Larissa:
Mesmo que eu mantivesse silêncio, Gizelly me encorajou bastante. E enquanto eu voltava para o quarto ao seu lado, sua voz a minutos atrás ainda me rondava... "abra a carta"
Eu sentia medo do conteúdo que pudesse estar ali. Sentia medo de Ohana ter desistido, ou de ser um alguém inesperado enquanto eu nutrisse a necessidade de ser ela.
-Larissa: E se não for ela? - questionei impulsiva assim que tive reação ao ver Gizelly tocar a maçaneta.
-Gizelly: E se for o amor da sua vida esperando que você leia? - ela insistiu. - Eu sei que seus sentimentos estão aflorados e que a insegurança aí dentro está dominadora. São consequências temporárias, mas tenta não cair nessa...
Assenti e ela por fim me deixou sozinha naquele quarto vazio. Caminhei em lentos passos até o envelope que se mantinha no mesmo lugar a alguns dias... respirei fundo e mentalizei que aquilo era apenas a insegurança aflorada devido a abstinência tanto quanto meus outros sentimentos.
Meu dedos deslizaram lentamente tocando o papel e retirando e a carta impressa de dentro.
"Oi meu amor, espero que esteja bem, e principalmente que leia isso. Fico feliz que tenha tomado a decisão certa, e sim, estarei aqui te esperando desde que não desista de nós. Também não sou boa com cartas, afinal nunca nem se quer me dispus a escrever uma, mas me sinto bem fazendo isso com você.
Sei que está difícil, e ainda mais por está passando isso "sozinha". E sinto muito por isso... aqui também tem sido difícil, e só aumenta quando penso em tudo, involuntariamente ou não, sempre estou. Esses quilômetros "infinitos" tornam tudo pior... mas eu só quero que não esqueça, apesar da maior distância que chegue a existir entre nós... Eu vou te amar incansavelmente...
Ass: Ohana Coutinho Lefundes"
Um sorriso involuntário tomou conta dos meus lábios e através daquela curta carta eu senti um apoio imenso. E confesso que aquilo me aliviou durante a noite... que provavelmente seria ainda mais confusa caso não tivesse coragem o suficiente de ver tudo que estava escrito ali.
(...)
Ohana:
Meus pais ainda estavam na sala e eu me via num impasse, ir ou não ir até eles? Estava com coragem de soltar tudo de uma vez, mas ao mesmo tempo incerta sobre suas reações.
Em um pico de adrenalina me vi caminhando em direção a eles que me deram espaço no sofá entre os dois. Eles voltaram a dar atenção para o que passava na tela, ao contrário de mim que não conseguia para quieta ao lado deles ou ao menos acompanhá-los me entretendo no mesmo.
-Mauro: O que você quer? Não para de se mexer... - meu pai perguntou paciente assim que se deu por vencido ao meu comportamento diferente.
-Ohana: Eu quero conversar... com vocês. - falei rapidamente em um tom baixo.
-Ivana: E por qual bendito motivo não disse logo, ao invés de ficar se mexendo o tempo inteiro? - minha mãe perguntou com um sorriso confuso e meu pai desligou a TV enfim, os dois me dando devida atenção.
Ficamos em silêncio por alguns minutos enquanto minha mãe acariciava minha mão me transmitindo confiança e meu pai ao lado, deliberando paciência.
-Ohana: Pode ser complicado pra vocês, e eu entendo porquê é algo novo. - eu disse com a voz arrastada e os olhos marejados. - Mas eu sou a mesma pessoa de sempre, com o mesmo caráter e raciocínio.
-Ivana: Está nos deixando preocupados... - minha mãe disse incerta antes de olhar nos olhos do meu pai e encarar-me novamente.
O homem ao meu lado, que me tratava com o maior carinho do mundo se aproximou o pouco mais apoiando a cabeça em meu ombro e entrelaçando sua mão a minha mão livre que se mantinha inquieta devido ao nervosismo.
-Ohana: Eu juro que tentei não sentir isso, mas foi impossível, não tive escolha, não existe escolha. Eu cheguei na Califórnia e... eu pensei que só seriam um período de estudos. Mas eu me apaixonei e agora não tem como controlar...
Meu pai sorriu fraco e tocou meu queixo o fazendo encara-lo.
-Mauro: Filha, tudo bem... pessoas se apaixonam e é normal.
-Ohana: Eu sei que é normal, pai. Mas... - eu me calei ficando em silêncio novamente, não conseguia falar.
-Ivana: Uma menina? - minha mãe sugeriu após alguns segundos, e seu timbre era tão calmo, tanto quanto era impossível imagina-lo.
Assenti em silêncio e meu pai segurou minha mão com maior firmeza ao me ver assentir.
-Mauro: A mesma dona daquele moletom vermelho que trouxe consigo... - ele disse baixo e eu confirmei. - Ele tinha um cheiro diferente, não era seu e sabíamos disso.
-Ivana: Vimos também a proteção que vem tendo com essa correntinha... - minha mãe disse calma tocando a corrente prata. - A forma que as vezes dorme segurando ela, ou o moletom como se trouxesse esse alguém para perto.
Eu sorri em meio a algumas lágrimas e eles me abraçaram de lado.
-Mauro: Tudo bem amar uma menina, desde que seja recíproco. Que tenha lealdade e respeito acima de tudo. - ele disse paciente.
Eu me mantive estática enquanto ouvia suas palavras em silêncio.
-Ivana: A conhecemos? - minha mãe questionou sorrindo curiosa e eu peguei o celular que havia posto sobre a mesa de centro.
Desbloqueei a tela rapidamente e acessei a galeria na nossa pasta de imagens, das quais tínhamos várias. Abri aquela foto qual tiramos no passeio de balão na cidade vizinha a San Diego...
-Ohana: Eu a pedi em namoro, aqui... - disse mostrando a foto e meu pai sorriu bobo enquanto analisava.
-Ivana: Então é a garota que eu ensinei fazer pizza. - minha mãe disse sorrindo. - Fico feliz que seja a Lari.
-Mauro: Ela é uma boa pessoa, pelo que podemos ver nas ligações. - meu pai disse convicto. - Simpática e bastante comunicativa.
-Ohana: Eu não imaginava essa reação de vocês... - falei sorrindo ainda com algumas lágrimas.
-Ivana: Não importa com quem esteja, só queremos que te respeitem e seja feliz.
Meus pais não sabiam dos vícios de Larissa, e por um momento eu pensei até que seria melhor assim. Mas eu tinha certeza de que ela não gostaria de omitir as coisas, muito menos eu que não queria ou aceitaria contribuir com isso, por mais que fosse algo pessoal dela, me envolvia pois estávamos atualmente juntas.
-Mauro: Mas porque esse olhar frustrado esses dias, o mesmo de agora... - ele falou sério.
-Ohana: Ela está passando por momentos difíceis digamos assim... - respirei fundo. - A Lari é viciada em drogas e alcoólatra. - vi meu pai olhar torto e um pouco de frustração tomar seu rosto. - Mas ela decidiu pagar o tratamento em uma clínica da Califórnia, está passando por reabilitação e ficará internada por alguns meses. Ela já está lá a exatamente 3 semanas... - eu expliquei.
-Mauro: Ainda bem que ela procurou ajuda. Tenho certeza que a incentivou de alguma forma...
-Ohana: É... eu contribui com isso. Mas queria que vocês não a julgassem por isso, ela teve motivos e está enfrentando eles.
-Ivana: Não vamos julgá-la, Ohana. Não temos o mínimo de direito pra fazer isso. - minha mãe me confortou paciente.
-Mauro: Mas e a distância entre vocês?
-Ohana: Eu não sei quando vou vê-la... - eu disse baixo.
Passamos mais algum tempo em silêncio e antes que eu voltasse para o quarto, minha me segurou meu braço.
-Ivana: Se algum dia ela pensar em visitar o Brasil, avise-a de que ficaremos felizes em recebê-la. Como oficialmente sogros... - ela disse com um sorriso radiante e eu sorri de volta.
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𝕴𝖓𝖙𝖊𝖗𝖈â𝖒𝖇𝖎𝖔
FanfictionComo planejado, por Ohana lefundes, estava prestes a fazer seu intercâmbio diretamente para San Diego na Califórnia. Ficaria na casa de uma família que se dispôs a hospedá-la durante 2 anos, período do qual ficaria no curso de dança californiano...