Capítulo V * Parte I

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(Louis)

Por que será que quando mais precisamos de alguém, é exatamente quando não se tem ninguém? Por que será que quando se tem alguém ao lado, não queremos contar nada? Por que custava mais trabalho falar dos assuntos mais dolorosos, do que falar dos que menos nos incomodam?

Meu problema podia se reduzir facilmente a uma simples palavra, e uma realidade: Harry.

Essa realidade havia sido parte de um sonho maravilhoso durante quinze anos, os quais eu desejava encontrar aquele Harry que eu havia perdido aos quatro anos e agora, isso havia se tornado o meu pior pesadelo.

Seria tão fácil viver sem ele, tão fácil me afastar e esquecer. Minha vida deixaria de ser tão problemática se Harry não existisse. Isso é o que todo mundo pensaria se conhecesse a minha história do início ao fim. Eu mesmo sabia disso.

Harry não valia a pena. Deveria me preocupar comigo mesmo e tentar ser feliz.

A vida seria tão fácil sem ele.... Pra qualquer outro seria muito mais fácil sem ele... talvez pra mim não.

Havia chegado um momento em que, de joelhos no chão, chorando e sofrendo, uma pergunta passou pela minha cabeça, fugaz e tola, tentando despertar o pouco raciocínio que habitava a minha consciência.

De um purgatório eu tinha ido parar em um outro tipo de purgatório e os dois eram iguais de ruins pra mim. Não havia diferença alguma entre um e outro, salvo os donos de cada um. No purgatório de Londres estava Derek, uma pessoa que havia jurado curar todas as minhas feridas e não permitir que eu me ferisse outra vez por ninguém. No purgatório de Cheshire estava Harry, a pessoa que havia me ferido e que ainda feria, e mais, cuja a única intenção era fazer isso.

Porque eu estava nesse purgatório então, no mais difícil de superar para mim, o que mais havia me machucado? Porque não me atrevia a voltar ao purgatório de antes, onde pouco a pouco, talvez, pudesse recuperar alguma coisa da minha antiga forma de ser?

A pergunta chave era, porque eu não estava preparado para voltar a ver aquelas pessoas decepcionadas e odiosas que tantas recordações amargas me traziam e me arriscar mesmo assim a ser feliz junto com Derek? Ou... a verdadeira resposta residia aqui, em Cheshire, meu próprio campo de concentração? Mesmo sabendo a resposta, eu não queria admiti-la.

Não queria voltar para Londres porque tinha medo ou... porque simplesmente, a margem da dor, Harry estava aqui?

—Hey, você. — Ergui a cabeça do chão e observei a sombra escura contra a porta que estava a minha frente, de frente a porta onde por trás Harry e seu novo Boneco desfrutavam de uns minutos de prazer intensos. Mencionar a dor que me causava ao ouvir seus suspiros doía muito mais do que sofrer em silêncio. Me levantei do chão, cambaleando.

— O quê? — Respondi grosseiro. Eu queria ser grosseiro na verdade, ainda mais se a pessoa que me chamou fosse a que eu achava que era. Havia decidido vir se apresentar no pior dos momentos.

— Então além de bebezão, é chorão.

— Então você só late, mas não morde. — Me virei. Tinha parado de chorar, mas as últimas lágrimas negaram a se apagar do meu rosto. Michael, o Príncipe, e eu Louis, o Boneco abandonado, nos observamos.

— Eu não te conheço, mas não gosto nem um pouco de você.

— Não me diga. Ainda bem que você disse porque depois dos seus jogos de olhares assassinos eu não havia percebido. Oh, é claro! Sem mencionar o numerosinho de, vou colocar todos da cidade contra esse imbecil!

— Você me encheu o saco. Não é culpa minha que você seja tão fraco.

— Eu pareço fraco pra você?

Muñeco 3 ❌ L.S ❌Onde histórias criam vida. Descubra agora