Um tanto desconfiado de sua postura seguida de seu sorriso largo, o segui até seu escritório que realmente fica em seu quarto. As portas duplas negras e lustrosas davam para um quarto extremamente grande e luxuoso. As cores intercalavam entre claras e escuras, dando de certa forma uniformidade ao espaço. Os móveis eram notadamente de última geração. As paredes de vidro que vão do teto ao chão irritantemente limpo, nos dá uma bela vista do extenso penhasco com montanhas esverdeadas ao redor. A área rural que se localiza a uma boa distância do centro da cidade garante privacidade a qualquer um que se dispõe a visitar ou até morar no lugar.
O clique suave da porta se fechando me tem quase entrando em pânico pois isso significa que estou sozinho com ele. Sua presença dominante em conjunto com seu perfume que é o mesmo desde que nos conhecemos, me coloca fraco dos joelhos. Com o coração a mil, pigarreio, aliso minha barba e arrumo minha postura. Não posto fraquejar. Repito mentalmente. Seu toque repentino faz - me pular alguns passos de distância dele. Rindo baixinho, ergue as enormes mãos em sinal de rendição.
- Calma Jhex! Não vou te machucar!
- Não vai me machucar mais do que já fez não é?
- Nunca quis machuca - lo. Não intencionalmente.
Enfio uma de minhas mãos em meu bolso traseiro procurando algo para fazer com ela, que não seja socar o rosto bonito de um certo centauro. O olho de lado com meu corpo ainda tenso por sua proximidade minutos antes, noto que ele se mantém longe de onde estou, o que é bom. Não confio em mim mesmo para estar a menos de mínimos centímetros dele sem lhe arrancar as roupas e...
- Não faça isso Jhex! Você é mais que isso! - sussurro deixando minhas palavras se assentarem em minha mente.
- O que disse?
- Nada!
- Você disse algo!
- Bem, se eu levar em conta sua maldita super audição. Você sabe o que disse!
- Como sempre certeiro nas palavras!
- Hum...- tomo algumas respirações profundas. O ar se fazendo necessário em meus pulmões. - Magia! - digo me lembrando de algo que aconteceu assim que falei e toquei seu primo.
- Como? - ouço seus passos, a medida que se aproxima meu coração falta sair do meu peito. No entanto ergo minha mão livre fazendo - o parar em seu caminho.
- Fique onde está! Como eu disse, eu senti magia quando toquei a mão de seu primo.
- Impossível!
- É a verdade! E eu conheço essa magia, foi a mesma que me fez o que sou hoje.
- Deixa eu ver se entendi! Ícaro está envolvido com uma bruxa? - aceno me surpreendendo quando ele faz de alguma forma a ligação da minha fala com o fato de seu primo estar mexendo com o lago obscuro da magia. - Por isso quando o tocou sentiu magia emanando dele?
- Mais claro impossível!
- Ele me diria! - ergo uma sobrancelha.
- Ah é? E o que faria? Bateria nele ou o colocaria de castigo? - não consigo manter o tom de deboche longe de minhas palavras. Viro - me ficando completamente de frente para ele. Seu quadril está contra a ponta de sua enorme mesa de madeira. Os braços cruzados contra o amplo peito.
- Não! Pois no fim Ícaro é bem grandinho para saber o que faz da vida.
- Bem, o alerte pois Antina não faz nada sem um motivo obscuro.
- Você parece conhecer bem essa bruxa! - seu dedo indicador passeia através das linhas de seus lábios. O olhar fixo em mim. Evito acompanhar o movimento.
- Ah não te contei?
- Não seja debochado Jhex!
- Não estou Sr. Katsaros, esse é o meu estado normal!
- Eu sei que não! Eu te conheço...- bato palmas curvando - me sobre mim mesmo. O som partindo o ar entre nós.
- Está enganado! Você não me conhece!
- Conheço! Somos companheiros...
- Éramos!
- Nossa ligação não foi cortada Jhex!
- Claro que não! Me enganou naquela noite e me fez beber aquela maldita bebida e então acordei sozinho, com um vazio em mim.
- Era necessário!
- Você diz que era necessário! Eu não pensava assim! Tirou o meu direito de escolha Petros! Eu te amava com todo o meu ser mas você fez questão de destruir esse amor.
- Eu não era bom para você! Sabe disso!
- Mais uma vez decidiu por mim! - grunhi as palavras, minha não foi até minha espada.
- Eu sou um assassino!
- Sim, você é! - seu rosto se torna rígido. Uma respiração firme deixa seus lábios. Os cabelos brancos e encaracolados lhe caem a testa. Suas mãos se fecham em punhos, sua pele e músculos ondulam. Os olhos se tornam cimentos brilhantes. - Mas não escolheu fazer aquilo naquela noite! Sei que se tivesse escolha, não faria.
- Não sabe de nada!
- Tem razão! Eu não sei! Eu não tenho ninguém não é mesmo? Sem família para quem voltar, somente poucos amigos. - minha voz racha no final. Mas me recomponho.
- Me desculpe, eu não quis...
- Quis sim. - pego meu celular e digito o número de Arhil. Dois toques depois ele atende.
- Algum problema aí?
- Não! Nada que um carinho no focinho de um certo animal não resolva! - Petros grunhe me lançando punhais com seus olhos.
- Você não tem jeito Jhex! Não provoque o homem, lembre - se: está aí para resolver a situação em relação aos ataques.
- Como se eu pudesse esquecer não é? - lhe dou as costas. - Viu alguma coisa de estranho por aí?
- Não! Tudo tranquilo, as vezes um centauro ou outra mostra os dentes para mim, mas não é nada com que eu não possa lidar!
- E o primo do ano? A vista?
- Não! Ele sumiu depois que entrou para falar com Petros. Vi que ficou estranho ao tocar a mão dele, algo que eu deveria saber?
- Senti magia!
- Foda - se não! - ele geme. Seguro uma risadinha.
- Sim e eu conheço!
- Antina?
- Sim!
- Mas como? Essa mulher não cansa?
- Pelo visto não! - o homem bufa atrás de mim e resolvo desligar. - Vou desligar, não devo demorar muito aqui. Já deu por hoje!
- Estou te esperando aqui fora! Vou ficar de olho em Ícaro.
- Obrigado cara!
- Me agradeça me pagando uma cerveja gelada.
- Abusado!
- O papo terminou ou você vai me ignorar por mais algum tempo?
- Bem, eu só vim aqui pedir que controle deu povo. Fabián está nervoso. Demoramos muito para conseguirmos viver em harmonia com os humanos para isso acabar por que seu povo resolveu massacrar vilas.
- Diz isso como se fosse minha culpa!
- Uma parte sim! Você se esconde sobre um penhasco, não mostra a cara e coloca seu primo a frente de tudo. O povo precisa de um líder forte, não um moloque que acha saber alguma coisa.
- Está passando dos limites!
- Essa é a intenção Petros! Está na hora de deixar de ser recluso e tomar seu lugar de direito!
- Nunca deixei meu posto Jhex!
- Não? Tem certeza? Sabe quanto tempo eu demorei para marcar um encontro com você? Quase um mês inteiro, algo que não aconteceria se estivesse no lugar que é seu dever estar!
- Vou tomar minhas providências! Vou entrar em contato com Arhturo! Os responsáveis pelos ataques as vilas humanas são os centauros negros.
A informação me pega de surpresa pois pensava que estava acontecendo algum tipo de rebelião no meio do povo de Petros. Me lembro de uma parte de sua raça que é sanguinária. Os centauros negros são descendentes de uma parte exilada da família de Pietro. Eles eram sem honra e não hesitavam em matar, roubar e destruir tudo o que vinha pela frente. Achava que tinham sido banidos para o Tártaro, para estabelecer a paz centenas de anos atrás. Mas me enganei.
- Faça o que for preciso! Não me interessa o que! É um jogo desigual quando o povo humano não tem as armas adequadas para brigar!
- Tem minha palavra que vou resolver isso!