29. CORAGEM

136 29 97
                                    


Paro, de costas para o espelho, e respiro fundo

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Paro, de costas para o espelho, e respiro fundo.

Eu consigo, digo a mim mesma em pensamento. Eu consigo, repito várias e várias vezes em uma tentativa claramente desesperada de me convencer a fazer algo do qual sempre fugi, mesmo depois de quase cinco anos com sessões de terapia semanalmente, antes de ingressar na Alewood Hills.

Da mesma forma como fui corajosa de procurar ver Xin Yu mesmo com tanta mágoa entre nós, eu posso ser corajosa agora e ignorar a imagem das cicatrizes avermelhadas no meu torso e nos braços, as quais estão à mostra graças ao modelo de vestido que escolhi para usar no baile de réveillon dos Greenhunter. No entanto, ainda hesito. Meu coração bate forte ante a perspectiva de aparecer desse modo em público, mesmo tendo sido uma escolha minha. Chego até mesmo a reunir desculpas para usar um vestido antigo ou nem sequer ir ao baile.

"Que tal este colar, senhorita?", Mary Ann, uma das funcionárias mais antigas da minha avó, é quem me ajuda nos últimos detalhes da minha arrumação. Mais cedo, Cassie e eu fomos ao ateliê da madame Katrina para arrumar nossos cabelos e pintar nossos rostos com maquiagem, além de pegar os vestidos. Porém, decidimos terminar de nos arrumar em casa, para facilitar nossa ida ao palácio com os nossos avós, porque as ruas estão abarrotadas de neve e causando congestionamentos. "Ele ficará perfeito com os brincos".

Não me sinto muito propensa a discutir a respeito, porque qual colar usar, definitivamente, é o menor dos meus problemas. Por isso, apenas assinto em concordância e Mary Ann se aproxima para colocar o colar de ouro branco com uma pedra de ametista como pingente, a qual descansa sobre o meu colo nu, acima de alguns dos relevos avermelhados.

Nesse momento, o meu conflito interno me enche de tanta angústia que quase deixo um soluço escapar e preciso me esforçar para contê-lo, bem como as lágrimas. É claro que nada e nem ninguém está me forçando a ir com este vestido e mostrar minhas marcas tão íntimas, mas sinto que, se não fizer isso hoje, será ainda mais difícil fazer amanhã ou depois. Eu sempre vou cultivar uma desculpa nova, fechar-me em meu casulo e sofrer com isso. Eu vou fazer exatamente o que critiquei em Henry e seu medo de falar com Tobias, sendo hipócrita. Além disso, vou perder a oportunidade de usar o vestido mais lindo que já vi, depois do outro vestido azul que Henry e eu vimos exposto no ateliê há alguns dias (e que foi comprado por alguém mais bem decidido do que eu).

De repente, tomada por uma súbita coragem, assim que Mary Ann se afasta falando algo sobre os cachos do meu cabelo estarem se desfazendo, viro-me para o espelho e observo o reflexo que vinha me amedrontando.

A primeira coisa que percebo, e que é quase como um tapa na minha cara, não são as marcas visíveis, mas o modo como a cor do vestido deixa os meus olhos lindos. Eles sempre foram motivo de insegurança para mim por gerarem perguntas sobre a minha origem e se destacarem entre os olhos castanhos da população de Orion, mas hoje noto a beleza da qual sempre me falaram e neguei. Depois, noto como o vestido me cai bem. Ele é um modelo longo e lilás, cuja saia de seda se abre em um sino e possui camadas de chiffon em tons mais claros e escuros da mesma cor. Na cintura, flores bordadas em cor-de-rosa demarcam o início do corpete crepom justo, o qual é finalizado no busto tomara-que-caia. Acima do busto, o chiffon reaparece no colo e nas mangas bufantes, as quais chegam até os pulsos. Por baixo do chiffon, as marcas avermelhadas são vistas, mas elas, definitivamente, não são o centro das atenções.

SOBRE UM FALSO LORDE E A PRINCESA DE GELO [COMPLETO] Onde histórias criam vida. Descubra agora