ele, estava sujo, magro, triste. Ele não era assim.

Antes, Jimin era atlético, feliz e principalmente limpo, naquela época, Jimin tinha família, pequena, mas era uma família perfeita, ele os amava muito.

Jimin sentou-se na cama, ele não sabia que dia era, ou que horas era, ele não saia do quarto, a porta não era trancada, ele só nao quería sair.

O silêncio daquele lugar doía o coração frágil de Jimin, naquela noite ele chorou, chorou de saudades, chorou de culpa, chorou porque teve mais uma crise de Pânico, e chorou sozinho.

O teto era o mesmo de sempre e mesmo assim ele o olhava toda a noite, esperando que o teto despenca-se sobre ele.

Ele queria morrer, e já tinha tentado muitas vezes, cordas, facas, remédios, e nenhuma vez teve sucesso. Ele chorava todas as vezes que falhava.

Ele sentia fome, mas como já havia passado outras noites com fome, tinha se acostumado.

As horas passavam, e Jimin permanecia na mesma posição, olhando o teto do quarto cinza.

Naquele dia o céu chorou, não aguentava mais vê aquele pequeno anjo sofrer, choveu muito naquela noite, o céu estava muito triste também.

No quarto havia goteiras, várias. Jimin se levantou e colocou os baldes onde pingava e voltousse a deitar, ele não dizia nada, nem suspirava alto, só se podia ouvir a chuva e os barulhos de pingos nos baldes.

Certas dores amenizam quando se tratada com amor, mas Jimin não tinha amor, como ele iria se curar?

✞ O garoto do sótão ✞Onde histórias criam vida. Descubra agora