Decisão

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Jasmine Stuart

      O sol já estava terminando de se pôr quando passei correndo pela entrada da minha casa. Abri a porta com cuidado e analisei toda a sala. Se eu tivesse ido pela porta dos fundos todos os empregados me veriam molhada e descabelada e eu seria dedurada em questão de segundos, todos eles eram leais ao meu pai.

      A porta do escritório estava fechada e a da biblioteca entreaberta. Eram as únicas portas que ficavam no pequeno corredor após a sala. Avancei alguns passos e parei. Olhei em volta mais uma vez e prossegui.

      Já estava chegando na escada quando a porta da biblioteca se abriu completamente e um Cristian muito sério me analisou dos pés à cabeça.

- Achei que já estivesse pronta para o jantar da recepção do imperador. - Falou ele num tom contido.

- Desculpe, tive um imprevisto depois que sai...

- Não é como se eu não soubesse o que você faz quando acha que todos não estão olhando, irmãzinha. - Cristian me encarou como se estivesse lendo minha alma e cada reação no meu rosto, e naquele momento a única coisa que eu conseguia sentir era medo... Porque eu o conhecia o suficiente para saber que ele não me entregaria a papai tão rápido. E seu silêncio teria um preço. - Suas atitudes inconsequentes não vão te dar a liberdade que você tanto deseja, muito pelo contrário.

     Eu não conseguia dizer nada. Estava paralisada de pavor. Papai com certeza me manteria trancafiada até o Baile de Apresentação e entregaria a minha mão em troca de uma aliança com alguém próximo à Coroa. Do meu ponto de vista era uma barganha injusta, mas para papai e meus irmãos era uma forma de me manter segura do perigo que nos cercava.

- Óliver está voltando. Suba e esteja pronta para o jantar. Irei com o Conselho recepcionar o imperador e voltarei para acompanhá-la. - Disse meu irmão checando o relógio no seu pulso. - Você tem um minuto para subir sem que papai te veja.

      Não esperei ele dizer mais nada, continuei o caminho até meu quarto.

- Jasmine. - Parei no meio da escada ao ouvir meu nome. Mas não tive coragem de olhar para trás. - Está na hora de parar com esse teatrinho de menina injustiçada e se portar como a mulher que foi treinada para ser. Nós não nos deixamos levar por desejos egoístas e mesquinhos. Sacrifícios são necessários!

      Assenti e continuei subindo com lágrimas nos olhos. Ele tinha razão. O próprio Cristian abriu mão de muita coisa para estar onde estava e ser quem era. Ao pisar no último degrau pude ouvir a porta do escritório ser aberta e fechada alguns segundos depois.

- Vamos. - Era a voz de papai. - E Jasmine?

- Acabou de chegar. Teve um contratempo com as outras mulheres na organização e se atrasou um pouco. Não se preocupe, voltarei para acompanhá-la.

- Está bem. - Disse papai. - Então vamos indo!

      Ouvi quando a porta da frente abriu e fechou. Permaneci parada no corredor por alguns minutos enquanto as lágrimas desciam.

      Nenhum de nós jamais teria o que sempre sonhou. Papai nos ensinou desde criança que o interesse e o bem estar do povo sempre viriam em primeiro lugar. Éramos os filhos do general representante, então tínhamos que aceitar de bom grado o destino que nos era oferecido.

      Despertei dos meus devaneios tristes, enxuguei as lágrimas e fui para o meu quarto me arrumar para o bendito jantar. Cristian estava certo. Sacrifícios eram necessários e eu precisava me preparar para fazer os meus.

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