Águas do Leste

Capítulo Único

O verão ainda caía quente sobre Westeros no ano 54 depois da Conquista de Aegon. No leste em Pedra do Dragão, a Sede Ancestral da Casa Targaryen, era hoje habitada por uma corte menor e bem menos imponente do que a do Rei Jaeharys e da rainha Alyssane em Porto Real. Rhaena, a primogênita do Rei Aenys, e a neta mais velha do Conquistador, que já fora rainha duas vezes, uma com o seu irmão-marido Aegon o Sem Coroa e posteriormente com seu tio, que usurpara o trono de seu primeiro marido, Maegor o Cruel. Hoje habitava o leste, quando outrora fora conhecida como a Rainha do Oeste, quando residia no castelo Faircastle do falecido Lorde Farman, seu sogro, hoje o título pertence a seu nada amigável cunhado.

Seu marido, Androw Farman, era um segundo filho de um pequeno senhor, nada digno de uma mulher duas vezes rainha, mas ela não se importava. Sequer partilhavam a mesma cama, a única pessoa que valia tudo aquilo, casar-se com um segundo filho de um senhor menor, morar de favor na Sede Ancestral de sua Casa concedida por seu irmãozinho, que tomara seu direito de promegenitura, era sua nova favorita: Elissa Farman.

Para a corte de Porto Real, ela nada mais era do que sua cunhada, uma mulher que usava vestes de marinheiro, já puídas por conta da água salgada, mas para ela, Elissa era seu sol. Brilhante como só o sol do Oeste pode ser. Ela nunca admitiria isso, não era esse tipo de mulher, não se dobrava a sentimentalismos nem quando o assunto eram suas filhas, mãe ou irmãos caçulas, estes rei e rainha.

E foi com esses pensamentos que Rhaena seguiu seu caminho a procura de sua favorita, passou no pátio para cumprimentar Dreamfyre, sua amada dragão-fêmea. O animal pareceu entender o objeto de sua procura, pois seu longo pescoço serpentino apontou para o norte, o lugar mais ermo da ilha.

-Você nunca me decepciona. -Acariciou o animal no queixo e seguiu para o norte do Monte Dragão.

Aquela parte da ilha não era frequentada nem pela guarnição do castelo, mas Elissa insistia em ir ali, as vezes até levava Aerea. Rhaena não conseguia ter uma boa relação com a própria filha, Aerea, mas Elissa parecia não ter dificuldade alguma de se aproximar da criança. Perdera a conta de quantas vezes já vira sua filha em estado hipnótico ouvindo Elissa contar uma história mirabolante qualquer.

Dessa vez sua favorita estava sozinha, sentada em uma grande pedra cizenta, olhando na direção em que ela estava. A pedra era muito alta, a mais alta de um círculo de pedras igualmente cinzas, umas mais altas outras mais baixas, aquelas que ficavam mais próximas do mar tinham o quinto do tamanho da que Elissa estava, mais próxima à terra, rodeada por uma escada irregular de rochas arredondadas. O cercado de pedras estava parcialmente cheio de água, pois aquela hora a maré começara a subir. Quando seus olhos se encontraram o fogo do dragão queimou sua pele, Elissa estava uma visão, seus cabelos loiros queimados de sol, os olhos azuis tão claros que era possível se ver refletida, a fizeram ferver de excitação. Seu semblante ainda estava levemente contrariado da conversa que haviam tido, o que a atiçou ainda mais, ela era uma rainha e como tal tomava aquilo de quê gostava.

-Vossa Graça. -Cumprimentou-lhe mas seu olhar foi para o chão.

-Estava a sua procura, você sempre se isola neste lado da ilha.

-Então minha rainha sabia onde encontrar-me. -Seu tom formal entregou sua irritação. -O isolamento é bom para refletir, ao menos, é o que dizem os meisters.

-Deve ter sua verdade, se não eles não se isolariam para forjar correntes. -Encurtou o espaço que as separavam a distância de um braço.

-Em quê posso ser útil à Vossa Graça? -Seu tom era indiferente.

-Me servindo como você já faz. -Beijou-a voluptuosamente.

Elissa resistiu nos primeiros instantes, não retribuindo o beijo, mas depois se rendeu, desunindo os lábios e dando passagem a sua língua sedenta. Sedenta, fora assim que ficara desde que a mulher em seus braços se mostrou contrariada, ela não hesitaria em tê-la mesmo que em fúria, e se fosse franca, assumiria que esse ar de indiferença a excitava. Reis, por mais que não admitissem, gostavam de ser provocados para então mostrar seu poder sem reservas.