JACK

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_ Sou Jack, tenho 26 anos. Estou aqui porque fui obrigado. Tanto faz se têm gente nova aqui, não quero aprofundar no assunto. Vou ser breve. Alguns aqui me conhecem e sabem que tenho ansiedade. Uma coisa não tão grave como minha mãe imagina, ela acha que sou um pouco obsessivo-compulsivo. Nada considerável. Tomo remédio controlado. E como sei que vão perguntar se estou bem, respondo: melhor do que nunca - é o que sempre digo e devo dizer, caso contrário, enchem o saco.

Eles aplaudam e repetem sempre a mesma coisa "Muito bem, Jack! Obrigado por compartilhar com a gente". Roda de conversa chata. Ao meu lado, George se levanta e começa a falar.

_ Olá, sou George. Tenho 30 anos e tenho déficit de atenção e... a minha mãe que me trouxe aqui. Mas vou voltar pra casa sozinho. - George William não tem o TDAH tão elevado, não causa tantos prejuízos. Por isso o tratamento dele é através de um auxílio terapêutico. É complicado conversar com ele, a falta de foco me incomoda tanto.

_ Como está a relação com sua mãe, George? - o terapeuta tenta conversar com William.

_ Quando chego em casa meu cachorro pula de alegria e começa a lamber meu rosto.

_ Ok, George. Como você está se sentindo neste momento? - o terapeuta pergunta. Mas, George não responde e sai rapidamente.

_ Tudo bem, senhor Dumont. Já está na hora de irmos embora. Nos vemos em Setembro - Aline pega sua bolsa e beija sua testa.

_ Mas, Aline. Estamos em Fevereiro! - grita Dumont, porém, Aline já havia fechado a porta - Nos vemos na Segunda-feira. Tenham um bom dia.

Todos se levantam e saiam. Quando penso em sair, Dumont me chama. 

_ Jackson! Preciso ter uma conversa.

_ A roda de conversa já está encerrada - tá na cara que é sobre meus sentimentos. Odeio falar sobre.

_ É particular. - sento novamente na cadeira.

_ Sobre o quê? - finjo demência.

_ Andei conversando com Jackeline...

_ Eu sei.

_ É notável que a terapia não está funcionando.

_ É o que sempre digo.

_ Decidi que nossas conversas serão particulares. Vi que você é...

_ Introvertido. Sei disso. Não gosto de falar sobre o que faço, sobre meus sentimentos, se minha alimentação é saudável, se estou tomando meus remédios ou se penso em suicídio! - talvez tenho alterado o tom da voz quando disse "remédios". Odeio o gosto. Odeio remédios. Odeio Leonard.

_ É isso que falta! É necessário falar sobre seus sentimentos. Eu quero ajudar.

_ Que tal não cuidar da minha vida e preservar seu casamento? Só estou aqui por minha mãe. Então vamos tornar as coisas mais fáceis.

O terapeuta Dumont é loucamente apaixonado por Aline Johnson. E viciado em sexo. O ditado "um é pouco, dois é bom, três é demais." se encaixa perfeitamente à sua figura. Mas creio que para ele esse "demais" não seja um problema e sim algo espetacular. Pobre Katherine, sua linda esposa.

Levantei da cadeira. Quando coloquei a mochila nas costas preste a sair sinto alguém me olhar. Olho para o canto direito da sala. Jeniffer Arruda, a garota que encara todo mundo. Estava encostada na parede perto da saída. Nunca entendi o objetivo dela com essa encarada tensa, talvez ela queira fazer medo. Por mim, ela é uma psicopata que deveria estar no manicômio.
Sem desviar olhares, dou um sorriso fraco no canto esquerdo. Com a mão direita executo continência. Prestes a sair, óbvio, tiro sarro.

_ Pelo visto ouviu tudo. 

_ Idiota.

_ Mas você não é de bisbilhotar. Está esperando eu sair pra dar uma trepada com Dumont.

_ Nossa! Como você descobriu? - cheirinho de sarcasmo.

_ Esse seu rostinho não nega - ela suspira profundamente e levanta o dedo do meio. - Por favor, só não faça na minha cadeira.

_ As cadeiras são compartilhadas - com o dedo levantado, começa a chupar lentamente. Que nojo.

Caminho lentamente em direção a porta, seguro a maçaneta gelada e abro. Enfim, liberdade! Estava farto daqueles malucos.

Começo a andar nas ruas. O tempo está frio.

_ Deveria comprar um carro. Estou congelando - ponho as mãos em forma de concha e começo a soprar ar quente.

_ Puta que te pariu, olha por onde anda, porra! - ouço um cara gritando no outro lado da rua. Quase acontecera um acidente, um motorista babaca gritando com um mendigo.
Vou até ele e dou uns trocados.

_ Obrigado, jovem. São raras as pessoas como você. Eu vou comprar um café.

Café? Estou louco para beber. Logo vejo uma lanchonete bem na minha frente. Entrando, experimento uma sensação de aquecimento do local. Sento no banco e peço um café preto e amargo. Sinto alguém preste a passar pela porta. Caralho! O estúpido do motorista que xingou o mendigo. E lá vem ele, sorrindo para um cara sentado na mesa, se cumprimentam. Sem pensar duas vezes, me levanto. Coloco a mão direita no bolso do meu casaco, rapidamente, vou em sua direção e saco a arma.

Eu atiraria, mas não sou maluco o suficiente de matar uma pessoa. Ainda mais no meio de tanta gente. De qualquer forma, nem arma eu tenho. É, eu tenho uma imaginação fértil.

_ Aqui está o seu café sem açúcar com...

Ouço sirenes. Olho para fora e vejo viaturas. Todos começam a sair, também vou sem beber o café, sei que a moça pôs leite. Odeio leite.
Observo um corpo no chão. Que merda aconteceu aqui? Escuto alguém gritar.

_ Foi ele! Eu vi.

Quando olho para trás, um policial e o idiota do motorista.

_ Ele matou o pobre mendigo. Pessoas como você não deveriam existir! - o motorista grita com euforia me acusando.

_ Põe as mãos para o auto! - o policial direciona a arma em mim. Começou a revistar todo o meu corpo - você está preso!

_ O quê?! Eu não fiz nada.

_ Covarde! Atirou na cabeça dele, pobre homem - o motorista me olhou com amargura... nem cheguei a beber meu café amargo.

_ Mentira! Você quase o atropelou. Foi ele, polic...

Quando me deparo com uma arma que o policial acabara de tirar do bolso do meu casaco, sinto minha respiração baixar, ouço apenas meu coração. Tomo a arma dele rapidamente e atiro no motorista. E em apenas questão de segundos, uma bala vem em minha direção. E diante dos meus olhos, percebo que nada é real.

Meu café...

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⏰ Última atualização: Jul 23, 2021 ⏰

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