Brenner gostaria de saber se estivesse avaliando a si mesmo: homem, 1,85 metro, 88 quilos, branco. O resto: genialidade, QI, potencial… infinitos. — Fomos informados sobre sua visita — acrescentou o soldado. — Dr. Martin Brenner — corrigiu ele, com calma. O guarda espiou o interior do carro, direcionando seu olhar não a Brenner, exatamente, mas ao banco de trás, onde a paciente Eight, de cinco anos de idade, dormia toda encolhida, espremida junto à porta, com as mãos fechadas sob o queixo. O cientista preferiu supervisionar o transporte dela para o novo prédio por conta própria. — Claro, dr. Brenner — disse o guarda. — Quem é a garota? Sua filha? Um clima de desconfiança pairava no ar. Eight tinha um tom de pele bem escuro, contrastando com o tom pálido e leitoso da dele, detalhe que Brenner poderia alegar que não significava nada. Mas o guarda não tinha nada a ver com isso, e, além do mais, ele não estava errado. Brenner não era pai de ninguém. Figura paterna, sim. Para todos os efeitos, sim. — Acredito que estejam me esperando lá dentro. Brenner analisou o homem mais uma vez. Um soldado que regressara de alguma guerra passada, uma guerra que tinham vencido. Ao contrário do Vietnã. Ao contrário da escalada silenciosa contra os soviéticos. Já estavam engajados em uma guerra pelo futuro, mas aquele homem não sabia disso. Brenner manteve o tom amigável. — Recomendo não fazer perguntas após a chegada dos demais pacientes. É confidencial. O guarda pareceu não gostar do conselho, mas relevou. Seus olhos se voltaram para o complexo de diversos andares que se estendia diante deles. — Sim, estão à sua espera lá dentro. Pode estacionar em qualquer vaga. Outra coisa que nem precisava ser dita. Ele seguiu com o carro. Uma repartição federal burocrática e tediosa havia pagado pela construção e manutenção geral das instalações, e outros braços do governo, braços secretos, tinham arcado com as despesas para equipá-lo segundo as especificações de Brenner. Por ser ultrassecreta, a pesquisa não podia ser divulgada. A Agência compreendia que grandes feitos nem sempre podiam seguir procedimentos-padrão. O governo russo podia até saber tudo que acontecia em seus laboratórios, mas era o primeiro a calar as vozes que se