𝑃𝑎𝑟𝑡𝑒 𝐷𝑜𝑖𝑠

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𝕷𝖚𝖒𝖔𝖘 

Os dias que precedem o pico de lua cheia passam tortuosamente lentos e Sirius desejava um vira-tempo, para que o tormento de Remus acabasse logo. Não aguentava mais ver o amigo em frangalhos pelos cantos, quase se arrastando de aula em aula. E ainda, como Monitor, tinha mais um milhão de responsabilidades em suas mãos. Não entendia por que Dumbledore o deu esse cargo, sabendo de sua condição.

Talvez tenha sido justamente isso. Mostrar à Remus que ele era tão normal quanto os outros alunos, mesmo sendo um lobisomem. Ainda assim Sirius achava uma ideia ridícula. No momento, Black, sentado no grande Salão, observava o rosto pálido e abatido de Remus, que fitava seu prato de comida intacto em uma expressão de nojo.

— Cara, você precisa comer... vai acabar desmaiando por aí. Há dois dias só te vemos comendo torradas no café da manhã.

O outro bufa, pegando o garfo dourado sem ânimo.

— Eu sei.

— Se quiser, Sirius e eu podemos invadir a enfermaria e roubar um daqueles tônicos da Madame Pomfrey... — James murmura, com a boca cheia.

— Não! Já disse que não quero que fiquem roubando coisas por aí — leva um pedaço de torta de rins à boca e dá um sorriso forçado. — Viu? Estou comendo.

— Acho que seu apetite foi transferido para o Peter... — Lily diz, torcendo o nariz quando o loiro enfia uma quantidade anormal de pãezinhos nas bochechas gordas.

— O quê? — pergunta, com a voz abafada.

Os outros riem e Wormtail dá de ombros, voltando a atenção para seu prato cheio de coxas de frango.

O Salão é abafado pelas conversas animadas dos estudantes, sob o teto escuro iluminado com velas flutuantes - e que agora já mostra alguns flocos de neve solitários começando a cair. Faltam poucos dias para vinte e um de dezembro, quando o inverno de fato chegará, então o clima se torna um pouco mais rigoroso. Os garotos discutem a próxima partida de Quadribol, contra a Sonserina, e James se mostra particularmente ansioso. Mal pode esperar para subir em sua Nimbus 1001 e acabar com as serpentes.

Peter concorda, entusiasmado, e os dois engatam numa conversa sem fim sobre as melhores performances de Potter. Sirius assente de forma mecânica para as palavras do amigo, pois sua atenção está voltada à Remus, que se levanta da mesa e segue para a Torre da Grifinória antes mesmo da sobremesa, murmurando que vai dormir um pouco mais cedo.

— Você acha que ele vai ficar bem? — Sussurra para Lily ao seu lado. A ruiva dá de ombros, seguindo Moony com os olhos verdes preocupados.

— Talvez você devesse ir até lá... ele parece pior do que nas outras vezes.

Sirius assente, dando uma última golada em seu suco de abóbora antes de se levantar e correr por entre as mesas, sem se despedir dos outros. Sobe as escadas e entra no buraco do retrato para a Sala Comunal vazia, já que todos ainda estão no jantar. No dormitório, não encontra Remus, mas ouve um ruído ecoando do banheiro.

Se aproxima da porta e cola a orelha na madeira, escutando o que é sem dúvidas alguém vomitando. Torce o nariz, se afastando um pouco. Espera até o barulho da descarga para entrar. Moony está sentado dentro de um dos boxes, com os joelhos flexionados e os dedos enfiados em seus cabelos castanhos despenteados. Sirius engole em seco, se aproximando aos poucos.

— Estou bem, só... me deixe sozinho — a voz fraca e rouca preenche o banheiro silencioso.

— Me desculpa — Ignorando seu pedido, Sirius se senta no lado de fora do box, encostando-se na parede fria, fitando as pias de porcelana em sua frente.

sᴏʟᴇᴍɴʟʏ  (𝑤𝑜𝑙𝑓𝑠𝑡𝑎𝑟)Onde histórias criam vida. Descubra agora