CAPITULO IV

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A família "Souza" vem de uma origem humilde e precária. Moradores do interior de uma cidade pouco movimentada. Povo sem estudo algum.

Os avós de Emanuel, cedo se casaram e moravam de favor em casas emprestadas ou nos empregos que ofereciam direito à moradia. Na maior parte destes lugares – chácaras ou pequenas fazendas – trabalhavam como caseiros. Algumas vezes, recebiam para morar e cuidar do local, em outras, mal cediam o lugar onde habitar.

O casal teve quatro filhos. O primeiro, não se tem notícias mais. É o mais velho. Depois que chegou na adolescência sumiu no mundo. O segundo filho faleceu ainda muito novo, mal sabia andar. Falecera devido a precariedade com que viviam e a escassez de condições financeiras para se tratar doenças simples de recuperação. A jovem mãe de Manoel é a terceira filha do casal, e na sequência, três anos após vem Raimunda, a caçula.

A pobreza desta família era a realidade mais difícil de se encarar e de ser superada. Sem apoio de ninguém era extremamente complicado, para eles, ascender na vida financeira, sobreviviam na miséria extrema.

As duas jovens solteiras, a mãe de Emanuel e Raimunda ainda menores em idade, saíram do interior para tentar a vida na cidade grande. Lugar com mais oportunidades para alguém crescer na vida. Quem sabe por lá também encontrariam o irmão fugido – a mãe era pega várias vezes a chorar calada e solitária o sumiço de seu primogênito.

"Porque esse menino fugiu de nós?" – resmungava a senhorinha.

Novas, recém-chegadas à capital, sem muito dinheiro, se instalaram em locais de moradia barata, pagando aluguel em casebres mais em conta e conseguiram emprego que lhes rendiam uma certa renda, o suficiente para pagarem as despesas e mandarem umas migalhas que sobravam para os pais que ficaram no interior.

Não havia nem um ano de sua chegada no grande centro urbano, e estas foram surpreendidas pela triste notícia de que seus pais vieram a falecer.

...

Com a ajuda de alguns amigos e vizinhos, os pais das jovens, conseguiram um dinheirinho para chegar até onde as filhas se encontravam instaladas. Mas, o ônibus que pegaram para visitar as filhas na cidade grande desgovernou-se, pois falharam os freios numa curva perigosa e este terminou chocando-se de frente numa carreta que transitava no sentido oposto da pista. A colisão fora fatal para o casal de idosos. Somente eles faleceram no acidente. Não resistiram aos ferimentos e morreram horas depois no hospital público da região onde ocorrera o acidente.

...

Em choque, as duas filhas, gastaram todas as economias e ainda tiveram de arrumar algum emprestado para darem conta de pagar os dois funerais e depois conseguirem regressar à cidade grande novamente. Adquiriram uma dívida enorme que a tragédia causou. E teriam a partir dali de trabalhar muito tempo para quitar a dívida adquirida.

Após regressarem a sua vida habitual, começaram a sentir o peso de estarem sozinhas neste mundo.

"Nossos pais morreram" - a mais velha pensava - "Nosso irmão mais velho também sumiu. Não temos mais ninguém com quem contar. Agora, o jeito é nos virarmos sozinhas".

Se antes tinham esperança de prosperar, de crescer na vida na cidade grande, a sina dali pra frente seria simplesmente quitar as dívidas e esperar o que o destino determinasse que viesse. Sem estudos, sem família, pobres e solitárias, estas donzelas precisariam lutar e muito, para alcançar seus objetivos se quisessem romper a barreira da pobreza e da necessidade.

A vida não estava sendo mãe, antes madrasta, com as duas. Exigia destas seu sangue, que era derramado no suor de suas labutas e exploração de seus empregos, e principalmente com a morte dos pais. Restava-lhes, assim, apenas tentar sobreviver dignamente.

Tinham ainda esperança de encontrar o irmão sumido pela cidade. Sempre andavam atentas e analisam todos que encontravam pela frente. Nas ruas, nos becos, nas calçadas, nos semáforos, pois quem sabe o irmão não estaria por ali, a mendigar para tentar sobreviver. Estavam de posse de uma fotografia que a mãe guardara e virara uma espécie de amuleto, um tesouro precioso. A mãe persistia na esperança de reencontrar o filho. Ela queria entender por que ele fugira de uma casa que só lhe oferecia amor.

"Só lhe dei amor. Não entendo?!"

O abandonoOnde histórias criam vida. Descubra agora