O cheiro calmante do orvalho noturno, passou por minhas narinas e pareceu percorrer a minha alma, deixando um caminho de serenidade e lucidez. Apenas a um palmo de distância do meu rosto, estava uma adaga, muito bem afiada pelo seu dono, Antonin Dolohov, seus dedos firmes envolvendo o punhal mostravam sua prontidão para o menor sinal de ataque.- Emma, já não está bom por hoje? - A voz do amigo irrompe o vento que congelava meus dedos, mal podia senti-los mesmo usando minhas refinadas luvas de couro nundu. Estávamos ali há mais de cinco horas e ainda assim, não parecia o suficiente. Nunca seria suficiente.
- Estará bom, quando eu disser que está bom. - Giro a pequena lâmina prateada entre os dedos, uma arma letal com a aparência mais doce que a de uma criança de oito anos pedindo o colo de sua mãe. A respiração controlada e o corpo pendendo para o lado direito, entregava que ele estava preparado para os meus seguintes passos. Sou obrigada a mudar os planos, Dolohov provavelmente me faria pagar por isso, mas me importar com futuras consequências, bem, digamos que não é um traço meu.
Avanço o corpo contra ele. Um giro rápido e ágil, imprevisto pelos olhos desprovidos de tamanha esperteza como os de Dolohov. Aperto com firmeza o cabo negro da minha adaga, antes de apoiar-me em um dos seus braços e usar a mão livre para que a minha lâmina encontre seu caminho até o lado esquerdo do abdômen de Anton. Sinto o calor do sangue avermelhado escorrendo pelos meus dedos quando retiro o metal de seu peitoral. Ao curvar o enorme corpo pela dor inesperada, minha mão agarra o seu pulso, agora descuidado, e arranco a adaga, que seus dedos tão fortemente se recusaram em me entregar.
- Agora acho que já está bom. - Digo ao admirar a lâmina, a qual era capaz de refletir como um espelho o meu rosto, corado devido ao esforço físico. Ainda belo.
Foi questão de segundos, talvez milésimos. Não tive tempo para contar ou sequer ter uma reação adequada, a não ser bater as costas no tronco áspero de uma das árvores que nos cercavam. O feitiço me arremessou com uma força descomunal, era assim que a magia funcionava. Rápida, certeira e com dor iminente.
- Primeira regra, Vanity: nunca abaixe a guarda. - Ouço a grossa voz de Dolohov que agora me parecia mais um sussurro, devido a dor causada pelo impacto. - Principalmente se for para admirar seu reflexo em uma lâmina. - Sua sombra sobre mim cobre o pouco de luz que recebíamos dos postes alocados próximo aos limites do castelo. O vejo esconder a varinha sob a manga de seu suéter e me oferecer a mão para levantar. Aceito.
- Segunda regra, Dolohov: Sem magia nos treinos de combate. - O suave sarcasmo ao dizer o sobrenome do amigo, já lhe era familiar. Aquele sobrenome era forte. Repleto de significado e cicatrizes duras demais para se cutucar.
- Apenas te devolvendo de forma bem empática o dano que me fez. - As sobrancelhas grossas do rapaz se curvam, assim como o canto de sua boca se transforma em um meio sorriso. - Eu te considero uma pessoa digna da minha empatia, mas não o suficiente para que fique com a minha adaga.
Ele sinaliza com os dedos para que eu devolva sua arma. Mordo o lábio e entrego a bela lâmina ao amigo. Era uma das mais lindas que já vira. Odiava admitir, mas era até mesmo mais linda que a minha própria, com o seu sobrenome entalhado em uma letra nostálgica, transferindo o familiar charme de Anton para a mesma.
Uma dor sorrateira passeia pela minha coluna, se fosse apenas uma trouxa qualquer, provavelmente aquela batida teria retirado o movimento das minhas pernas. Ando ao lado de Antonin. O amigo era forte, alto e possuía uma beleza assustadora. O corte em seu abdômen não era letal, mas sangrava o suficiente para deixar um rastro atrás de nós.
- Qual vai ser a desculpa que vai usar para Madame Pomfrey? - Pergunto.
- Está com medo que eu te entregue?
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Vício
Fanfiction"O lobo sempre será mau se você ouvir apenas a versão da chapéuzinho vermelho." Hogwarts. Um lugar mágico, com escadas que se movem e quadros que são capazes de contar segredos. Uma era onde a palavra dos inocentes criam traumas trazendo escuridão a...