Capítulo 5: Isso só pode ser um pesadelo.

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Emilly

Mantenho meus olhos fechados, suspiro, enquanto meus pensamentos voam para bem longe. Aos poucos as lembranças vão tomando conta de mim e com elas meus pesadelos ganham vida.

Dizem que quando estamos prestes a morrer a nossa vida passa como um filme bem diante dos nossos olhos, será que estou morta?

Onde será que estou?

Tudo está escuro, e um completo silêncio paira no ar, sinto um toque acariciando meus cabelos, permaneço quieta por alguns minutos.

Talvez não esteja realmente morta.

Tal constatação me faz arrepiar.

Se estou feliz por está viva?

Bom...

Não tenho resposta para tal indagação, uma pergunta tão simples, mas que pra mim se torna tão complexa.

Analisando a minha vida, talvez seria melhor está morta, existem pessoas que não merecem uma segunda chance, e infelizmente eu sou uma dessas.

— Aí minha cabeça. — grito quando sinto uma forte dor.

A primeira de muitas consequências das minhas inúteis escolhas.

Ação e reação.

Levanto a mão direita e começo a fazer uma massagem no lugar onde senti a dor, em uma tentativa falha de fazer com que aquela dor pare.

Permaneço com os olhos fechados, respiro e tento ficar calma. Aquela dor estava começando a me enlouquecer.

— Emilly, graças a Deus você acordou.

Tomo um susto com aquela voz. Claro que eu sei de quem era, minha memória ainda está intacta.

Abro os olhos para olhar o meu irmão e tudo está escuro. Será que está de noite? Por que as luzes estão apagadas?

Com certeza devo está em um hospital e tenho quase 100% de certeza que eles não iam deixar as luzes apagadas.

— Sam, você pode acender a luz? Eu não consigo enxergar nada, está muito escuro.

— Emilly, as luzes estão acesas. — sinto um misto de medo e desespero em sua voz.

Como assim as luzes estão acesas?

Uma parte de mim tenta se manter calma, não posso surtar agora. Não posso surtar antes da hora.

O que está acontecendo comigo?

Não posso está cega.

Respiro fundo.

Isso não pode está acontecendo.

Suspiro fundo.

Não pode.

— Sam, me diz que é brincadeira! — cada célula do meu corpo torce para aquilo seja apenas uma brincadeira de muito mal gosto. — EU NÃO POSSO ESTÁ CEGA. — começo a gritar desesperada antes de ouvir a sua resposta.

Pronto! Acabei me descontrolando. Agora era um caminho sem volta.

Isso só pode ser um pesadelo!

Eu não posso está cega.

Eu não posso está cega.

Eu não posso está cega.

Dizem que as palavras tem poder, então nesse momento preciso acreditar nelas. Preciso acreditar.

Fico repetindo e repetindo as mesmas palavras não sei quantas vezes.

Aos poucos acabo perdendo as forças, não estava funcionando repetir aquelas palavras.

Cada vez que repetia tais palavras uma dor dilacerante corroía a minha alma.

Sinto os braços de Sam me envolvendo em um abraço. Respiro fundo e tento me acalmar.

— Emilly, por favor você precisa se acalmar, vai ficar tudo bem. — me solta aos poucos. — Vou chamar o médico.

— Sam, espe... — ele termina de me soltar e consigo ouvir seus passos se afastando de mim.

Novamente um silêncio paira no ar, aos poucos algumas lágrimas começam a escorrer por meu rosto.

Os poucos minutos que se sucedera até o médico entrar no quarto foi aterrorizante. Foi horrível sentir abandonada, ainda mais no estado que me encontrava. Tudo estava tão confuso, minha mente estava um caos.

O que está acontecendo comigo?

Ou melhor o que aconteceu comigo?

A minha última lembrança é um carro capotando e tudo aos poucos ficando escuro.

Respiro fundo, passo a mão direita e limpo as lágrimas, não queria que ninguém me visse chorando, odeio ser vulnerável.

Escuto passos vindo na minha direção, fecho os olhos por alguns segundos enquanto respiro fundo.

— Que bom que acordou senhorita Emilly, seu irmão me contou que você não está conseguindo enxergar, vamos fazer alguns exames e descobrir a causa. — um homem que presumo ser o médico despeja as palavras em cima de mim.

Ele diz com uma tranquilidade que não consigo entender.

— Sam, o que está acontecendo? — estava apavorada e temia o que poderia acontecer daqui pra frente.

— Emi, você sofreu um acidente, não se lembra?

Claro que lembrava, mas torcia para que aquilo não passasse de um sonho, um pesadelo.

Às vezes, na maioria das vezes na verdade, queria que minha vida fosse apenas um sonho, e a única coisa que precisava fazer era apenas abrir os olhos e acordar quando tudo estiver bem.

— Emi, está me ouvindo? —  sinto seu toque gelado na minha mão.

— Sim, estou bem. — pisco algumas vezes e tudo continua exatamente igual.

Como é difícil olhar nos olhos da realidade e encará-la, às vezes é mais fácil cobrir a cabeça e permanecer deitada em sua cama e fingir que não existe um mundo lá fora.

Escuto o médico chamar algumas enfermeiras e depois de alguns segundos sinto uma picada no meu braço esquerdo. Mesmo um pouco sonolenta sinto quando eles me põem no que presumo ser uma maca, com certeza me levariam pra fazer uma série de exames.

Ainda meia grogue escuto algumas vozes desconhecidas ao meu redor, mas não conseguia entender o que falavam.

Aos poucos meus olhos vão ficando pesados e sinto que meu corpo está sendo desligado da minha mente, luto com todas as minhas forças para me manter acordada, mas acabo fracassando.

[...]

Abro os olhos, pisco algumas vezes e a escuridão permanece.

É, algumas coisas nunca mudam.

Respiro fundo enquanto as lágrimas começam a traçar uma trajetória por meu rosto. Naquele momento me permitir ser vulnerável, precisava colocar tudo o que estava sentindo pra fora.

Precisava ser fraca, precisava desabar por alguns instantes, ninguém precisa ser forte sempre. Como não conseguia enxergar nada a minha volta me importava, sentia a sua presença, ele estava bem do meu lado, mas não ousou dizer uma única palavra.

Aquele era o meu momento. Respiro fundo e sinto em cada célula do meu corpo uma grande decepção, aquela dor estava me matando, mas precisava ser sentida.

Todos os indícios pareciam ser o fim do mundo pra mim, mas por algo complexo que não conseguia compreender ainda continuava viva.

Chegará um momento que a sua vida chegará ao fim, seu coração ou o seu cérebro se desligará para sempre.

Naquela noite chorei como nunca tinha chorado antes, tenho certeza que meus soluços eram escutados a metros de distância. Naquele momento a única coisa que sabia fazer era chorar, era a única forma de defesa que o meu corpo conhecia.

Mesmo sem o diagnóstico oficial do médico sabia que não tinha mais volta, nunca mais iria enxergar. Doía aceitar tal constatação, mas infelizmente era uma verdade que precisava aceitar. E eu que pensei que já tinha chegado no fim do poço.

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⏰ Última atualização: Sep 04, 2020 ⏰

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