"Então você decidiu isso depois do que eu disse?"
Pergunto, cravando as unhas na barra do short jeans, sentindo todos os nervos do meu corpo em rebuliço, sentada no mesmo banco de quando Taehyung tirou uma foto minha com sua câmera, após observar a luz que, segundo ele, beijava os meus cachos, transformando-me no fenômeno que dava sentido ao meu nome.
"Eu já estava pensando nisso antes mesmo de conhecer você, Aurora, mas foi com você que consegui pela primeira vez colocar para fora o que estava me angustiando. A diferença é que antes eu estava com medo, mas depois de tudo que você me disse naquela tarde em que chorei em seus braços, além do conforto que recebi, refleti bastante e finalmente recebi o impulso que precisava. Eu estava com medo de arriscar, me sentia fraco e pequeno por tanto receio que me apertava, mas eu percebi que estava tudo bem me sentir assim, afinal, a coragem não é a ausência do medo."
Diz, alisando o polegar suavemente na minha bochecha, como se pudesse ver as lágrimas invisíveis do meu peito em pranto, limpando-as e as transferindo para as suas digitais. Pelo que me fala, essa decisão traz conforto em seu peito, e sim, eu fico feliz que eu tenha tido participação em seu avanço, mas por que estou me sentindo tão desamparada? O que eu sinto por ele é algo tão egoísta e mesquinho assim? O que estou fazendo com ele, afinal? Me sinto ridícula pela minha reação seguinte, quando finalmente - ou desnecessariamente - minhas lágrimas tornam-se visíveis, tocando verdadeiramente suas digitais.
Controle-se! Não é disso que ele precisa agora, o que há com você?
Mas já é tarde demais, Taehyung me envolve em seus braços, afagando meu cabelo se fazendo meu abrigo, da mesma forma que fiz com ele no meu sofá há quase um mês atrás. Posso sentir a rapidez do pulsar do seu coração contra a camisa fina que vai de encontro à minha bochecha. Estamos em público, e normalmente chorar em situações como essa tornaria a inquietação do meu peito ainda mais aterrorizante, mas Taehyung não permite que eu seja vista por olhos alheios, já que esconde meu rosto com um dos braços substituindo - como um disfarce - meu momento de vulnerabilidade para a cena de um jovem casal abraçados num banco de um parque numa noite sem estrelas.
Mas sua atitude tão sensibilizante e empática faz doer ainda mais o meu peito, dilacerando todo resquício de estabilidade do coração angustiado, sinto todo o fardo da culpa pesar em meus ombros. Eu quero explicar para ele, quero dizer que o apoio em qualquer decisão, mas sou egoísta o bastante para me concentrar somente na força da culpa de estar ciente que não o mereço. Ele está sendo bom demais para mim. E agora, só posso soluçar, igual uma criança perdida dos pais no meio de um supermercado lotado.
"Aurora, me desculpa, eu deveria ter te avisado bem antes, eu não previ suas reações, eu não queria te assustar ou te pegar de surpresa assim."
Fala contra o meu cabelo que cobre boa parte do meu rosto inundado por cascatas pesarosas, sentindo seu hálito aquecido tocando a pele escondida pelos fios, mas o corte só aumenta, gradativamente, em cada palavra expelida da voz baixa e repleta de arrependimento. Eu que deveria pedir desculpas, não ele, e não consigo verbalizar o quanto eu sinto muito por estar agindo de forma tão tola. Quero me desvencilhar dos seus braços e encará-lo, dizer tudo que eu sei que deveria, mas ele me aperta ainda mais, me afundando contra o próprio corpo macio e mais aconchegante que um travesseiro fofinho.
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Ousadia de nuvem, cor de nuvem. KTH
Romance"Tu para mim é como nuvem, daquelas que ousam encobrir o intenso raio de sol, que, mesmo não ocultando suas torrentes solares por completo, disfarça seus feixes de fogo. Você possui a ousadia de nuvem, a cor da nuvem".♡ História inspirada inicialmen...