Era um dia no mínimo esquisito em Baluarte, que rotineiramente era uma cidade monótona e quente, para não dizer entediante e com a sensação térmica de que o próprio sol morava ali. A primeira coisa estranha que aconteceu naquele dia foi o fato de que os trens elétricos não estavam funcionando, porque em qualquer lugar da cidade existiam trilhos enfeitando as ruas, e isso poderia não ser uma crise em outras cidades com pessoas normais fãs de veículos poluidores, mas as pessoas de Baluarte eram tão acostumadas com a rotina de se espremerem em vagões, que mesmo com trânsito confortável não se importavam em possuir carros e acabar com a camada de ozônio. Baluarte era conhecida por ter moradores esquisitos que amavam metrôs e festivais na praia mais do que qualquer outra coisa, no passado fora uma das primeiras cidades do país a adotar a utilização dos trens, porque o fundador da cidade era um inventor e apaixonado pelo transporte, e atualmente era cidade modelo de transporte público sustentável, não só no país como a nível mundial, não que isso fizesse Baluarte parecer um pouco menos com o final esquecido do mundo. Então naquele dia todas as pessoas da cidade se sentiram estranhas e irritadas, pois utilizar ônibus ou carro parecia um pesadelo. A prefeitura até tentou consertar o problema elétrico que apareceu de repente nas plataformas do metrô, mas para infelicidade da população uma madrugada de consertos não foi o suficiente, agora era cruzar os dedos para a prefeita conseguir contornar o problema antes que os cidadãos resolvessem contornar ela na próxima eleição.
A segunda coisa estranha que pegou todos de surpresa, foi a tempestade, porque lá não costumava chover com facilidade. Chuvas só ocorriam durante três meses no ano, eram poucas e breves, e aquele dia não estava dentro do período pluviométrico normal. Além de terem que se enfiar dentro de transportes chatos e poluidores, os cidadãos de Baluarte, ainda enfrentaram a chuva como um grande acontecimento, porque em uma cidade quente como aquela qualquer gota de água era de fato algo estranho. Eram relâmpagos iluminando o céu, trovões assustando pessoas e alguns raios atrevidos que atingiam algumas árvores, tudo isso com mais uma quantidade absurda de água, o coitado do garoto do tempo ficou com medo de ser despedido depois de ter prometido mais uma semana aborrecidamente ensolarada. Alguém chegou a comentar sobre um possível apocalipse, mas será que alguma divindade conhecia Baluarte? E mesmo se conhecesse, nenhum filme nunca retratou o fim do mundo acontecendo naquela parte do planeta, então talvez todos ficassem intactos.
Sendo apocalipse ou não, a maré esquisita continuou se estendendo por três dias, e neste dia em especial, mais uma esquisitice iria acontecer e provavelmente a maior delas. Jungkook já começou o dia sofrendo, porque como qualquer estudante universitário lascado, ele tinha um trabalho importante para entregar, e é como naquele ditado (que talvez não exista), faça chuva ou sol, fim do mundo ou não, suas responsabilidades ainda vão continuar lá. Então ele tinha que entregar aquele trabalho de mitologia grega de qualquer jeito, porque era metade da nota final da disciplina, e se perguntassem porque ele deixou para escrever um artigo imenso uma noite antes do dia da entrega, ele provavelmente responderia que não lembrava disso, e é como aquela situação, se você não lembra, você não fez. Então por isso ele se obrigou a correr atrás daquele ônibus insuportável e a passar mais de trinta minutos apertado em outros seres humanos estressados, para chegar na única universidade de Baluarte. A coisa boa daqueles dias estranhos era que apesar de estressado e atrasado, o museu onde ele fazia estágio estava fechado até a cidade voltar ao normal, até porque se as pessoas não faziam questão de pisar lá em dias normais, porque agora nesse caos elas iriam querer? De qualquer forma Jungkook agradecia o fato da maioria dos cidadãos não se importarem em despender tempo para conhecer coisas importante como a história deles mesmos, porque assim ele tinha um estágio tranquilo e remunerado sem nenhum esforço, era melhor fantasiar um lado positivo do que pensar no que toda essa falta de conhecimento histórico podia causar no futuro, sei lá talvez um dia eles elegessem um prefeito burro? Não, era melhor ter um pouquinho de fé na humanidade.
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Bilhetes de um ID Apaixonado
FanfictionJeon Jungkook era apenas mais um jovem estudante de história, que assistia filmes de terror aos sábados com seus amigos e estagiava no museu da cidade em que morava. Ele sempre se considerou alguém consciente, que possuía controle de sua vida e açõe...