A PODEROSA RAINHA (Concluída)

Amor e ódio

Gab narrando

Mais um dia nesse inferno. Hoje estou sentado junto com uns colegas jogando Uno, nada demais, ultimamente é o que mais estou fazendo. Também jogo xadrez, afinal sou dono de uma máfia, tanto tempo longe, estou enferrujado.

Vou atualizar vocês do que aconteceu desde o dia em que Babi me deu aquela carta. Eu criei uma "revolução" aqui dentro, sou respeitado por todos, consegui vários aliados. Resumindo, eu voltei a ser o Gab de antes, pelo menos por um lado.

Só voltarei a ser o verdadeiro Gabriel quando estiver com minha mulher, meus filhos e minha família toda junta.

Sinto tanta falta da minha pequena, a minha mulher, minha vida, o melhor de mim, a mãe dos meus filhos.
Eu a vi mudar bem na minha frente, eu a mudei. Por minha causa ela se tornou quem é hoje, e por causa dela me tornei quem sou. Nós causamos o melhor e o pior um no outro.

O destino é traiçoeiro, é como muitos dizem, a vida é uma caixinha de supresas, odeio surpresas, eu odeio muitas coisas.

O ódio. Ódio é uma palavra forte, que tem significado, uma palavra que marcou minha vida. Essa palavra de apenas quatro letras, causa tantas coisas, traz tantas consequências.

Sentir ódio é o mesmo que se deixar inflamar por um fogo ardente, mas que queima de dentro para fora, matando todos os demais sentimentos que possam existir. Ele não traz nada de benéfico a quem sente, ao contrário, deixa as pessoas amargas, tristes e sem sensibilidade para viver as boas coisas da vida. É como Buda disse: "Jamais, em todo o mundo, o ódio acabou com o ódio; o que acaba com o ódio é o amor."
Funbabe me mostrou o verdadeiro amor. Não posso dizer que meu ódio acabou, porque não acabou, ele apenas se dissolveu e foi transformado em amor, simplesmente amor. Funbabe conseguiu o que muitos achavam impossível.

Ao longo dos anos aprendi que o amor e o ódio andam lado a lado, que prescisamos tanto do ódio em nossa vida quanto prescisamos do amor.

Uma vez Caio me disse "tudo é amor, até mesmo o ódio, que nós julgamos ser o contrário do amor, nada mais é senão o próprio amor que adoeceu gravamente"

Amor e ódio são o verso e o reverso da mesma moeda de paixão

O ódio é um sentimento frio e obscuro, dele surgem mais dois sentimentos que eu realmente queria esquecer.

Solidão e vingança

Esses concerteza são os sentimentos mais obscuros que existem, a base deles é o ódio, todos esses sentimentos nos afastam de quem amamos, aqueles que seguem o caminho da vingança nunca acabam bem, você só se destrói, e ainda que tenha sucesso você se vinga. E o que sobrará com isso? Nada! Um vazio.

Aprendi isso na prática, minha vida foi um completo vazio, apenas existia por existir, não tinha um valor por trás de minha existência, minha vida sempre foi uma eterna e dolorida solidão. Perdi todos os que amei, me tornei quem eu menos queria, decepcionei todos os que acreditaram em mim, me tiraram quem amei e me fizeram uma peça em seu jogo sujo que eles chamam de vida, e de futuro.

Uma vida boa no futuro... Tudo o que me prometiam. Hoje eu vejo que nada disso era real, nada valeu a pena, o que  aquele "futuro" que me prometeram fez por mim? Apenas me isolou e me fez querer a vingança, o ódio surgiu em mim por causa de minhas escolhas, escolhas que se eu tivesse percebido que era uma burrada antes, nunca teria tomado as atitudes que tomei no passado

Vingança... é como o boomerang, atinge o alvo; mas traz na sua volta um grande pesar e tristeza.

Eu me pergunto se a vingança compensou o custo. Hoje vejo que não. Nada compensou, nada o que eu fiz compensou o custo, não tive de volta as pessoas perdidas, os melhores momentos com minha família, o que eu fiz achando que era certo e que compensaria... Pois é, não compensou.

Agora vejo que a única coisa que realmente valeu a pena em minha vida foi o que eu ganhei quando deixei tudo de lado e desistir de ser quem eu não sou. Eu conheci o amor da minha vida, fiz amigos pra vida inteira, tive meus filhos e tudo de bom.

Essa era o lado que eu estava esperando com minha vingança, mas sabia que ainda tinha que arcar com as consequências de meus atos, escolhas minhas, mas infelizmente não foi apenas eu que peguei. Sempre tinha que dar algo de errado, só não esperava que fosse no melhor momento da minha vida. Não esperava que a minha família, as pessoas que eu mais amo na vida e que sempre quis proteger de tudo, pagariam por minhas ações. O que eu menos queria no mundo aconteceu, sabia que a minha vida traria consequências e que teria que as enfrentar uma hora ou outra, mas não achava que séria tão cedo, ou tarde o suficiente que daria para criar uma família e eu finalmente ser feliz...

Hoje reconheço, as consequências demoraram demais para acontecer.

Se fosse mais cedo, não teria que fazer a única pessoa que realmente amei sofrer e passar por tudo o que passei. Mas se fosse mais tarde, poderia ser muito pior. As minhas consequências se espelham nas ações de Funbabe, e eu me arrependo por isso, me arrependo por ter metido ela em toda essa história, de ter a envolvido na minha bagunça que chamo de vida. Minha vida é uma confusão, sempre foi assim, e eu me acostumei com isso. Tinha me acostumado, pelo menos até encontrar Funbabe, quando a vi saberia que minha vida estava prestes a virar de cabeça pra baixo, o rumo da minha vida tinha mudado e sentia que a confusão que era minha vida, se cessaria. Eu estava certo, ou pelo menos achava, até tudo voltar a tona e a pessoa que eu mais queria proteger e dar todo o meu amor e carinho é que entrou na minha confusão e está pagando por algo que não fez, está pagando por uma escolha minha, a escolha mais errada que eu já fiz e que me arrependo amargamente.

O sinal para voltarmos às celas toca e eu retorno para a minha.

Chego lá e pego o celular que Fun me deu e olho a foto de papel de parede; uma foto minha, dela e de nossos filhos. Uma lágrima cai do meu olho  e logo a limpo e guardo o telefone, em troca pego um livro e me deito na cama

Uns 20 minutos depois Vítor aparece e não tinha uma cara muito boa

Vítor: cara... Tenho uma coisa pra te contar - ele fala receoso

Gab: fala logo Vítor. Fala e vaza, não enrola que não tô com paciência pra ladainha - falo olhando para o livro

Vítor: eu não sei como te dizer o que eu tenho que te contar agora

Gab: fala com a boca, é só dizer com palavras - falo e finalmente o encaro

Vitor: ok, olha só... Você tem que ficar calmo, tenta não surtar

Gab: que merda aconteceu? Que porra você fez Vítor?

Vítor: olha, você já está se exaltando e tem que ficar bem calminho pra o que eu vou te dizer

Gab: você está esgotando minha paciência que eu já não tenho

Vítor: é sobre a sua mulher

Dou um pulo da cama e ele se assusta com minha reação, fico tenso quando ele fala sobre ela

Gab: o que aconteceu? Fala logo caralho

Vítor: aconteceu uma briga feia e ela... - ele deu uma pausa

Gab: o que aconteceu com ela Vítor? - vou pra cima dele, mas me acalmo um pouco

Vítor: ela... Morreu - o meu mundo desabou naquele momento, caí de joelhos no chão, eu só conseguia chorar cada vez mais. Vítor tentava me acalmar mas eu não parava de chorar e gritar.

Todas as memórias que passamos juntos, todas as imagens dela passavam por minha cabeça, tudo o que construimos todos os nossos momentos mais banais aos mais especiais, tudo o que planejávamos, TUDO acabou, minha vida não tem mais sentido, agora eu tenho certeza, eu perdi o que eu mais amava na vida, minha vida acabou, eu estou morrendo junto a ela, eu acabo de morrer junto com ela.

E pensando nisso que minha visão começa a ficar turva e minha respiração falha

Gab: Funbabe - é a última coisa que eu digo antes de apagar de vez e não sentir mais nada