Conto III

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Eu não sei como descrever o que aconteceu durante a semana.

Na verdade, quando penso nisso sinto a dor de cabeça repentina que se alonga da base de minha nuca até a testa e rosto, tornando a minha carranca em horror puro. 

O ponto, acredito eu, é que isso começou no dia em que pisei — sem modos —, a oferenda de uma entidade particularmente ciumenta com a sua louvação. 

Lembro pouco — pausa para respirar— daquela sexta-feira 13. Mas tenho na memória apenas o ranço daquela semana no trabalho. 

Lá na firma foi uma coisa de cão, isso tenho certeza. 

O gerente de projetos passou as últimas doze horas cobrando de todos os analistas, incluindo a mim, os relatórios anuais da última conta que veio do governo devido à auditoria mensal pela qual a empresa passava. 

O Roger, um colega esquentado como ele só, socou a mesa, e disse para o senhor-tal-gerente:
"Porra! A sua mulher não reclama tanto enquanto chupa os meus ovos". O Gerente corou de raiva, e eu não tiro a razão do sujeito, afinal, metade da equipe de contabilidade riu do desaforo.

"Não tão diferente da sua mãe", respondeu o gerente, partindo para cima do Roger entre papéis, computadores e a pobre da Ediane, que deixou cair café no seu belo par de coxas.

Foi um verdadeiro deus-nos-acuda! E o pior, é que essa coisa se estendeu por toda a semana.
Até que, por fim, veio o Sr. Morato, conhecido na diretoria como duas-cabeças (e não me pergunte o motivo do apelido); ele é um dos diretores financeiros e tinha o poder de colocar a equipe na linha reta. 

E foi o que ele fez.

Bem, com as deliberações iniciais fracassadas, já que ninguém quis substituir o gerente. E o Roger estava fora do jogo com uma puta advertência nas costas. Eu acabei sendo nomeado como líder daquela empreitada burocrática. O herói fodido para resgatar os malditos relatórios. 

E assim a semana seguiu. 

Eu me sentia um osso e eles os cães brigando para chupar o resto de tutano que me sobrara. Lá pela quinta-feira, chamei a Ediane em particular. A gente foi conversar no almoxarifado do escritório. Mas foi um papo bem rápido porque a Betina, a faxineira do nosso andar, abriu a porta.

Não deu tempo de gozar. O que me deixou irritado. 

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