Capítulo 26 - Confissões

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"No amor felizmente a riqueza está na doação mútua. O que não significa que não haja luta: é preciso se doar o direito de receber amor. Mas lutar é bom."

Clarice Lispector

Clarice Lispector

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Eu definitivamente estraguei tudo e o pior que sei que ele tem razão para estar chateado. De certa eu negligenciei o que nós dois estamos construindo e não dei a ele o devido valor. Eu tive medo de oficializar o nosso relacionamento e principalmente das consequências que isso traria. Como minha família e amigos reagirão? Como a sociedade vai me enxergar? Como será o meu futuro?

Já é bem difícil ser um médico negro nesse país, mas ser um médico negro e gay com certeza seria muito pior. Mas sem dúvida meu maior medo é perder o amor das pessoas que me cercam. E se me mãe me olhar com nojo quando souber? E se meus irmãos sentirem vergonha de mim? E são essas perguntas que tem me segurado até agora, mas o custo para isso tudo pode ser perder o Mike e todo o sentimento que eu carrego no peito vai ser em vão se eu não puder demonstrar a ele.

Esfrego os olhos com raiva e me levanto da cama em um pulo. Eu preciso sair de casa e esfriar minha cabeça, que a essa altura mais parece um vulcão prestes a entrar em erupção. Me arrumo rápido depois de uma ducha e desço as escadas. Encontro minha mãe na cozinha preparando algo para o jantar, sei que ela não gosta que saia antes de comer, mas dessa vez ela me surpreendeu.

– Mãe, eu vou dar uma saída pra esfriar a cabeça. – eu disse temeroso.

– Se for pra melhorar essa cara feia, tá bom. – ele disse, me lançando aquele olhar de raio-x que ela tem.

– Tá tão feia assim? – pergunto sorrindo.

– Horrível. Só queria saber o por que está assim. Ou melhor, por quem. – diz enquanto volta a mexer nas panelas.

– Pior que dessa vez fui eu quem fez merda. – digo mais para mim do que para ela.

– Então conserta. – ela fala energicamente sem se dar ao trabalho de olhar para mim.


[...]


Saí de casa sem nem mesmo saber para onde eu vou. Ando por alguns quarteirões até pensar em um destino que me agrada. Pego um táxi e vou para onde minha consciência me mandou. O Mahalo está muito mais calmo do que no dia que vim aqui com o Mike, como é dia de semana e ainda é cedo, poucas pessoas estão no interior do bar. Sentei na mesma mesa da última vez e peço ao garçom para me trazer uma bebida. Poucos minutos depois ele volta com uma cerveja bem gelada, pergunta se eu quero mais algo e depois da minha recusa se retira. Só foram necessários poucos minutos até ouvir a voz que eu esperava ouvir desde a hora que cheguei.

– Meu mano ta aqui e nem vem falar comigo? – diz o Guilherme se aproximando.

– Poxa mano, não queria te atrapalhar. – eu falo levantando, dando abraço de lado e uns tapinhas nas suas costas.

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