Cuidados

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Assim que terminei de tomar aquela água percebi nas mãos da enfermeira um lençol não muito fino, ele era tão branco quanto  o quarto o que me desanimou um pouco, mas assim que o analisei por algum tempo senti meu corpo estremecer pelo ar que entrava pela porta aberta. A enfermeira deu uma risada leve, um som melodioso para um lugar tão tedioso, logo esticando o lençol sobre mim.

O tecido quente cobriu cada curva do meu corpo como se fosse um beijo caloroso. minha pele arrepiou no contato e eu senti o peso do meu corpo e a tensão relaxar, minhas pálpebras pesaram mais que nunca. O som dos passos da enfermeira que eu ainda sequer havia perguntado o nome se afastaram e eu me rendi ao doce som do silencio que minha mente havia se tornado.

Eu acordei cedo com um toque delicado na minha testa, mãos que eu conhecia muito bem. Minha mãe fazia um carinho calmo em mim, seu rosto limpo de qualquer marca abrigava um mar lindo e claro seus olhos azuis brilhantes que combinavam com seus cabelos castanhos escuro. 

"Ah, Bel, minha estrela, que susto que você nos deu." Eu vi os olhos dela escurecerem em um pavor. "Ontem a noite, eu ouvi um barulho de algo cair, quando... quando eu cheguei lá você já estava no chão." Então vi uma lágrima solitária descer o rosto de minha mãe e aquilo, aquilo quebrou meu coração, e eu não pude me conter minhas lágrimas nunca sozinhas começaram a escorrer minhas bochechas a baixo. 

"Eu sinto muito, eu não queria que vocês se sentissem assim!" eu pigarreei em um tom baixo em meio a soluços, meu braço esquerdo enfaixado agora latejando. Ela me abraçou. Fez um carinho em meu rosto e deitou um beijo em minha testa, quente e úmido por lágrimas.

"Meu amor, eu achei seus remédios todos. Você não tava tomando eles." Não era uma pergunta, ela sabia que eu não estava, mas eu planejava fazer isso muito antes de parar de toma-los.

"Sinto muito." Minha voz saiu rouca pelo próprio peso da culpa.

Ela de uma hora para outra pareceu iluminar seu olhar e passou a mexer na bolsa que levava para todos os lados, um bolsa grande esverdeada com detalhes de rosas azuis. ela tirou de lá um caderno roxo em sua capa em uma letra bonita, a letra da minha mãe, estava escrito 'Diagramas de Belle', eu me lembrava daquele caderno, eu o usava quando era mais nova para conter minhas crises de ansiedade, mas ele estava novo demais, eles haviam feito outro, mas quando?

"Estávamos guardando par ate dar no seu aniversário, mas agora parece mais apropriado." Ela sorriu, mas no fundo eu sabia que aquele sorriso era o mais doloroso que ela já havia dado e para minha tristeza não seria o último.

Ela me passou o caderno tendo certeza de tocar meus dedos e fazer um carinho de leve, eu sabia que ela só estava tendo certeza de que estavam quentes e vivos. E aquilo corroeu mais uma parte dentro de mim.

Diagramas de BelleOnde histórias criam vida. Descubra agora