A confusão em suas palavras era nítida.
- O quê? - fiquei de pé.
- Foi isso que os amigos doidos da Karina fuçaram até achar. Está nesse cemitério aqui - virou a tela para mim.
Sentei de novo derrota.
Apoiei meus braços nas coxas e permaneci com as costas arcadas pensando no absurdo todo.
- O que eu estava esperando? - ri sarcasticamente. - Podia ser casado, morar em outro estado, outro país, mas morto? Por essa eu não esperava.
- Sinto muito - Maria Alice estava genuinamente sentida.
Estava entrando para noite recorde da vida dela, a maior demonstração de sentimentos já vista.
- Fazer o quê? Dorme por aqui, está muito tarde para você sair agora - falei desanimada indo para o quarto.
***
A luz do sol surgiu pela janela que eu não tinha fechado, assim como meus olhos que permaneceram abertos a madrugada toda.
Na sala, Maria Alice dormia toda torta e estranhamente confortável, mas tinha uma perna sobrando nela.
Cheguei mais perto para ver e quase morri do coração quando Karina acordou bem na hora que aproximei minha cara dela.
- Meu Deus! - gritei espalmando a mão no coração.
- Oi... - Maria Alice respondeu sonolenta.
- Vocês duas quase me matam do coração - falei arfando.
- Desculpa - Karina pediu.
Suspirei inconformada, mas resolvi não dar atenção demais para o fato de Maria Alice ter convidado alguém sem permissão para minha casa. Afinal, elas devem ter burlado umas cinco leis ontem, apenas para sanar minha curiosidade doentia.
- Levanta aí, Maria Alice - pedi meio truculenta.
- São seis horas ainda. Não.
- Anda - joguei a jaqueta nela e a manga certou no braço de Karina que se assustou.
- O que deu em você? - Maria Alice quis saber.
- Vamos sair.
- Entramos só às oito e meia, sossega.
- Vamos fazer uma paradinha antes.
- Onde? – sentou arqueando uma das sobrancelhas.
- No cemitério – tentei soar o mais normal possível.
- Você só pode estar de brincadeira – riu.
- É sério.
- E como você sabe o horário de funcionamento do cemitério? – seu rosto estava confuso. – Pensei que a estranha era eu...
Ela se deu por vencida e em menos de dez minutos estávamos as três no carro.
- Acho que você não está bem – Maria Alice finalmente falou quando paramos em frente ao cemitério. A chuva ainda caia sem parar. Não tinha dado uma trégua sequer desde que tinha começado na manhã anterior.
Não respondi nada, só puxei o freio de mão com mais força do que pretendia.
Na administração, um senhor nos recebeu com ar sonolento.
- Sabe me informar se esta pessoa está enterrada aqui?
- Deixe me ver - ajeitou os óculos e pegou o papel da minha mão para acessar um arquivo que parecia muito com aqueles antigos de busca da biblioteca, isso antes da digitalização.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Foto no Meio do Livro
Roman d'amourAté aonde você iria para saber a história por trás de uma fotografia? Sofia jamais poderia imaginar o que ia encontrar depois de se apaixonar por uma. Conto escrito para #Desafio21 #Romance ❤ TODOS OS DIREITOS RESERVADOS PROIBIDA QUALQUER REPRODUÇÃO...