Abaixo dos meus pés era possível sentir uma vibração, o familiar ruído dos sapatos sociais pretos com seus leves saltos curtos, que seguiam o ritmo da música que eu mesma escolhera para tocar ao final das aulas nos corredores. Era uma mistura de jazz bruxo com a animação das ruas parisienses, sempre encantadora, romântica e... perfeita. Era como respirar o doce perfume de croissants com creme de mirtilos, acompanhados por um cappuccino cuja fumaça flutua no ar ensolarado.
— Que música irritante. — A voz que irrompe meus pensamentos tem a péssima capacidade de me causar náuseas. Era Peter Pettigrew, o impertinente garoto burro e inquieto que não sabe a hora de fechar a boca, a qual sempre fede à fossa da travessa do tranco. Não paro de andar mas diminuo o ritmo alegre de antes. Ele estava ao meu lado carregando vários panfletos que anunciavam o baile de máscaras anual, eu podia notar como suas mãos tremiam simplesmente por estar ao meu lado, tolo covarde, não consigo acreditar que tenha sido escolhido para ser parte da Grifinória. Engulo em seco e continuo sorrindo.— Às vezes, meu querido, o silêncio é o melhor amigo de alguém. Posso claramente ver que é o seu. — Respondo ao comentário inexperiente enquanto ouço minha caneta de penugem esverdeada, rabiscando meus incessantes pensamentos em meu caderno flutuante.
— S-sim Rita, eu gosto de lugares mais quietos. — Os olhos do garoto brilharam ao falar, como se eu tivesse acabado de elogiá-lo, meu sorriso aumenta em contentamento. Amava como ninguém notava meus insultos, ser invisível em um mundo onde o centro das atenções sou eu. Incrível.
— Ande Pete, esse baile não vai ficar lotado sozinho, entregue para quantas pessoas puder, não deixe uma pessoa sequer sem um papel desses em mãos, posso confiar em você, querido? — Giro levemente a cabeça apenas para observar Peter assentindo como uma criança que acabou de receber uma ordem da mãe. — Obrigada! — Respiro fundo e continuo andando, deixando o garoto para trás e olhando para todos os lados, buscando por um sinal de Emmeline, que já deveria ter deixado a sala de Astronomia, afinal, as aulas já tinham terminado há algumas horas e o jantar estava próximo.
Meu braço começou a ficar dormente devido ao peso dos livros e da capa que retirara dos ombros assim que saí da sala editorial. A nomeara assim porque é muito mais fácil dizer "editorial" do que sala "onde alunos ocupam seu tempo escrevendo e discutindo sobre o que colocar no jornal de Hogwarts".
Acabei ficando por lá mais tempo do que planejava, teria que trocar de roupas apenas após o jantar. Mas não podia me desculpar por amar tanto o cheiro das folhas de papel que minha mente pensava estar em casa! Oh e o doce tilintar da ponta da pena batendo no tinteiro... Meus pensamentos são interrompidos por uma leve batida na têmpora que recebo do meu próprio caderno. Estreito os olhos, bufando. Teria que mudar o feitiço que fiz para que ele me lembrasse de algo importante. Minha pele estava começando a ficar avermelhada na região, não que eu fosse tão esquecida, mas eu sou plenamente capaz de pensar em algo que não machuque minha pele.
O pego no ar e observo a página que tanto requer minha atenção. Era a lista de afazeres do baile. Reviro os olhos e deixo meus ombros caírem. Observo de canto a pena se movimentar com rapidez a cada atividade que listo mentalmente, a longa escada giratória que levava até a sala de astronomia parecia eterna. "Emmeline, você me paga." penso e formulo todas as formas possíveis de punir Emme por não me encontrar no salão principal no horário marcado. Continuo degrau por degrau até meus olhos captarem um rosto com maxilar proeminente e boca rosada. Percebo que os cachos estavam recém cortados. A pena para. Frank Longbottom está sorrindo de algo provavelmente idiota que Alice fala, e por um momento apenas, admiro o rosto gracioso e imaculado do garoto.
Quando me dou conta, já estou de frente aos dois, que se sentavam apenas um degrau acima do que eu me encontrava. Fazia mais de um ano que eu e Frank havíamos terminado, não que tenha sido o melhor dos relacionamentos, mas ele era bom comigo, e isso bastava na época.
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Vício
Fanfiction"O lobo sempre será mau se você ouvir apenas a versão da chapéuzinho vermelho." Hogwarts. Um lugar mágico, com escadas que se movem e quadros que são capazes de contar segredos. Uma era onde a palavra dos inocentes criam traumas trazendo escuridão a...