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Saí do meu prédio as pressas, ajeitando meu casaco amassado em meus ombros e a bolsa em meus braços, totalmente desajeitada.

Meus passos eram apressados, meu olhar fixo no sinal prestes a fechar do outro lado da rua movimentada por carros e pedestres.

Seis. Seis exatos segundos eu tinha para correr até a faixa.

Meu passo acelerou, e eu pensei em como foi um péssimo dia para usar botas com salto alto. Me sentia desconfortável em meu proprio corpo. Os óculos escuros em meu rosto enfraqueciam um pouco a luz do Sol, mas não o suficientemente para fazer minha cabeça parar de estourar. Péssimo dia! Péssima noite. Péssima semana!

Não devia ter bebido demais ontem. Se não tivesse bebido, não estaria assim agora, mas bebi, e agora tinha que lidar com as consequências desagradáveis. Desagradavedissimas.

Parei por um segundo em frente a faixa de pedestre, olhando de um lado para o outro da rua para ter certeza de que era seguro atravessar. Vinha uma moto logo ali, a uns dez metros, mas o sinal só ia abrir de novo daqui a três minutos e eu precisava chegar no metrô logo, ou ia me atrasar mais de meia hora no trabalho.

Não tinha escolha, eu iria ter que correr. Soltei um suspiro e apertei a bolsa em meus braços, amaldiçoado Cassie mentalmente por ter me convencido a me divertir ontem. O que nas palavras de uma mulher como ela querem dizer beber até cair.

Comecei a correr.

Ainda não acreditva que havia caido naquele papo. Esperava que ela estivesse tão mal quanto eu, desejando não ter me levado para um mau caminho. Porque agora, por causa dela, eu estava fazendo uma maratona antes do café da manhã com as têmporas explodindo meu cérebro.

As botas me deixavam desengonçada enquanto corria, e quase tropecei duas vezes. O som do motor da motocicleta aumentava a uma velocidade absurda, e aquela rua nunca pareceu tão larga. Os fios loiros ricocheteando em meu rosto também não ajudavam.

O sinal fechava em 2... 1.

Pronto, agora não tinha mais a lei do meu lado caso o motorista me atropelasse por ser tão burra. O som aumentava em meu ouvido, assim como o som dos meus saltos se chocando firmemente contra os asfalto e as pedrinhas minusculas que roubavam meu equilíbrio.

Finalmente, senti meu sapato tocar a elevação da calçada, e eu soltei um suspiro de alívio. O ar faltava em meus pulmões. Vi a moto negra com chamas prateadas passar e seu motoqueiro erguer o dedo do meio para mim, em um gesto rude. Eu elevei minha mão para ele, não conseguindo me controlar, erguendo o dedo também.

--Vai se foder, seu mal educado! -- acabei por gritar.

Minha boca se abriu levemente para sugar mais ar e eu pensei em como deveria ser considerado crime uma pessoa correr antes das oito da manhã e fazer gestos vulgares no meio do trânsito. Atrás de mim, um casal idosos me encarava quando me virei.

--O que foi? Nunca viram alguém se atrasar, não? -- perguntei, irritada com sua curiosidade.

Voltei a caminhar após ter recuperado o ar, amarrando meu cabelo em um rabo de cavalo super apertado. Sem risco de soltar. O metrô não fica muito longe dali. Era uma das inúmeras vantagens de morar no bairro em que eu morava. Tudo era absolutamente perto.

Desci até o subsolo e quando cheguei a pista, o trem já estava lá , e dezenas de pessoas já se empurravam para entrar e pegar um lugar. Ótimo, eu iria ter que ir em pé.

O resto do caminho era monótono. Eu realmente tive que ir de pé, mesmo tendo pegado um acento vazio, tive que dá-lo a um idoso. Pelo menos eu havia pegado o trem a tempo, pelo menos não ia me atrasar para o trabalho.

I Don't Know To How Choose Boys (30/10)Onde histórias criam vida. Descubra agora