Capítulo 1

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O dia ia de mal a pior.

As folhas amareladas que enfeitavam a copa das árvores anunciavam a chegada do outono na cidade. A brisa leve mal possuía força para balançar as folhas secas e o sol timidamente tentava se fazer presente. Era como se, mesmo que um pouco, a natureza estivesse tentando passar a sensação de que tudo ficaria bem. O contraste com o nervosismo borbulhante em seu peito seria hilário se realmente tivesse tempo para observar o cenário.

Nicolas não entendia que tipo de piada de mal gosto os deuses estavam fazendo com ele, mas estava odiando cada segundo. Suspirou aliviado quando finalmente alcançou a entrada do local que vinha procurando pelos últimos vinte minutos. Admitia que, mesmo com todas as ferramentas disponíveis, encontrar o caminho parecia uma tarefa impossível às vezes.

O que realmente importava agora era que ele estava finalmente entrando pela porta da cafeteria, sendo abraçado pelo clima agradável e o cheiro intoxicante de café. Uma das atendentes o notou quase que imediatamente, não demorando muito para se aproximar exibindo um sorriso simpático.

- Você deve ser o Nicolas, certo? Falei com você no telefone alguns dias atrás. – Disse limpando rapidamente as mãos no avental – Eu sou Yumi. – Ah sim, a gerente, notou, devolvendo o sorriso ao apertar a mão que a mulher lhe ofereceu.

A cafeteria era um lugar realmente agradável, Nicolas não sabia descrever bem se era a decoração, a arquitetura do local ou mesmo o cheiro atrativo das bebidas, mas agora entendia por que tantos universitários iam até lá e ficavam por tanto tempo.

Yumi aproveitou o pouco movimento para dar início ao treinamento. As explicações eram simples e Nicolas dava seu máximo para gravar todas as instruções que a mulher lhe passava, mas estava começando a se tornar impossível. Eram muitas coisas, muitos detalhes e Nicolas se viu prendendo a respiração inconscientemente, sufocando com a onda de informações somada ao medo de fazer algo errado logo no primeiro dia. De repente, já não tinha certeza nem de como ligar a mais simples das máquinas de café.

Talvez estivesse nervoso porque realmente queria se sair bem dessa vez. O emprego era realmente bom e Yumi fora compreensiva quando explicou sobre ser um estudante, deixando os horários mais flexíveis. Não queria decepcionar toda a confiança que ela havia depositado em si de jeito algum.

Nicolas sabia que o dia não poderia ser bom no momento que se perdeu no campus que estudava há mais de um ano. No momento, encarava a xícara de café na sua frente com horror.

Yumi havia lhe pedido para pegar um shot (ou algo assim), ela tinha explicado como usar a máquina, mas algo no pequeno caminho entre ela e a cafeteira o fez esquecer. E ali estava ele, observando as gotas incessantes encherem agonizantemente a xícara. Iria vazar. Iria simplesmente derramar tudo no chão no momento que tocasse naquilo. Precisava parar a máquina, mas estava em choque, não conseguia forçar seu cérebro a pensar em tomar uma atitude e arriscar apertar qualquer botão torcendo para que a máquina parasse.

Talvez sentindo a agitação – ou a falta de movimentação – de Nicolas, Yumi, preocupada, se aproximou para ajudar. Tentando ao máximo não rir da situação e demonstrar compaixão pelo garoto, forçou a parada da máquina apertando um simples botão.

– Não fique assim tão nervoso, a máquina não vai explodir se você apertar o botão errado – Disse num tom brincalhão ajeitando a bandana que segurava seu cabelo no lugar – É normal a confusão no primeiro dia, mas você pega o jeito rapidinho! Por que não fica só entregando os pedidos hoje?

Nicolas sentiu seu coração acelerar, queria que o chão lhe engolisse para não ter que lidar mais com aquilo. Se desculpou pelo inconveniente enquanto observava Yumi arrumar tudo. Não podia acreditar que simplesmente travou quando tudo que precisava fazer era apertar um botão.

Caramel MacchiatoOnde histórias criam vida. Descubra agora