Já estávamos no carro. Quando percebi que ele estava fazendo um caminho diferente do que ia para minha casa. Fiquei tanto tempo perdida divagando que não notei quando ele pegou a rodovia dos Imigrantes.
— Para onde vamos? — perguntei.
— Para minha casa. — ele respondeu ainda sem me olhar.
— Pensei que ainda morasse na Liberdade. — estava preocupada. Ir para a casa de Thor significava intimidade e eu queria fugir daquilo.
— Aquela era a casa dos meus pais, você nunca mais foi lá? — eu não entendia por que Thor estava tenso, tivemos um jantar até que um tanto quanto agradável.
—Não. — respondi, me interrogando intimamente por que nunca mais consegui ir até a antiga casa de Thor. “Sofri demais quando ele partiu, e ir ali, só me traria mais sofrimento”
— Imaginei que era isso o que faria. — Disse com ressentimento. Eu arqueei uma sobrancelha, e ele ficou em silêncio.
Logo estávamos em São Bernardo no ABC. Ele seguiu por mais algumas ruas e entrou em um luxuoso condomínio fechado. Parou o carro de frente a um enorme sobrado, a arquitetura era moderna e harmoniosa. Eu desci do veículo e avaliei a rua tranquila e arborizada, crianças deveriam brincar tranquilamente ali durante o dia.
Assim que entrei em sua casa, notei que a decoração era totalmente clean e não havia nada de pessoal em todo ambiente, apenas os moveis básicos, na sala uma estante com alguns livros, um confortável sofá em L preto e a mesa de centro.
— Comprei essa casa há pouco tempo. Logo que voltei ao Brasil, ainda não tive tempo de colocar as coisas em ordem.
— É muito bonita, Thor. — ele deu de ombros.
— É um pouco vazia não acha? — disse com um sorriso de lado, ele estava muito tenso, eu não entendia o por que — Realmente precisamos tratar de negócios Sol, logo a notícia irá se espalhar, e eu queria um tempo ao seu lado, e te dar a chance de se explicar antes que eu comunique meus superiores — Meu coração quase parou na boca.
— Não entendo! O que os federais querem comigo? Sou apenas uma atendente de cantina Thor — Eu tentei disfarçar meu nervosismo, ele não sabia quem eu era, nunca saberia.
— Sabemos que você é mais que isso. Eu sei disso Solene! — Ele apoiou-se em uma coluna e ficou esperando minha reação, aqueles olhos estavam frios como aço, como ele podia ser tão terno e bem-humorado em um instante, e mudar para um cara totalmente frio e profissional no outro.
— Sobre o que está falando Thor? — Tentei me manter impassível.
Ele fez um sinal com o dedo para que eu o acompanhasse, e subimos para o segundo andar, notei que havia quatro portas, provavelmente os quartos. Por que ele escolheria viver em uma casa tão grande?
Thor parou em frente a uma das portas, e abriu para que eu pudesse entrar. Notei que estávamos no quarto dele. Era totalmente masculino, em tons de chumbo e branco. Não havia muitos moveis exceto a cama e uma escrivaninha com um note e alguns papéis. Em cima do criado-mudo estava um porta-retrato. Eu me aproximei para ver quem era, e fiquei abismada ao ver uma foto minha abraçada a ele. Na imagem eu estava com o cabelo comprido na altura da cintura, vestia um shorts curto e uma regata branca, Thor estava de boné e posicionado às minhas costas, ele me abraçava e nós dois estávamos sorrindo. Lembrei aquele dia na praia, foi nossa última viagem juntos.
— Foi uma das poucas lembranças físicas que pude levar de você. — ele disse pesaroso.
Eu dei de ombros. Eu não queria aquelas lembranças, não queria alimentar esperança do que nunca poderia ser. Agora eu tinha uma vida totalmente oposta a dele, tinha minha família e principalmente eu tinha Pietra. Não entregaria meu coração a ele novamente para correr o risco de ser abandonada.
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Arkell
ChickLitUma familia cheia de mistérios poderes e maldições. Solene uma mercenária, Thor um agente federal. Eles possuem um passado em comum, um relacionamento inacabado e um futuro incerto. E quando a paixão desperta o perdão, o tempo apaga mentiras, e o...