Capítulo III

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Após estarmos viajando durante longas horas cansativas, Ethan finalmente me faz um sinal ao dar duas breves batidas em minha cintura, enquanto permanecíamos montados sobre o garrano. De longe consegui avistar o primeiro vilarejo pálido pela neve e pela cor das casas, que estranhamente combinavam. Bege e algumas com cores extravagantes. Outras pretas e apenas sem cor alguma. Senti a euforia cobrir-me e então, quando Ethan puxou as rédeas para frear o animal, mal esperei quando ele saltou do cavalo e estendeu a mão para me ajudar a descer.

Continuei vidrada no pequeno vilarejo surreal, como sempre estive acostumada a ver em filmes de épocas, e ao tentar pegar a sua mão, caio de cara na neve.

— Vai com calma. — Ele disse com o olhar sério enquanto me levantei, limpando a roupa que se sujara de neve. — Existem formas melhores para se machucar.

Dobrei a cabeça e rolei os olhos.

— Engraçadinho. Estou bem para sua informação! — Pisquei para o seu rosto enquanto vestiu a máscara para que ninguém conseguisse vê-lo. — Para que se esconder tanto?

Ele deu de ombros.

— Precisamos averiguar. — Respondeu e ajeitou o peso do arco preso nas costas. — É o meu retrato que está estampado em todos os estados do continente Cothür.

Observei-o com cautela enquanto respirou fundo dando sinal para que começássemos a andar para o vilarejo. Ethan puxava o cavalo e demonstrava explicitamente desconhecer o lugar e andou com calma, devagar, mantendo sua posição de “caçador, procurado” ao escutar, sentir e observar tudo e todos ao redor. Tentando ao máximo, fazer com que nos misturássemos pela multidão para que passássemos despercebidos. E no momento em que nos aprofundamos pelos comerciantes, ele pegou a minha mão para que eu não ficasse para trás e puxou-me com um pouco mais de generosidade. Havia muitos artesões, curandeiros e alguns outros que não consegui identificar com suas barracas repletas de aparatos úteis. Tinham alguns que esticavam pedaços de tecidos para nós enquanto passávamos. Tentei observar de perto, mas Ethan me impedia e apenas murmurava “vamos, Sara”.

Em um momento sem que eu compreendesse o que o assassino tivera visto, envolveu as mãos em minha cintura com força e jogou a minha coluna contra um grande muro de pedra enegrecida e úmida de um beco fechado. Virou a cabeça mascarada e pôs o braço ao lado de nossos rostos próximos. Escutei e senti a sua respiração abafada emanar belas brechas do metal e ele pediu que fizesse silêncio. E foi então que entendi, quando que com os cantos dos olhos eu vi inúmeros homens vestindo armaduras prateadas e cintilantes pela luz do dia com uma grande insígnia pendurada no peito em respeito à origem de seus superiores.

Justamente ao meu lado vi um retrato de Ethan e assim que o mesmo percebeu, foi com as mãos da minha cintura até a parede para retirar. Ele o rasgou quando todos os cavaleiros passaram e pareceu respirar melhor como se antes estivesse sendo sufocado grosseiramente. Então, nos afastamos e percebi que minhas bochechas estavam quentes de vergonha.

— Estamos seguros. — Respirou fundo novamente. — Tente ficar atrás de mim, não fale e não confie em alguma dessas pessoas.

Virei a cabeça para o lado, sentindo-me como uma criança boba.

— Ethan, não sou nenhuma criança e não o colocarei em alguma confusão — mostrei os dois dedos se cruzando para provar fidelidade —, prometo.

— Agradeço. — Disse. — Assim é melhor.

Então nos infiltramos pela multidão mais uma vez e uma imagem perturbadora invadiu a minha visão à frente, fazendo-me tampar a boca para não gritar. Uma grande criatura de cor azul e tinha alguns pelos? O que diabos era aquilo? Um bode? Um touro? Os dois? Tinha grandes chifres que se enrolavam e as pontas se inclinavam para frente de forma aterrorizante. Havia muitas cicatrizes em seu corpo musculoso e alto. Seus olhos pareciam grandes obsidianas negras e sinistras. Esta criatura também vestia algumas poucas armaduras prateadas. Um elmo que se abria onde seus chifres passavam sem dificuldade. E no instinto, agarrei o braço de Ethan que observou-me sem entender, apoiei a cabeça em seu corpo e temi que essas coisas horrendas corressem para me matar.

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