Nossas mãos ficaram dadas por minutos até nós percebemos que estavam juntas, e delicadamente soltarmos uma das outras, com um toque suave entre nossos dedos. Não importamos com a situação, qualquer que fosse o significado ou a a falta dele, nós sabíamos que não seríamos capazes de machucar uns aos outros.Não podíamos ser magoados, e não nós importávamos se o outro fosse, essa era a nossa relação. Assim, passamos devagar pela portaria sem sermos parados.
Éramos dois alunos de prestígio com boas notas, todos na escola sabiam de nosso êxito e bom futuro. Ninguém se importaria de fechar os olhos para os nossos erros. A escola era bem um ambiente do qual nossas escolhas eram respeitadas e tínhamos a liberdade de ser o que quer que fosse. Eles de certa forma, confiavam em nós. ironicamente, essa situação me deixou com vontade de voltar. Porque fazer algo errado que nem mesmo era considerado assim?
- Pensei que fugir da escola fosse mais emocionante como nos filmes, sair correndo pelo corredor ou receber uma ligação falsa dizendo que alguém morreu para sair da escola. Isso é chato. Falo para Caio.
Ele sorri.
- É a nossa primeira vez fugindo, acho que eles nos deram esse desconto. Não deve ser fácil na segunda vez.
- Isso me faz querer ter uma segunda vez. Respondo.
- Só é emocionante se imaginarmos que essa será a única. Ele diz.
Concordo com a cabeça. Mas no fundo, sinto que ele me disse para não ter esperanças de uma segunda vez. Essa seria a única. Me convenci a ser a mais divertida que fosse, para lhe dar uma boa memória do dia. Eu queria retribuir o favor. É contra minha natureza ser do tipo de garota divertida capaz de deixar o dia de alguém mais brilhante, pois não sou carismática e espontânea.
Pode parecer ser um ato de pura espontaneidade estar aqui fora da escola com ele. Mas só vim porque pensei racionalmente a respeito. A aula de agora é redação e a próxima filosofia; não serei castigada caso esteja fora da escola, Caio é bonito e também parece saber se divertir, talvez eu tenha uma memória inesquecíveis. É por isso que estou aqui. Devido a todos esses elementos, não pela a loucura do momento. Essa sou eu.
Atravessamos a rua da escola, em direção a avenida que passava em frente a um quarteirão. Nela estava uma rua comercial, com lojas de departamento e de construção, ao lado de escolas de inglês e de outras línguas. Era uma rua larga e limpa, com árvores no meio das duas vias da avenida. Os carros moviam rapidamente, e paravam na luz do semáforo. Caio e eu atravessamos a avenida, em direção um pequeno bairro com casas e algumas lanchonetes, sorveterias e mercadinhos. Não parecia o ambiente perfeito para uma aventura fora da escola.
Ao meio da rua que levava a parte mais movimentada do bairro havia também uma praça com alguns pessoas nela. No seu fundo, era possível ver alguns garotos fazendo manobras de skate em uma daquelas rampas que estão espalhadas nas praças. Caio me levou em direção aos skatistas por alguns momentos e ficamos observando os garotos fazerem algumas manobras. Ambos observamos os skatistas se movimentarem em uma aparente sincronia, indo e vindo com alguns momentos no ar. Eram como pássaros livres por minúsculos fragmentos de tempo.
Ao ficar entretida com as manobras e habilidades do skatistas, minha imaginação voa por uns momentos e imagino como seria se eu tivesse lá me divertindo com eles. Não demora muito para Caio acender um cigarro. Dessa vez, ele faz longas baforadas no ar e tenta fazer alguns círculos, me lembro de Gandolfe de Senhor dos Anéis. Suspiro um pouco. Eu já tinha me conformado que tinha me tornado uma fumante passiva nesse ponto. Resolvo irrita-lo.
- O nosso passeio ainda nem ficou tão chato e você já está fumando cigarro? Eu deveria ter trago o meu livro. Falo.
Ele solta a fumaça para cima.
- Eu fumo sempre, mesmo sendo chato ou não. Gosto de observar eles. Ele aponta aos skatistas.
- Sempre imaginei que você não fosse do tipo que somente observava. Falei.
- Não sei andar de skate, por isso os invejo. Eu nunca aprendi porque sempre tive medo de cair. Ele diz.
- Mas você tem vontade, de fazer as manobras como eles?
- sim, acho que deve ser incrível. Ele traga o cigarro.
O brilho em seu olhar ao dizer essas palavras me fizerem pensar em nosso contraste. Não sei se alguma vez na vida eu tinha olhado para algo dessa forma. Não, desde pequena eu não mostrava interesse por nada. Meus olhos comparados ao dele, seriam opacos.
- Eu não acho tenho vontade. Respondo.
Caio levante uma sombrancelha, com um gesto de "por quê?"- Sabe, desde criança eu nunca gostei daquilo que fosse divertido, subir em árvores, pular no pula a pula, descer no playground e me esconder no pique pega. Para mim, demandava muita energia e não compensava, pois logo acabaria. Parecia bem fútil aproveitar momentos que desapareciam.
- Isso é um tipo de forma chique de dizer que era preguiçosa? Ele pergunta.
Dou um soco de leve em seu ombro.
- O que você fazia então, enquanto todas as crianças se divertiam?
Penso um pouco.
- Eu somente as observava. Elas corriam e davam risadas, pareciam ser ingênuas e próprias para terem alegria.
- Próprias para terem alegria... Ele repete. Você não acha que todos são capazes de serem felizes ? Ele pergunta.
- Acho que cada um tem sua própria felicidade, mas alguns em profundidade demais e ou em pequenas doses. Algumas pessoas parecem ter uma aptidão maior de serem felizes. Acho que é porque não pensam demais. Respondo.
- Bem, eu sempre discordei de felicidade ao extremo, ou essa aptidão que você disse. Caio fala.- Por isso tento controlar a minha felicidade. Não a ponto de eu ser extremamente alegre,mas não tão triste a ponto de ser depressivo. Eu sempre quis ser um cara mediano,não vivendo ao máximo demais para não sofrer muito. Acho que quando nos dedicamos demais a vida acabamos nos machucando profundamente.
Me lembro de instantemente de seu medo de aprender skate.
- E você não gosta de se machucar. Completo sua fala.
Ele concorda com a cabeça. E apaga o cigarro. Novamente,pega a minha mão e leva dali.
Continuamos andando pela cidade, um ao lado do outro, fazia um pouco de frio e o ar parecia cada vez mais denso, mas aquilo não me incomodava. Sentia como estivesse andando sem rumo, de certa forma, como se estivesse entendendo a mente de Caio.
Ele não tinha nenhum lugar planejado quando me chamou para sair da escola. Ele não queria me levar à nenhum lugar. Só queria sair da escola, e acabou que eu estava com ele como companhia. Senti que eu nunca tinha visto uma pessoa de forma tão transparente como agora. Ele não se importava se eu estava me divertindo ou se era divertido. Era como se estivéssimos em duas ruas paralelas ao mesmo tempo. Caio estava me deixando ser eu mesma, eu nem ao menos precisava forçar ser divertida.
Será se ele era mais inteligente que eu pensei, será se ele sabia o que estava fazendo?Esses pensamentos iam e viam na minha mente e deixei por concluído que estranhamente nós somente completamos o modo de ser um do outro.
A medida que andávamos, eramos sugados mais ao centro da cidade, com mais pessoas e movimento. Os bairros tinham mais vidas e de certa forma mais pressa. Com tantas pessoas correndo, pareciam ser capazes de encurtar o tempo. E o tempo, parecia cada vez mais negro até que a chuva desabou encima de nós. Algumas pessoas instantemente abriram os guardas chuvas e outras começaram a correr para dentro de algum estabelecimento.Eu e Caio paramos bem no meio de tanta correria e deixamos o a chuva nos molhar. Como era um passeio não planejado, estávamos a mercê do tempo também. Se o tempo tinha escolhido a chuva, era natural ficarmos encharcados. Olho para ele com sorriso cúmplice.
- No fim, acho que não dava para fugir da escola sem fazer uma coisa totalmente Hollywoodiana. Ele diz.
- É,banhos de chuva realmente são o clímax das comédias românticas. Ironizo.
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ALGUÉM QUE NUNCA SENTIU
Teen FictionPara Sofia, tudo é uma mentira. Sua fachada de boa menina, suas amizades e sorrisos. Nada nunca a interessou a ponto de fazê-la se importar, de pedir alguém para ficar. Até uma pessoa simplesmente começar a ir e vir de sua vida.