Capítulo 1- Júlio

27 4 1
                                    

Estranho, calado, tímido, antipático, mal-humorado, inteligente, esquisito. Esses são alguns dos adjetivos que as pessoas gostam de me rotular. Para ser sincero, não sei dizer ao certo o que sou, talvez seja algum desses perfis que as pessoas dizem mesmo.

 

Meu nome é Júlio, tenho 20 anos e estou cursando matemática. Daí já vem o primeiro espanto, afinal de contas ninguém entende por que um jovem, em sã consciência, decide fazer faculdade de matemática. A primeira afirmação que fazem é: "Olha que legal você vai ser professor!" e eu digo: "Não, na verdade estou fazendo bacharelado". Após isso, vem o segundo espanto, pois se as pessoas não entendem o porquê de eu fazer matemática, entenderão menos ainda como posso fazer bacharelado, afinal de contas para que serve um bacharelado em matemática?

 

Quando escolhi o que cursar, apenas quis escolher algo que me trouxesse uma boa estabilidade financeira, nunca tive grandes pretensões. Atualmente, estou fazendo estágio, meu salário é ridículo, mas dá para sobreviver. Acredito que depois de formado será melhor.

 


 

Nasci, vivi, vivo e, provavelmente, irei morrer em uma cidade do interior de Minas Gerais, chamada Varginha, sim, aquela famosa cidade do E.T de Varginha e, assim como eu, é cheia de rótulos. Apenas isso, pois nada mais de importante acontece nesse lugar, nenhuma banda interessante vem aqui, nenhum evento grande acontece aqui, só recebemos muitos turistas procurando a tão falada estátua do E.T e coisas do tipo.

 

Tenho 1,80 de altura, sou bem magro, quase esquelético, cabelos lisos e uso um óculos de 5 graus, o que me faz depender dele o dia inteiro e me dá outro apelido, que esqueci de men- cionar: "Harry Potter", enfim não sou nem um pouco atraente. Moro em um apartamento com minha mãe Lígia e meu irmão Caio. Meu pai faleceu quando eu tinha quatro anos, não tenho tantas recordações dele, mas sinto sua falta.

 

Meu irmão, ao contrário de mim, é o sonho de consumo das garotas da região e das turistas, ele tem 25 anos, é simpático, extrovertido, charmoso, malhado, adora contar uma piada, frequenta todas as baladas e trabalha como personal trainer e adora tirar sarro da minha cara, sendo um dos primeiros a praticar bullying comigo.

 

Nossa relação não é muita boa. Péssima para falar a verdade. Seu excesso de perfeição me tira do sério e eu não gosto muito de sair com ele, porque sempre sou o patinho feio e ele o belo cisne, batendo suas asas. Reconheço que minha birra com meu irmão é pura inveja, mas quando minha mãe pergunta, digo que é pelo fato de ele caçoar de mim. Por falar da minha mãe, ela é uma pessoa que eu admiro muito, embora seja nítida sua preferência pelo Caio, afinal ele quase nunca está de mau humor e a faz rir, enquanto eu estou sempre deprimido.

 

Minha vida baseia-se em acordar cedo, ir para a faculdade, sair da aula, ir para o estágio, estudar em casa e dormir. Aos finais de semana, normalmente fico enfurnado no quarto estudando e quando não tem o que estudar eu procuro ou fico lendo outros livros. Minha mãe diz que tenho que sair, para me socializar mais, mas eu odeio sair, pois tenho a impressão de que as pessoas estão rindo da minha cara e não gosto de fazer amizades, porque não tenho saco para mantê-las.

 

Só tenho uma amiga, seu nome é Brigite. Uma moça gorda do meu serviço, de 45 anos, solteira, formada em contabilidade, encalhada e fofoqueira, ninguém gosta dela, então ela se aproximou de mim.

 

Nossas conversas são um monólogo, enquanto ela fala 10 palavras eu falo meia. Às vezes, gosto da companhia dela, por imaginar como será minha vida no futuro, pois tenho certeza de que serei igual a ela, encalhado e solitário, acredito que não serei gordo e tampouco falante como Brigite, serei apenas um velho isolado, rabugento.

 

Não tenho grandes planos para o futuro, apenas quero conseguir um bom emprego, poder me sustentar e contribuir com o grande esforço que minha mãe fez em me educar. Sobre casar, ter filhos e viver uma vida típica de novela das seis, acho que não será possível. Pai nunca tive vontade de ser, porque não gosto muito de crianças, já casar e viver um grande amor eu sempre quis, mas mal consigo chegar perto de uma mulher que ache bonita, sem falar uma frase sem gaguejar, é porque talvez eu até sinta atração por outras mulheres, mas apenas uma eu amo e vou amar eternamente, o nome dela é Isabela.

Isabela foi, é e sempre será o grande amor da minha vida. Grande parte da minha falta de otimismo pela vida e meu mau humor cotidiano se deve à falta que sinto em poder vê-la e ter coragem de lhe dizer que a amo, mas enquanto isso não acontece, e nem sei se irá acontecer, continuo me remoendo com essa saudade e esse sentimento de vazio que ela deixou em mim, desde que se mudou para São Paulo.


Para quem gostou da história e quer continuar acompanhando a saga do Júlio, a versão completa está disponível na Amazon, Lojas Americanas, Google Book e diversas outras lojas. Acesse o site da Editora Viseu, www.eviseu.com e saiba mais.

Me sigam no instagram e acompanhem também novidades deste romance, www.instagram.com/cesaraugustoescritor_

A Menina dos Lábios de CerejaOnde histórias criam vida. Descubra agora