Perdido

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No meu apartamento, a temperatura estava extremamente agradável em relação ao vento gelado e molhado que estava lá fora.

Maria Alice entrou esfregando os braços e foi direto para o sofá enquanto eu largava as chaves na mesa e corria em direção ao meu laptop.

- Você pede a comida e eu entro no Facebook – gritei enquanto procurava.

Quando voltei para a sala, notei que ela estava apenas de meias, sentada sobre as pernas cruzadas no sofá, com meu celular nas mãos.

- Pedido feito – falou colocando as mãos atrás da cabeça.

Enquanto o computador ligava na mesinha de centro, fui para cozinha buscar alguma coisa para bebermos.

- Vinho? – gritei com a cara dentro da despensa.

- Com certeza – gritou em resposta.

Quando voltei com as duas taças e a garrafa já aberta, o laptop já tinha iniciado.

Deixei as taças e o vinho sobre a mesinha e corri até a minha bolsa sobre a mesa de jantar para pegar o papel com a anotação do nome e a foto do rapaz desconhecido.

Olhei para o papel brevemente e depois me demorei com a foto. Como se eu pudesse me transportar para aquela atmosfera, senti o cheiro da brisa do mar vindo com o vento até mim.

- Oie – Maria Alice estalou os dedos a minha frente para chamar atenção. – Você está mesmo envolvida com essa foto, não é? – quis saber servindo o vinho nas taças.

- Sei lá – confessei colocando a foto na mesinha.

Mexi nos cabelos confusa enquanto avaliava a pergunta. A resposta era afirmativa.

Tomei um gole do vinho enquanto tentava concatenar as ideias.

- Alguma coisa aqui mexeu comigo, mas não faço ideia do por quê.

- Tô vendo – falou desconfiada bebendo de sua taça.

Chacoalhei a cabeça para concentrar e estralei os dedos da mão no melhor estilo pianista.

- Vamos lá – soltei enquanto entrava na página do Facebook.

- Você deu foi é sorte de ser um nome tão estranho. Filipe com i e esse sobrenome que mais parece um espirro – falou pegando o papel que tinha o nome de cima da mesinha.

Digitei com cuidado, lendo cada letra para ver se estava tudo correto. Dei uma golada generosa no meu vinho e finalmente apertei o enter.

- Voilà – minha amiga disse entusiasmada quando o perfil dele surgiu. Até me assustei de vê-la animada daquele jeito.

Mirei a foto colorida a minha frente e depois a pequena foto que apareceu na busca. Com certeza era ele.

Ao clicar no link, a surpresa: bloqueado.

- Aff... que ódio – Maria Alice proferiu como se fosse um gol perdido na final da Copa do Mundo. Recostou no sofá como se a batalha estivesse perdida.

Bufei de indignação esfregando meu rosto.

- Deve ter outra rede social, todo mundo tem – tentei.

Mas ele não.

- Nem Instagram? – Maria Alice estava em choque.

– Vou jogar o nome dele no Google, com certeza aparece alguma coisa. Como você disse é um nome...

Não consegui terminar a frase já que fui interrompida por sons indecifráveis vindos de Maria Alice.

Estava se contorcendo no sofá com o celular dela na mão. Parecia alegria, mas eu não pude ter certeza.

Nem o som do interfone anunciando que nossa comida tinha chegado, fez com que ela sossegasse.

Recebi nossa comida chinesa e esperei alguns segundos de pé em frente a ela. Na ausência de resposta, perguntei logo de uma vez.

- O que está acontecendo?

- Karina... – disse como se eu fosse insignificante e ela estivesse ocupada demais.

- O que tem ela?

- Mandou mensagem.

Vê-la nesse estado era novidade para mim.

Sorri ao me sentar com a minha comida na mão.

- O que ela quer?

- Quer saber se achamos seu amigo.

Meu sorriso desapareceu.

- Dê as boas notícias para ela.

Maria Alice digitou com rapidez e então deu risada.

- Talvez você me deva um mês de janta por sua conta.

- Por quê? – larguei meu hashi dentro da caixinha e meio que me amontoei nela para ver o que Karina dizia.

- Ela conhece alguém no DETRAN – virou o celular para mim com um sorrisinho triunfante. – Ainda hoje, teremos o endereço desse cidadão.

- Isso é legal? – estranhei.

- Com certeza não... – falou já perdendo o interesse em mim. – Assim que o cara responder para ela, te aviso.

- Peguei a foto, recostei no sofá e continuei bebendo meu vinho enquanto olhava para a imagem de um completo estranho. Eu estava enfeitiçada por uma foto, um pedaço de papel brilhante.

Mais de uma hora depois, eu já tinha terminado com a garrafa, escutado todos os tipos de risinhos e tremeliques quando finalmente cedi e adormeci.

Não sei quanto tempo fiquei apagada até sentir as costas da mão de Maria Alice batendo na lateral da minha coxa.

- Sofia, pelo amor de Deus, acorda.

Seus olhos ainda estavam vidrados no celular.

- Que foi? Que horas são?

- Encontramos ele.

- Jura? – meu sono começou a sumir.

- Sim... – ela não parecia tão animada. – tem só um probleminha – deu um sorriso amarelo e finalmente virou para mim. – Ele já morreu?

A Foto no Meio do LivroOnde histórias criam vida. Descubra agora