Naquela noite, Jimin não conseguia dormir. Só pensava o quanto era infeliz e o quanto sentia raiva de si mesmo.
Até que ouviu barulhos vindo do andar de baixo, não se importou pois seus tios sempre discutiam sobre dinheiro e poder.
Jimin tentava dormir se virando de um lado para o outro, mas sem sucesso, o barulho estava demais, e os pingos nos baldes também estavam.
Por fim ele desistiu, iria dormir quando o sono viesse, não iria insistir, afinal ele nunca foi um garoto insistente.
As horas passavam e nada do barulho do andar de baixo parar, a chuva já tinha ido embora e os baldes já cheios transbordava.
Jimin então se levantou para jogar a água dos baldes fora, já estava molhando o chão, não que ele se importasse, por ele o quarto podia inundar, mas por alguma razão quis jogar fora.
Os barulhos do andar de baixo pararam e Jimin já exausto se deitou novamente e dormiu.
Naquela noite, Jimin sonhou com a mãe, ela sorria, e dizia que o amava muito, ele sonhou com outras coisas também, sonhou com um rapaz que ele nunca tinha visto, mas ele não prestou muita atenção, não era importante.
Já era de manhã, a luz entrava entre as brechas da janela. Jimin abriu os pequenos olhos com dificuldade e se levantou da cama.
Pegou uma roupa limpa no guarda roupa, sua escova de dente e foi em direção ao banheiro.
Despiu-se e foi em direção ao box do banheiro, não tinha água quente, sua tia dizia que ele não era digno de algo tão valioso, então naquela manhã fria, nem ao menos o calor da água foi dado a ele.
Com a água fria correndo em seu pequeno corpo, ele pensava, e chorava, seu corpo estava magro e doía pelas vezes que tinha apanhado da tia.
Estava faminto, e sua barriga roncava, até que ouviu um barulho vindo do seu quarto.
- Cadê você seu muleque? Se não sair para tomar café vai ficar com fome - dizia seu tio.
Jimin saiu apressado do chuveiro, ele estava com fome, e mesmo que não gostasse de olhar para a cara daqueles velhos imundos, ele não iria recusar.
Saiu do box, se secou e colocou sua roupa, ele não penteava os cabelos e nem ao menos passava perfume, ninguém iria ligar de qualquer forma.
Saiu do seu quarto e desceu as escadas, foi em direção a cozinha e viu seus tios saindo da mesa, eles não comia sentados com Jimin, dizia que ele os faziam perder a fome.
Jimin não achava ruim, muito pelo contrário, ele preferia comer sozinho mesmo.
Ele sentou-se a mesa e começou a montar seu prato, na mesa tinha morangos, Jimin amava morangos, mas não podia come-los, afinal ele não era digno, e o morango era dos seus tios.
Jimin pegou uma laranja, um pão e colocou um pouco de café na xícara, ele odiava café, preferia leite, mas ele não podia tomar leite também, então para não se engasgar com o pão, tomava café mesmo.
Comeu rápido, queria voltar para o quarto, colocou duas maçãs escondidas no bolso da calça e voltou para seu lugar favorito.
Pegou as maçãs no bolso e começou a comer, seu pai amava maçãs e ele também. O pequeno rezava para que os tios não sentissem falta das duas maçãs, ele não queria apanhar novamente.
Quando se deu conta, Jimin estava aos prantos, lembrava como era o café da manhã na sua casa quando seus pais ainda eram vivos, tinha de tudo, bolos, pães, geleias, muitos morangos e Jimin podia comer vários.
Jimin sorriu, mas não era um sorriso de felicidade, era um sorriso de "eu sou uma piada", ele ria e ria alto, nunca precisou roubar nada e hoje tinha roubado duas maçãs que eram de seus tios.
Ele se sentia humilhado, derrotado.
Foi em direção a cama que ainda estava desarrumada e deitou-se novamente, ainda era cedo mas Jimin já tinha pensamentos suicidas.
Agora ele chorava porque deveria ter pego uma faca na cozinha.
Aquele pequeno rapaz sofria todo dia, todo minuto, todo segundo, sua vida era infeliz, a dor era demais e parecia infinita.
Ele se questionava se Deus o mandaria para o inferno se ele cometesse suicídio. Ele achava que não, porque Deus via o quanto ele sofria, mas depois achava que sim, Deus o mandaria para o inferno.
Será que o Inferno era melhor que aquele lugar? E se fosse pior? E se ele se arrependesse?
Ele se perdeu em seus pensamentos, e voltou a olhar para o teto.
De repente sua tia invade o quarto com os mesmos papéis de antes na mão, Jimin não sabia do que se tratava e nem iria assiná-lo.
- Olha aqui sua praga, é a segunda vez que venho aqui, assina logo esses papéis - Dizia Sun olhando para o Jimin deitado na sua cama.
- Você não vai assinar? - Ela perguntava brava.
Jimin não dizia nada, e nem se mexia.
Sun se aproximou do Jimin, levantou o mesmo da cama e começou a bater no rosto angelical do garoto.
Ela batia sem pena, e ele não esboçava nenhuma reação, sim, aquilo doía, muito, mas ele não sentia mais dor, ele não sentia nada.
Ela batia cada vez mais forte, e gritava, gritava que Jimin era nojento, que ele era sozinho, nada que Jimin já não soubesse.
Depois de se cansar, Sun saiu do quarto e deixou Jimin caído na cama, ainda sem reação.
Jimin se levantou e foi ao espelho, olhou seu rosto no reflexo, seu rosto todo vermelho, sua boca sangrava, um olho estava inchado.
Jimin socou o espelho, não ligava se aquilo lhe daria azar, ele já nem sabia mais o que era sorte, chegou a pensar se um dia teve.
Sentou sobre os pedaços de vidro no chão, desolado, cansado, a alma dele doía.
Passou horas sobre os pedaços de vidro, rezando, pedindo perdão a Deus.
Em meio as orações, lágrimas caíam, ele já estava no seu limite, não acreditava que Deus visse ele naquele estado e não fazia nada para ajudá-lo.
Levantou irritado e foi tomar outro banho, frio, como a vida dele.
Ele clamava socorro.
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✞ O garoto do sótão ✞
Fanfiction"Eu não sou uma pessoa ruim" repetia Jungkook para si mesmo, carregando o corpo desacordado de Park Jimin.