Capítulo II

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Durante a noite escura, não consegui pregar os olhos e os mantive periodicamente abertos, sentindo-os pesados como grandes blocos de gelo, ansiando conseguir me concentrar apenas em tentar descansar. Ethan se prontificou em ficar acordado para fazer vigia, mas nem que eu me esforçasse arduamente, eu conseguia dormir. Era como tentar se afogar sem prender um pedaço de chumbo nos pés. Uma hora ou outra, você vai voltar para a superfície. O instinto de sobrevivência é feroz, mais do que a minha vontade de sair correndo por qualquer lado. Sei que se ele quisesse, já teria me matado. Mas será que isso importa para ele? O que ele poderia querer dizer com Ordem Lapidada? Algo que significaria sua possível “fuga” do mundo ao redor? Estar nessa floresta não me parece ser tão promissor.

Me encolhi quando ele caminhou para fora da zona de calor onde meu corpo já estava acostumado e um vento correu contra a minha cabeça, fazendo os meus cabelos se arrepiarem completamente. Observei-o se sentar próximo a uma árvore, estranhamente, eu sentia que ele gostava de ficar sozinho e com aquela mesma adaga de empunhadura vermelha com um diamante anormal no pomo. Tentei fechar os olhos novamente e não me dei conta de quando adormeci.


Ele estava ao meu lado. Senti o calor humano novamente e alguns grunhidos serem ecoados por baixo de sua máscara. Ele parecia estar em um pesadelo bem desagradável, escutei nitidamente a palavra “Adamas” e depois “eu sinto muito”, “pai”. Então, sentei-me com delicadeza para não acordá-lo. Tudo ainda estava escuro, talvez fosse de madrugada. Umas quatro horas. Afaguei os meus braços esperando que um calorzinho qualquer me aquecesse, mas não funcionou e puxei a manta negra para mais perto dos meus joelhos curvados.


Observei as árvores enquanto balancei-me como se estivesse em uma cadeira – o movimento podia me ajudar e ele bloqueava um pouco as baforadas do vento nevado –, elas eram tão altas e robustas o que fazia-me crivelmente acreditar que não estou na Noruega. Estou mais longe de casa do que eu imagino. Algum sentimento em meu corpo começou a surgir, raiva? Agonia? Ou tudo ao mesmo tempo. Principalmente por precisar da ajuda de um homem assassino, o mesmo que o guia no museu falava, para sobreviver. Isso é ridículo! Por que estou aqui? Maldito turíbulo. Eu só queria que isso fosse um sonho louco, que eu acordasse no museu com Chelsea ao meu lado, me chamando de Branquela e falando o quanto eu sou fresca por ter desmaiado com o frio.

Talvez a única saída seja morrendo. Se estou em um lugar onde eu nunca deveria estar, provavelmente a solução seja esta, o que enche o meu estômago de medo. Observei Ethan novamente, com aquela mesma máscara sinistra.

— Ah, por favor, poderia matar-me senhor mascarado? — Sussurrei para que ele não escutasse e esfreguei as mãos nos olhos. Essa parecia ser uma boa escolha. — Mascarado… — Repeti quando percebi que mais do que nunca, estou tremendamente curiosa para ver o seu rosto, mesmo prevendo que me decepcionaria. Ele deve esconder um rosto horripilantemente medonho por trás da máscara de metal. Uma deformidade horrorosa que deve assustar até os lobos que já estão mortos. Talvez fosse melhor ele ficar com essa máscara. A voz dele o torna ridiculamente desejável e atraente.

O que estou pensando, afinal? Ele matou oito homens! Oito! E mais quatro lobos para finalizar sua pena.

Sinto a ponta da lâmina tocar a minha barriga levemente, onde eu havia deixado. Curvei a cabeça, tentando resgatar alguma ideia louca que estava surgindo devagar na minha cabeça e então, ao pegá-la, deixo cair um pedaço de papel amarelado e repugnantemente velho, que estava guardando em algum dos seus bolsos da capa negra. Ele se remexeu e eu o fisguei por alguns minutos. Ele estava acordado? Se estivesse, já teria se levantado?

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