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L I L I
R E I N H A R T

ㅡ É o Met Opera, Lili, um dos maiores salões de ópera do mundo. –Mamãe ressalta cheia de admiração. — Lá acontecem os melhores e mais brilhantes concertos. –Continuou a vangloriar e eu não consegui evitar, revirei meus olhos com força e voltei a pintar a cartolina ao lado do Will.
As aulas dele já voltaram faz duas semanas, mas o pirralho tem uma mania de só avisar um dia antes, quando já está anoitecendo, que tem um trabalho para fazer. No final, eu tenho sempre que ajudá-lo.

       ㅡ E eu já disse que não irei mais tocar em um piano. Não começa, Dona Louiza. –Resmungo, contornando o título do papel distraidamente.
Minha mãe é uma mulher teimosa, acredita no que quer acreditar e quando coloca algo na cabeça, jura de pés juntos que aquilo tem que ser feito.

       ㅡ Já faz tantos anos, Lili. –Já estou acostumada com o drama dela, seus lamentos chorosos não me farão mudar de ideia.

       ㅡ Sim, faz. Mas eu ainda me sinto da mesma forma. Por favor, mãe, não insista. –Peço com a postura firme, mascarando a dor ardente no meu peito. Escuto seu suspiro pesaroso e logo depois os seus saltos insuportáveis batendo contra o chão e subindo as escadas.

       ㅡ Lil, você acha que eu devo pintar essa parte de verde ou azul? –Meu irmão pergunta, apontando determinadamente para o sol desenhado no canto da cartolina. William e sua imaginação louca.

       ㅡ Acho que azul cai bem. –Murmuro a resposta, passando-lhe o pote de tinta azul. Ele ri baixinho e começa a pintar.
       Na verdade, eu sempre entro nas brincadeiras dele, eu não quero que ele mude. Sua imaginação e pureza são valiosos, jamais irei estragar a sua criatividade, o tornando uma pessoa monótona como um robô. Porque isso é o que não falta nos dias de hoje.

🎧

ㅡ Lil, Lil, Lil, Lil... –A voz chata do meu irmão mais novo soou distante, logo depois eu senti o colchão da minha cama afundar e subir sem parar. Abri meus olhos e o vi pulando no lado vazio.

       ㅡ William, para com essa merda agora. –Exaspero irritada, ele para abruptamente e abre a boca, incrédulo.

       ㅡ Você falou um palavrão. –Sussurra surpreso. Reviro meus olhos e dou língua para ele, Will realmente acredita que "merda" é um palavrão de primeira categoria e altamente ofensivo.

       ㅡ Sai daqui, pirralho. –Cuspo, afastando a coberta para o lado e fingindo me aproximar dele para pegá-lo e fazer cócegas. Will solta um gritinho, prevendo o que eu pretendia fazer e então pula da minha cama, correndo até a porta e saindo do meu quarto.

[...]

Jogo um cardigã cinza por cima da minha camiseta branca e visto um jeans, logo depois escovo meus cachos dourados e suaves e por fim, calço um coturno de salto. Pronta para o dia. Não uso maquiagem diariamente, falta-me ânimo para todo o protocolo sobre usar a ordem certa dos produtos.
Quando finalmente saio do quarto e vou para a sala de estar, tenho que revirar os olhos ao ver William sentado no sofá, balançando suas pernas curtas e em êxtase para mais um dia de aula. Claro, quando se tem dez anos é normal estar feliz em ir para a escola rabiscar pedaços de papel e aprender sinônimos e antônimos.

       ㅡ Lil, querida, pode deixar o Will no colégio hoje? Marquei de ir no salão essa manhã. –Eu realmente não sei a quantidade de vezes que ela foi ao salão só esse mês, e nem me surpreendo mais com isso, então apenas suspiro e assinto. Ela não é uma pessoa ruim, mas como mãe... é a merda de um desastre.

       ㅡ Ok. Mas você sabe que irei caminhando. –Trato de esclarecer.

       ㅡ Por que não vai no seu carro? Você nunca o usa. –Ela protestou, arrumando sua bolsa e caminhando até a porta.

       ㅡ Porque não. Will não vai morrer se caminhar um pouco. –Bem... eu jamais iria chegar na minha escola nova em um carro de luxo esportivo. Porque minha mãe é assim, quando eu tirei minha carta, ela me presenteou com nada mais, nada menos que uma BMW.
Mas o ponto é, se você tem bens materiais, automaticamente todos sabem que você tem dinheiro. E se todos sabem que você tem dinheiro, eles irão se aproximar de você pela grana. E eu não quero isso. O dinheiro é como uma isca para que os predadores se aproximem de você em troca de algo. Nunca esbanjei o que tenho, e irei permanecer assim.

       ㅡ Certo, é você quem sabe. Estou indo. –Ela cantarolou a última frase. Eu e William tomamos café juntos e depois saímos de casa.
Caminhando calmamente pelas ruas de Nova Iorque, eu parei em frente a escolinha em que Will estuda e o acompanhei até a entrada.
ㅡ Tenha um bom dia de aula, Lil. –Ele desejou, abraçando minhas pernas.
ㅡ Vai logo, pirralho. –Respondi divertida, bagunçando seus cabelos lisos e castanhos. Ele riu e correu para um grupinho de crianças da sua idade.
Sorri sem mostrar os dentes e voltei a andar até o meu colégio.

Lᴏᴠᴇ ɴᴏᴛᴇꜱ ➳ Sprσuѕєhαrt (EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora