1| O mais puro encanto.

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Enquanto sou privilegiada pela visão de seu perfil, assisto a entrega da sua atenção ao céu vasto e azul puro — sem nuvens, mas que aos seus olhos ainda é encantador —, me pergunto se não é ele quem está sendo admirado por toda a galáxia à fora

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Enquanto sou privilegiada pela visão de seu
perfil, assisto a entrega da sua atenção ao céu vasto e azul puro — sem nuvens, mas que aos seus olhos ainda é encantador —, me pergunto se não é ele quem está sendo admirado por toda a galáxia à fora. Ele lança o olhar à beleza da vida, mas ela sem escolha, o aprecia de volta. O todo do mais puro encanto está ali.

Ele, ele, ele...

Qual será o nome sortudo que foi escolhido para acompanhar sua vida? Não o conheço, mas com certeza não há contornos mais singelos, sedutores e elegantes nesse planeta.
Sentada na minha mesa, enquanto meu olfato é agraciado pelo cheiro arrebatador que expele do meu chá de hortelã, desvio meu olhar para o garçom, que agora deposita um pratinho branco de porcelana, com um garfo pequeno de pontas finas, sem detalhes, apoiando uma fatia de bolo de fubá à minha frente.

"Gostaria de algo mais?"

Pergunta, mantendo suas mãos à frente do corpo. No momento, eu quero sim, quero mudar de assento, pois o vidro transparente ao meu lado não permite que eu admire a paisagem com tamanha nitidez.

"Tem alguma mesa vaga no lado de fora?"

Pergunto, com o coração ansioso pela resposta que virá. Não sei o que pretendo, mas com certeza a minha maior intenção é poder observá-lo melhor. A miopia, que apesar do uso constante do óculos, ainda afeta minha capacidade de enxergar detalhes de longe.

"Não tenho certeza, mas verificarei para você."

O funcionário então sai, sem antes notar o assinto que realizei com a cabeça. E logo, volto desesperadamente meu foco para ele: o encanto dessa tarde. Agora desço o olhar no desenho perfeito de seu nariz, que posso afirmar com toda certeza que harmoniza com todo o conjunto de seu rosto — mesmo tendo acesso à apenas seu lado direito. Observo agora as roupas que enfeitam seu corpo: uma camiseta larga, de manga longa, leve, de cor branca, acompanhada por uma abertura em sua clavícula tão bem acentuada, graças aos dois únicos botões existentes, desatados. Vestido numa calça moletom de cor preta, provavelmente escolhida para o próprio conforto, nessa tarde de brisa suave.

Por mais que seus pés estejam acompanhados por um chinelo marrom, ele aparenta gostar mais de deixá-los livres de qualquer amarra; seu calcanhar esquerdo repousa sob as pontas dos dedos de seu pé livre, que descansa por cima do chinelo levemente amassado. Não sei bem quando comecei a nota-lo, não sei quando me perdi no balançar suave dos fios soltos, longos, lisos e escuros de seu cabelo, assim como também não sei como não percebi a presença do garçom ao meu lado limpando a garganta numa tentativa falha de chamar minha atenção — normalmente sou bem sensitiva quando alguém se aproxima.

"Moça, eu encontrei uma mesa livre para você no lado externo do café."

Fala, me tirando à força do transe que nem percebi que havia entrado. Com o coração um pouco descompassado pelo leve susto que me foi dado, apenas agradeço com um sorriso fechado e logo sigo o comando de suas mãos até a mesa que me foi encontrada, enquanto carrego minha bolsa marrom no ombro direito. Assim que atravesso a porta de vidro, sinto a brisa fresca das 16h trazendo um leve cheiro de café adocicado — proveniente de alguma mesa presente —, beijar a minha pele.

Ousadia de nuvem, cor de nuvem. KTHOnde histórias criam vida. Descubra agora