CAPÍTULO 1 - PANIS ET CIRCENSES

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Fevereiro de 1908, Hendeston, Inglaterra

Ao aproximar-se do mercado o jornalista correu, ajeitando os seus óculos tão diminutos. Ele, ao que retomava fôlego, passou a observar a movimentação e escutou uma conversa ao seu lado, puxando tão rapidamente as perguntas do grande acontecido. — Prazer, senhores, meu nome é Theodor Clutterbuck, sou jornalista do The Prosperous. — Apertou a mão do homem cujo observava toda a situação. Havia um grande buraco na parede do mercado e uma desorganização tremenda. — Na noite passada, todos os habitantes de nossa Hendeston ouviram um grande estrondo. Sabes o que verdadeiramente acontecera? Dê-me seu nome, por obséquio. — Falando aquilo, segurava seu pequeno caderno para notas e caneta, anotando cada uma das palavras seguintes do vendedor. O Mercado Davies era central e também maior fornecedor da cidade, porém, nunca sofrera um ataque daqueles. 

O vendedor falou que aquele barulho fora causado por um explosivo, o qual destruiu a parede lateral do Mercado Central (como mais era chamado). Entretanto, o fato estranho: mesmo com tantas pegadas e algumas sacolas ao chão, nada, absolutamente nada, foi roubado pela noite. Segundo o dono, o inventário demonstrou que tudo continuava ali. E era esse o grande mistério. Ao terminar a entrevista virou-se para observar o buraco, mas foi quando Cesar Hinxtone apareceu, descendo das escadas com o proprietário do local — de nome George Davies. 

Levando uma das mãos à cabeça, Clutterbuck respirou fundo antes de andar até os outros e cumprimentou Davies, recebendo um olhar sarcástico de Hinxtone — este último sabia que Theodor não conseguiria uma  reportagem melhor que a sua, tendo a entrevista do próprio proprietário e isso em primeira mão. Cesar, despedindo-se de George, passou a andar ao lado de Theodor, sem ser cumprimentado. 

— Caso queiras carona, meu caro amigo...

— És ridículo. — Interrompeu-o. 

— E tu és invejoso. Ah, Theodor, deixe-me ver o que conseguistes com o vendedor... — Foi pegar as notas, mas o outro tirou de seu alcance, recuando também. — Fui esperto dessa vez. Os três últimos furos¹ tu me roubastes, chegando primeiro e com mais informações. Porém, desta vez, mandei alguém em meu nome entregar a notícia e vim pessoalmente falar com senhor Davies para complementá-la. 

Clutterbuck o olhou seriamente, jurando para si mesmo que não deixaria o outro dar outro grande passo como aquele. Respirando fundo, ouviu o que Hinxtone tinha encontrado e procurou não demonstrar sua raiva, embora ouvisse deboche vindo, constantemente, do que era amigo. Cesar era um homem alto, de cabelo escuro e olhos azuis acinzentados, ao contrário dos de Theodor, os quais eram muito acesos. Apesar das suas feições gentis, ele conseguia irritar a Clutterbuck como ninguém. 

Mais tarde, saindo do The Prosperous, o jornalista estava furioso; Cesar Hinxtone conseguira notícia para a primeira página e restou-lhe apenas dar a opinião, tendo todos achado incrível o fato de Hinxtone ter achado, sozinho, pertences dos quase assaltantes. Conheciam-se havia muito mais de vinte anos e ambos se tornaram mais competitivos com o tempo, por querer sempre conquistar a falada primeira página. O filho de Hinxtone, Irving, dizia que era coisa da idade — "Ora, isso demonstra apenas que, quanto mais idade ganham, mais resmungões ficam. Tenho medo do que enfrentarei vinte anos a frente" —, mas Theodor não se sentia velho aos seus quarenta e um, muito pelo contrário. Velho é Cesar! De mente! Pensava. Não dizia de carne, pois era apenas um ano e meses mais novo e ofenderia a seu próprio ego, muitíssimo vaidoso.

— Não consigo acreditar que ele roubou de mim outro furo, Ed. — O jornalista falou ao seu gato preto, que costumava ficar na frente da Redação. O peludo encostou-se na perna de Theodor e recebera carinho, ronronando. Clutterbuck saíra para tomar um ar após argumentar fortemente que também tinha direitos, e, sendo ignorado, estressou-se. — Estou furioso. Sei que tive grandes matérias esse começo de ano, entretanto... Ele não pode crescer o nome em cima do meu! Cesar falou como se estivesse completamente sozinho! Levou todo crédito! Depois que conversamos nós vimos, juntos, os pertences dos assaltantes, mas ele foi baixo: pisou no meu pé e avisou aos policiais do achado. Foi deslumbrado por todos! E eu morrendo de dor!

Após o chá das cincoOnde histórias criam vida. Descubra agora