Nervosa

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Após alguns segundos Larissa assumiu um olhar indiferente, como se aquilo não lhe atormentasse tanto assim. Mas no fundo eu sabia que sim, mesmo sem conhecê-la bem. Era visível seu olhar disperso e quebrado.

Ela me encarou e analisou meu rosto por alguns segundos, cheguei até a ficar vermelha e tímida. Ela era intimidadora...

-Larissa: Ta envergonhada espanhola? - questionou debochada com um sorrisinho de canto.

-Ohana: Você é burra ou se faz? - questionei irritada por ela aparentemente nunca ser racional.

-Larissa: Só gostei de irritar você. - ela disse divertida. - Quer dizer alguma coisa? Aproveita o embalo. - ela disse após alguns minutos.

-Ohana: Só que você está fedendo a bebida e a sexo. - eu falei a olhando, e ela me encarou.

-Larissa: É... eu to mesmo. - ela falou após alguns segundos se retirando da mesa e subindo as escadas rapidamente.

Eu estava sozinha...

Mauro havia saído para o trabalho após a discursão. Miriam estava no escritório da enorme casa enquanto trabalhava, Felipe lia um livro na varanda de frente para o jardim e Renan estava trancado no quarto a alguns minutos.

Passei pela porta dos quartos e pude ouvir o barulho do chuveiro ao parar um pouco próximo ao quarto de Larissa. Andei mais um pouco e próximo ao que eu estava, pude ouvir alguns soluços e um choro baixo. Renan me conquistou no primeiro momento que o vi, e se precisasse de mim, eu estaria disposta a dá-lo apoio.

Bati na porta algumas vezes e sua voz rouca soou me deixando entrar.

Entrei no quarto escuro iluminado apenas pela pequena fresta da janela meio aberta pelas cortinas amarelas. Mesmo com dificuldade avistei o garoto sentado ao chão, com a cabeça entre as pernas enquanto abraçava-as. Ao seu lado tinha uma blusa feminina, e o perfume era exalante... parecia o estilo de Larissa.

-Ohana: Ei... - falei baixinho ao sentar-me ao seu lado, em uma posição parecida.

Toquei suas costas em um carinho leve e o moreno apenas apoiou a cabeça em meu ombro sem me deixá-lo ver. Ficamos ali por alguns minutos enquanto ele chorava baixinho...

-Ohana: Quer tentar falar? - questionei ao ver que poderia ajudá-lo, afinal estar na adolescência e ter diversos problemas comuns já é frustrante, quanto mais guardando um passado doloroso.

-Renan: Eu odeio a forma como meu pai fala com ela, por mais que ela mereça. - ele disse rouco. - E eu acabo fazendo igual...

-Ohana: É.. foi pesado. - eu disse meio falho. - Mas ela chega sempre assim?

-Renan: Foi uma das razoáveis. As vezes ela chega pior, bêbada e sem controle, até parece aquela velha Larissa porquê com o álcool ela perde essa personalidade impropria. Mas aí quando chega o outro dia, tudo volta. - ele disse desabafando. - Costumei a ajudá-la de madrugada a tomar banho e a deitar na cama tentando ganhar um tempinho com ela. Mas isso nunca muda...

-Ohana: Talvez ela precise de tempo... - eu disse aleatória, não sabia ao menos como conforta-lo.

-Renan: Tem dois anos que damos tempo a ela. - ele disse sorrindo triste. - Todos os dias é isso, e ultimamente ela vem esquecendo nossos aniversários, as festas de família...

-Ohana: Como tudo isso começou? Naquela foto ela parecia feliz... - questionei confusa, relembrando.

-Renan: Eu não sei... meus pais nunca me deixaram saber. - ele disse disperso.

Eu apenas assenti, dizendo que ia ficar tudo bem e ele retribui dizendo que esperava.

Após ele se acalmar mais, decidi sair do quarto e dar espaço para que ele estudasse. Então me direcionei ao quarto que me disseram para chamar de meu... entrei na sacada e lá de cima pude ver Larissa sentada em um banco próximo à piscina enquanto fumava um cigarro. Ela parecia desatenta e quieta... como se as palavras ainda ocupassem sua cabeça.

Assim que levantou e jogou o objeto no chão pude ver seu corpo bem desenhado. Coberto agora apenas por um short moletom e um top preto da adidas. Ela realmente era linda... eu não poderia ousar negar. Parecia um corpo desenhado, escultural. O abdômen bem definido, as pernas torneadas e as costas bem marcadas.

Ela me olhou com um sorriso fraco e eu corei rapidamente entrando no quarto.

(...)

Desci as escadas após algumas horas e percebi a casa vazia, então fui até a geladeira buscar água. Enquanto bebia pude ouvir os leves passos e implorei para que não fosse a morena. Não queria encara-la nunca mais desde que ela me pegou secando-a da sacada.

-Larissa: Olha só... - ela disse provocativa ao me ver.

Aproximou-se da cozinha ficando bem perto de mim, me olhando nos olhos. A morena rapidamente tomou o copo das minhas mãos ao me ver estática, elevando-o a boca e ingerindo o líquido que eu havia posto recentemente.

-Ohana: Você é sempre estressante assim? - perguntei irritada.

-Larissa: Com você sim. - ela respondeu com um sorriso divertido.

A morena se afastou de mim, desviando o olhar e indo em direção a mesa para por o copo e mesmo que eu tentasse evitar, meu olhar sempre repousava em seu corpo.

-Larissa: Você gosta de mulher né? - ela questionou séria ao perceber que eu a olhava. - To sentindo seu olhar, intercambista.

-Ohana: Não, eu sou hétero. - respondi rapidamente. - E eu tenho nome. - disse irritada.

-Larissa: Se você é hétero eu sou a Alice no país das maravilhas. - ela disse provocativa se aproximando ainda mais me deixando vermelha. - Nem você acredita nisso.

Eu era hétero, tinha absoluta certeza disso. Ela só me deixava nervosa por ser diferente... - pensei.

-Ohana: Não era você que não queria contato comigo a partir da porta? - questionei tanto mudar de assunto.

Ela me olhou intensamente, me analisando com aquele olhar intimidador, senti meu corpo arrepiar assim que ela tocou meu braço com lentidão.

-Larissa: Viu, você não é hétero. - ela disse sorrindo me tirando do transe. - Ta nervosa, loirinha?

Apenas tirei sua mão do meu braço e recuei um pouco, fazendo ela sorrir como se brincasse em me provocar e incompreensivelmente meu corpo respondia ao contrário. Eu não sentia nada quando estava perto dela, mas meu corpo reagia estranhamente.

-Felipe: Deixa ela em paz, Larissa. - Felipe falou calmo ao me ver estática, fazendo a irmã sorrir.

-Larissa: Ok... - ela disse por fim, saindo da cozinha.

A encarei quando subia as escadas, e ela apenas deu uma piscada de olho e uma mordida de lábios me fazendo ficar tímida e corada novamente. Revirei os olhos e ouvi o riso fraco de Felipe...

-Felipe: Ela é sempre assim. Não cai não... - ele pareceu avisar.

-Ohana: Eu não gosto de mulheres... - falei séria, por que ninguém acreditava em mim?

-Felipe: Não é o que seus olhares dizem. - ele finalizou antes de sair pela porta principal me deixando sozinha novamente.

𝕴𝖓𝖙𝖊𝖗𝖈â𝖒𝖇𝖎𝖔 Onde histórias criam vida. Descubra agora