PRÓLOGO

94 0 0
                                    

Aquele dia ficaria para sempre registrado em sua memória. O acontecimento abrupto a qual fora acometido lhe gerara um medo excessivo. Levando a mão ao peito pôde notar o coração ainda a bater. Pulsava descontrolado.

Quando desligou-se o telefone do outro lado, ficara completamente atordoado. Não sabia mais ele em que pensar, o que fazer.

O olhar incrédulo transpassava a vidraça do prédio da Companhia, rumo ao horizonte infinito à sua frente. Considerava tudo. Seu reflexo distorcido na vidraça - devido aos pingos de chuva que teimavam cair – inquietava-o. A ameaça de chuva era uma possibilidade quase certa. Sentia as lágrimas que corriam de seus olhos e rolavam pela extensão de sua face, para depois caírem sobre seu peitoral, umedecendo também a gola do terno preto de linho fino, feito a encomenda para o dia de seu casamento – um dia lindo, inesquecível.

Talvez, fosse possível sentir o mundo respirar e exalar as suas dores. Bem... as do mundo talvez não, mas, as suas, estas sim, estavam presentes e melancólicas. Inquieto pelo escritório pôs-se a locomover-se de um lado a outro. Preocupado estava, angustiado. Dirigiu-se ao banheiro, pois precisava molhar a face. Abriu a torneira, encheu as mãos d'água e mergulhou o rosto nelas de maneira insistente. Queria acordar. Em seguida, levantou a fronte e viu a imagem no espelho a confrontá-lo. Titubeou. Restituiu-se. Sentiu-se acuado.

"Não é possível! Como me achou?" – pensou.

Encontrava-se atônito. "Jamais imaginei que isso pudesse um dia vir a acontecer".

Abriu novamente a torneira levando água ao rosto. Tentava inutilmente despertar deste absurdo.

"Será um sonho ou um pesadelo sem fim?" – perguntava ao homem no espelho.

Retornou à sala e viu-se ao centro. Mudo ficou e impotente. As mãos sobre a cabeça meio que alisavam-na. Passado alguns minutos, o ambiente fora tomado por um silêncio irritante, absoluto. Ele ouvia as batidas de seu coração acompanhadas do som dos pingos de chuva que teimavam ainda chocar-se contra a vidraça formando uma melodia.

"O que está acontecendo comigo agora?"

Suas bases foram sacudidas naquele exato momento. E, estavam profundamente comprometidas pelo abalo sísmico que esta ligação provocara.

O ponteiro do relógio de parede, feito de madeira nobre e importado da Europa, aparentava cravar-se, impedindo assim seu trabalho habitual. Teve a leve impressão de que abrira-se um portal no tempo e de que este houvera sido congelado por forças estranhas. Tudo perdera o sentido. Ficou supérfluo. Sua instabilidade emocional atrelou-se ao receio.

Sentiu a respiração pesar, permaneceu estático. Pôs as mãos à garganta, em função da escassez de oxigênio que teimavam não entrar em contato com os pulmões.

As batidas de seu coração produzira uma marcação descompassada, numa aceleração crescente advinda do momento a que fora submetido. Percebeu a temperatura de seu corpo cair de maneira brusca.

"Meu corpo está sofrendo um processo estranho. Estou em ebulição? O que faço?" – não entendia absolutamente nada que acontecia.

"Porcaria. Quem sou, afinal?". Precisava de ar puro. Correu à janela para abri-la.

"Uffa! Inspire... Expire... Inspire... Expire..."

Duvidava do que ouvira.

"O sangue nas veias, juro que fervem. Não consigo raciocinar. Não é possível".

Gritos que possibilitavam extravasar seus sentimentos mais profundos emergiram ali, e ecoaram corredores adentro.

"Nãaaaaaaoo...

O abandonoOnde histórias criam vida. Descubra agora