~A Menina e seu Dragão~

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Por eras, os dragões foram as feras mais temidas por toda e qualquer criatura viva dessas terras. Os únicos que ousavam enfrentá-los eram os seres humanos. Com o passar das décadas, eles combateram e subjugaram as ferozes bestas, levando-as a quase extinção.

Haviam muitos poucos agora, a maioria procuraram lugares inóspitos para se refugiarem de seus caçadores. Porém, a raça mais pura de dragão é orgulhosa e egoísta, tomam para si tudo que acham de seu direito. Assim era Kandsmar, o grande e velho dragão vermelho que habitava uma caverna nas montanhas. Ao longo de sua vida, a fera acumulou um enorme tesouro e, junto a essa riqueza, a ira e cobiça dos humanos.

Um pouco mais além do sopé da montanha, o centenário dragão viu o povoado de Nuberga crescer, tornando-se, pedra por pedra, um dos mais influentes reinos de todo o continente. Enquanto seu suntuoso castelo ostentava a bonança de seu reinado, as suas enormes muralhas intimidava seus inimigos, impondo todo o poder militar do Reino de Nuberga. Quase como se estivessem desafiando a serem atacados.

De tempos em tempos, o rei orquestrava ataques a caverna de Kandsmar, a fim de matar a besta e reivindicar seu tesouro. O exército nubergo vinham em números cada vez maiores, com escudos que os protegiam das labaredas do dragão, flechas e catapultas para alvejá-lo no ar e muitas outras armas para feri-lo quando aterrissasse.

O dragão já havia se habituado às batalhas e aos ferimentos, mas o último ataque havia o deixado muito ferido e exausto. Por muito pouco ele não foi derrotado, porém a fera se negava a se deixar abater por reles humanos. Com cortes ainda sangrando arrastou-se cansado, para sua duna de ouro e joias onde adormeceu profundamente.

Ao despertar - somente no dia seguinte - a criatura ouviu uma canção. A música ecoava por toda a caverna. Num instante o dragão levantou a cabeça, em prontidão para cuspir fogo e defender-se, mas uma voz ordenou que ficasse quieto. Perplexo, o dragão olhou para a minúscula criatura que estava ao seu lado. Aquilo tivera audácia de dar-lhe uma ordem?! Esse filhote de humano é corajoso ou tolo demais para chegar tão perto! No fim, corajoso ou tolo, não fazia tanta diferença, as duas coisas levavam a morte.

A criança humana era pequena e franzina, ele poderia facilmente engoli-la inteira, mas a menina não parecia saber disso. Estava tão relaxada ao lado da fera quanto estaria ao lado de um animal doméstico. O dragão rosnou para afugentá-la, ele já havia devorado soldados demais e ainda estava indigesto. A criança, de tão pequena, não serviria nem para sobremesa. Contudo, o rosnado não teve o efeito esperado, olhando feio para Kandsmar a pequena ralhou:

-Fique parado! Ou não vou sarar seus machucados.

Foi só então, olhando mais atentamente, que a besta notou que a humana passava uma pasta verde em seus ferimentos, a mistura de fato aliviava sua dor. A menina era inofensiva e o dragão decidiu ignorar sua presença, ele deitou novamente a cabeça e voltou a cochilar, enquanto a menina continuava a cantarolar sua canção.

Aparícia, a criança humana, trabalhou por mais algumas horas, devido todo o tamanho e quantidades de ferimentos da besta. O dragão era gigantesco se comparado a menina, tendo que escalar o animal para conseguir passar o remédio em todas as partes que ainda sangravam. Em nenhum momento sequer, a ingênua criança pensou no quão perigosa era a fera da qual tratava. Aparícia estava com pena de Kandsmar, só pensava no quanto devia estar doendo todos aqueles machucados. E em como seria desconfortável dormir em cima desses objetos que formavam seu tesouro.

Quando por fim terminou, o grande dragão dormia profundamente, não acordaria tão logo. A menina desceu a montanha colhendo plantas e ervas medicinais, pois esse era o motivo original de ter subido e, por acaso, encontrado a caverna de Kandsmar. A criança morava numa pequena casa de pedra e com telhado de palha, fora dos muros de Nuberga. O pai trabalhava numa pequena plantação - juntamente com os irmãos mais velhos da menina - de onde tirava a maior parte do sustento da família. A mãe era o que chamavam de curandeira, fazia remédios naturais para quase toda enfermidade. Aparícia ajudava e aprendia com a mãe.

A Menina e seu DragãoOnde histórias criam vida. Descubra agora