CÉU IRRITANTEMENTE AZUL

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Tudo na minha vida sempre partiu da minha imaginação. Desde criança, passava horas imaginando histórias na minha mente, paisagens, pessoas e personagens. Eu chegava até conversar com meus amigos imaginários em voz alta, e de vez em quando, eu era pega pelo meu irmão mais velho fazendo isso. Ele achava um pouco engraçado, mas nunca me julgou por causa das minhas maluquices, meu irmão sempre foi uma pessoa complacente e justa, de nunca julgar as pessoas, e é muito tolerante, com as brincadeiras dos outros.

Nunca entendi a origem desse seu bom caráter, já que nossos pais não são do tipo, aqueles pais modelos dos filmes de hollywood, talvez eles fossem, daqueles pais dos filmes que estão sempre trabalhando, sem tempo para os outros. Acredito que essa realidade fez o meu irmão amadurecer mais rápido para tomar conta de mim, no meu caso, me fez trancar cada vez mais em próprio mundo.

Há pessoas que se adaptam mais as dificuldades da vida, a superam e se tornam seres humanos melhores, e há tipos como eu, que ficam presos entre os caos da vida, e são incapazes de se sobrepor. Não sei se preso é a melhor forma de expressar o sentimento, e não sei se devo dizer o caos da vida me fez me tornar do jeito que sou, posso ter nascido assim, destinada a ter essa minha personalidade. O fato é que eu não tenho sentimentos, nenhum sequer pelos outros. Não sei se já cheguei a sentir saudade, e a me apaixonar de verdade, embora na minha mente, isso já tenha acontecido várias vezes. Mas não na realidade, porque eu não me importo com as pessoas que estão ao meu redor. Vivo no meu mundo, nos meus livros e tudo o que crio para mim mesma.

Tenho amigos, mas nunca os procuro, nunca conto sobre meus momentos de solidão e abismo. Nunca conto o quanto me sinto sozinha. Nunca conto o quanto as vezes sinto que preciso encontrar pessoas que realmente me entendam, que sejam iguais a mim, que na minha cabeça, penso que meus amigos são insuficientes, e que os tenho porque não tenho mais ninguém.

Mesmo vivendo nessa solidão, ela me assusta. Me faz querer ir atrás das pessoas, fazer com elas substituam essa presença assustadora na minha vida. É para isso que tenho meus amigos, para eles preencherem esse vazio, essa existência. Em troca, sou a melhor amiga do mundo, faço tudo para que eles sejam felizes, os escuto e os estimo com todo o afeto que se possa imaginar, afinal, a vida é sobre trocas, dar e receber.

E tenho medo que no momento que eu começar a agir egoisticamente e dizer não para eles, que eles me deixem. Eu sinceramente, não saberia o que fazer se tivesse que dividir o resto da minha vida com a solidão. Será se as pessoas que estão ao meu redor, percebem essa realidade? Acho que o sorriso brilhante que eu dou para as pessoas todos os dias, engana muito bem.

- Sofia, em que tipo de história você está entretida agora? Não prestou atenção em nada do que eu falei todo esse tempo. Meu irmão fala, com a mão na cintura.

- Me desculpe, disse alguma coisa? Respondo. Eu realmente não escutei nada do que ele falou, pensando sobre mim mesma. Na maioria das vezes, quando eu estou imaginando histórias e as pessoas estão falando comigo, eu simplesmente concordo com a cabeça, e continuo sorrindo, isso as faz pensar que estou prestando atenção nos seus monólogos, enquanto desvio minha mente para outras coisas. A verdade, é que algumas pessoas são absurdamente chatas, e não aguento ouvir o que elas dizem, e não escuto.

- Eu estava te perguntando, se está tudo bem para você se eu for dormir na casa da minha namorada hoje. Ele disse, me passando um pão com manteiga, que ele preparou para mim;

- Obrigado. Digo após pegar o pão. -E não me importo nem um pouco. Na verdade, que tipo de irmão pergunta isso? É natural você dormir na casa da sua namorada, e passar um tempo om ela. Se você fosse um irmão normal, simplesmente iria para lá durante a noite e voltaria somente no outro dia, com a maior cara limpa, e eu, ficaria calada no sofá, assistindo filmes sem perceber a sua ausência. Respondo. Ele passa um copo cheio de café com leite.

ALGUÉM QUE NUNCA SENTIUOnde histórias criam vida. Descubra agora