Capítulo Único.

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Tive o mesmo sonho. Dois dragões ao meu lado enquanto estava sentado no trono do Senhor do Fogo. Um me dizia o fracasso que eu sou, o outro me consolava.

Me levantei apenas para perceber que ainda não tinha amanhecido.
Pego alguma roupa apenas pra me aquecer, e saio de fininho para ir a fonte conversar com os turtleducks.

A guerra já acabou, minha rotina como Senhor do Fogo é simplesmente horrível. Não tenho um segundo nem para fingir que eu tenho paz.
E o pior de tudo é que Sokka vai ficar aqui por um tempo, ele me disse alguma coisa sobre estudar a visão sobre os mais velhos sobre a guerra, sinceramente eu não consegui prestar atenção em nada que ele disse. Aqueles olhos azuis me hipnotizam e eu acabei só concordando com o que ele estava dizendo.

E agora eu estou aqui, prestes a ter uma crise de ansiedade as quatro da manhã enquanto o cara que eu amo está dormindo em algum dos quatros do meu castelo.

Começo a andar inquieto, e tomo a melhor decisão possível, entrar na fonte.
Agora sim, nada pode piorar.

Mas é claro que pode, pois foi só eu pensar nisso para começar a ouvir uns barulhos no mato.

-Olha, seja quem for que estiver aí, é um péssimo momento para um ataque ou um atentado, não pode esperar até sei lá, depois do almoço?

-Zuko, sou eu.

Ah, ok, talvez não seja tão ruim assim. Não, espera, eu to de roupa dentro de uma fonte num frio do caralho, isso é péssimo.

-Ah, oi Sokka.

-Porque você não tá dormindo? Não tem coisas importantes pra fazer amanhã?

Ele chegou perto, tirou os sapatos e entrou na fonte também, preferi ignorar, dei espaço para ele e olhei para o céu.

-Na verdade, eu tenho. Mas estou aqui fingindo que não, que eu sou só um adolescente normal numa noite normal.

-Bem, eu sou um adolescente normal numa noite normal.

-Ah, merda, não foi isso que eu quis dizer, Sokka.

-Nah, relaxa, eu entendi. Só acho que tipo, nós ainda somos adolescentes normais que fazem coisas idiotas, seu título não anula isso.

-É, eu sei, só é meio impossível pensar nisso quando dragões gritam na sua cabeça, digo, os caras que fazem minhas orientações.

-Eu sei que eles são feios e chatos, Zuko, mas não acho que dragões seja uma boa comparação. Mas e aí, quer me falar o que veio fazer aqui?

Ok, tudo já foi pros ares, não tem mais nada pra estragar.

-Eu tive um sonho, na verdade acho que um pesadelo. Tinha esses dois dragões estranhos, eu já sonhei com eles antes.

Olhei de canto pra ele, agora ele também olhava para o céu. Virei meu olhar em direção a lua quase sumindo.

-E eles eram maus? O que te fez acordar e vir pra cá no meio da madrugada?

-Eles, eles ficaram falando sobre mim, um deles ficava dizendo que eu era bom e que eu sempre dava o meu melhor, mas o outro era, sei lá, estranho.

-Não precisa falar se não quiser, ok? Só acho que você precisa dormir melhor e talvez conversar ajude.

-É, ajuda um pouco. Enfim, o outro disse que eu era um fracasso e que eu devia desistir, que eu tinha sorte de ter nascido, e eu nem queria ter nascido.

Merda, falei demais. Não desviei o olhar da lua, mas senti Sokka me encarando. Ótimo, estraguei tudo.

-Ei, Zuko. Eu estou aqui, ok?

Sinto ele segurar minha mão dentro da água gelada.

-É, eu sei, desculpa, por estragar o clima.

-Tá tranquilo, mas acho que podemos continuar isso lá dentro né? Eu to congelando aqui.

Ele ri, levanta e pega minha mão.

-Hm, Sokka? Que tal se nós pegássemos alguma coisa pra comer?

-Por mim tá de boa, desde que eu possa tomar um bom banho antes.

Entramos no castelo, não tão discretos quanto imaginávamos, mas quem se importa? Eu literalmente mando nisso tudo. Pegamos marshmallows e alguns biscoitos, depois que Sokka tomou banho, ele voltou ao meu quarto.

-E que tal se a gente ficar fazendo sombras nas paredes ou rindo de alguma merda que eu a Katara fizemos quando éramos crianças? Teve uma vez que eu cortei o meu cabelo pra ficar o igual o dela quando ela fez um corte errado, foi engraçado.

Ri, mas de verdade. Bem, no fundo eu me sentia mal porque tenho certeza que se isso acontecesse na minha família, a Azula teria cortado o meu cabelo e eu ia acabar ficando com toda a culpa.

-Todas as histórias que você conta são engraçadas, Sokka. Até aquela de quando você confundiu uma foca com um pinguim.

-Não, não mesmo, aquela é uma merda!

No fim, nós dois rimos. A essa altura já devia ter passado das cinco da manhã, mas tudo bem, o tempo passa rápido quando se está com quem você ama, né?

E no fundo nós realmente somos dois adolescentes que fazem coisas idiotas, e passar um tempo nessa realidade não é tão ruim assim.

Ainda mais quando se está com alguém que você ama.

Talvez eu realmente tenha sorte por ter nascido, caso contrário, eu não conheceria o amor da minha vida.

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I guess I am lucky to be born, after all. Onde histórias criam vida. Descubra agora