Capítulo 14

208 9 4
                                    


Melendez abriu os olhos, uma cascata de cabelos negros cobria seu peito e ele se lembrou de todas as vezes que tinha sonhado com isso. Ele não se mexeu, sentindo a respiração dela. Dormindo assim ela parecia da paz, ele pensou não conseguindo evitar um sorriso. Naturalmente ela foi acordando e olhou para ele. Ela parecia um pouco envergonhada.

- Oi você, ele disse.

- Oi você, ela respondeu.

- Essa noite, quero dizer... Isso foi porque estávamos chateados e bêbados.

- Você está arrependida?

- Não! Foi maravilhoso.

- Só acho que não deve acontecer de novo. As coisas já estão complicadas no trabalho, um envolvimento entre nós só atrapalharia ainda mais as coisas.

- Você tem razão, Lim. Nosso tempo de viver essa história já passou.

- Sim e agora eu preciso ir. Estou no plantão da emergência.

Melendez estava saindo para o seu turno quando passou pela sala e viu a jaqueta de Lim no chão, ele pensou em levar para o hospital, mas ela podia não gostar. Em breve ele entregaria e deixou dobrada em cima do sofá.

Quando chegou ao hospital, Melendez viu que tudo estava um caos na portaria perto da emergência. Ele seguiu diretamente para o centro cirúrgico sem dar muita atenção àquela confusão, mas quando chegou, todos estavam comentando que a emergência estava em quarentena por causa de um vírus ainda desconhecido e que tinha matado três pacientes.

- Dr Melendez, um dos pacientes agendados para a cirurgia de hoje ficou preso na quarentena da emergência, disse Browne.

- Droga! Era só o que faltava mesmo. Vou falar com Andrews e ver o que pode ser feito.

Melendez chegou à sala de reunião que estava transformada e cheia de monitores com as imagens de todas as câmeras de segurança da emergência. Ele acompanhou as imagens até que a viu. Diabos, Lim estava na emergência! Como ele tinha esquecido isso?

Lim não estava parecendo bem, Melendez percebeu que ela estava isolada das outras pessoas. Andrews percebeu o choque no rosto de Melendez, ele conhecia Lim há muitos anos e eram bons amigos. Andrews colocou a mão no ombro de Melendez...

- Ela está infectada!

Melendez não conseguiu esconder o medo, todos que foram infectados morreram em poucas horas. Não! Não!

- Andrews, eu preciso entrar lá, eu posso ajudá-los. Eu vou ver o que está acontecendo com Lim.

- Não! Essa ideia está fora de cogitação, ninguém vai furar a quarentena.

Melendez tentou seguir sua rotina, mas não conseguia se concentrar em nada, ele só pensava que Lim ia morrer. Ele estava com a cabeça encostada na parede do corredor, falando com ele mesmo, tentando se convencer que ela conseguiria sobreviver, ela era forte e ficaria bem, quando Browne chegou perto dele assustando-o.

- O que houve, Dr Melendez?

- Nada. Eu só... Eu só estou preocupado com a situação da emergência.

As horas se passaram, Melendez viu Lim desmaiando através do monitor e não podia fazer nada. Já era noite e ele pensou que naquela manhã ela estava nos braços dele, eles estavam emaranhados como um só e agora ele podia perdê-la para sempre.

Reznick estava com ela. Melendez precisava vê-la, ele precisava!

- Morgan, sou eu, Melendez. Ele disse ao telefone.

- Quer saber sobre Lim? Vou passar os sinais vitais...

- Eu quero vê-la! Você pode ligar a câmera e me deixar olhar para ela?

Ela estava pálida, parecia tão frágil. Droga, ele não estava mais aguentando essa angústia.

- Obrigado, Morgan e obrigado por cuidar dela.

Finalmente a equipe de controle chegou ao hospital para testar os pacientes da quarentena. Lim tinha acordado após o procedimento de emergência adotado por Reznick e ela iria sobreviver. A equipe de controle estava liberando aos poucos, o que levou horas. Melendez não queria ir embora, ele não ia sair de lá sem ver Lim, mas não teve escolha, ela poderia receber visitas somente no dia seguinte, quando estivesse no quarto.

Melendez chegou ao hospital no outro dia logo cedo. Ele mal conseguiu dormir, o cheiro de Lim estava na cama dele, ele sentia a presença dela em tudo.

- Ei você! Melendez disse se aproximando da cama dela.

- Nunca vou esquecer esse plantão, ela respondeu sorrindo.

- Eu também não vou esquecer. Tive medo de perder você, Audrey. Medo de te perder para sempre.

- Perder a minha amizade, você quer dizer? A gente só dormiu junto, Neil.

Melendez não esperava ouvir isso, ele estava tão feliz que Lim tinha sobrevivido e por um momento esqueceu a conversa que tiveram após transarem. Lim não queria que acontecesse mais nada entre eles.

- Às vezes eu não consigo te entender, Lim. Passamos por tantas coisas e mesmo depois de quase morrer, você continua lutando para ser infeliz. Você está mentindo, você sabe que não foi só dormir juntos, mas eu não vou mais insistir...

Melendez saiu fechando a porta atrás de si e deixando Lim em um turbilhão de emoções. O que ela estava fazendo com a vida dela? Por que ela se afastava de Melendez? Então finalmente ela decidiu ir atrás dele.

- Ei você! Ela disse entrando na sala dele.

- Que bom ver que está melhor, ele disse com um sorriso sarcástico.

- Eu sei que tenho sido uma idiota, Neil. Eu gosto de você, ta legal?! Eu gosto de você desde que te vi sentado com aquele sorriso arrogante no meu primeiro dia no St. Bonaventure. Eu tenho medo, Neil! Tenho medo desse sentimento. Tenho medo de fracassar com você também.

- Ei... ele disse pegando a mão dela. – Eu também gosto de você, Aud. Eu sempre gostei.

- Por que, Neil? Por que você gosta de mim? Olha só você! O cara mais bonito do hospital, sempre teve todas as mulheres que quis...

- Menos você! E você sempre foi a única que eu realmente quis, Aud.

- Ninguém nunca me quis, Neil. É difícil para mim.

- Não me faz querer te beijar agora, Aud! A parede é de vidro, ele disse dando um sorriso e apertando a mão dela. – Você é tão linda, Audrey. Eu adoro sua pele, eu adoro seu rosto e a maneira como seus cabelos caem pelas costas. Eu adoro tudo em você, sabia? Até sua teimosia.

- Eu não quero que aquela noite seja a última, mas acho que não devemos deixar ninguém saber, pelo menos por enquanto.

- Acho uma boa ideia, ele respondeu sorrindo.

No final do dia seguinte Lim teve alta do hospital e Melendez estava esperando por ela para levá-la para casa. Lim tinha deixado a chave reserva com ele e quando chegaram na porta, ela perguntou se ele queria ficar um pouco.

- Eu pensei que você não perguntaria isso. Fiz uma surpresa porque sou um cara romântico.

Melendez a abraçou por trás e Lim abriu a porta para que entrassem juntos. Ela sorriu para a surpresa e sorriu porque talvez o futuro fosse ainda melhor.

Reverso - LimlendezOnde histórias criam vida. Descubra agora