7. Ella

62 18 0
                                    

Presente - 2014

Uma semana rapidamente se tornou duas, e apesar dos cartazes espalhados pela cidade, ninguém sabia nada sobre Carter. Ella havia feito o papel de esposa inconsolável, e chorou desesperadamente enquanto era amparada pelos vizinhos. Ganharam comida, roupas, produtos de higiene e limpeza, e por isso os armários estavam cheios, mas por dentro, Ella nunca tinha se sentido tão vazia.

Apesar de morarem na mesma casa, ela quase não via Debby, e Curtis parecia passar todo tempo livre no quintal. Ella havia assinado o boletim cheio de notas vermelhas e não apareceu pra reunião com os professores, porque no fundo não se importava mais com esse tipo de coisa. E daí que o filho tinha tirado nota baixa? O que poderia fazer por ele? Uma troca de cérebros? Talvez nem isso ajudasse, já que ela mesma não tinha as melhores notas na época da escola. Ela suspirou e acendeu outro cigarro. Sempre sentia uma raiva paralisadora quando pensava nos tempos de escola. Foi um período de tanta glória, mas a queda foi muito rápida e decisiva. Não havia mais nada pra ela.

Enquanto assistia Carter Jr. tentar passar do sofá para a parede sem cair, mal conseguia registrar a existência do filho. O que faria sozinha e com três crianças?

A primeira coisa que tinha pensado, fora em vender a casa, mas a hipoteca estava atrasada e muito provavelmente seriam despejados antes de arrumar outro lugar. Além de tudo, Ella nunca tinha trabalhado de verdade. Mesmo quando havia dito pro marido que estava fazendo um estágio, a verdade é que passou uma semana na praia com tudo pago por um "amigo", fingindo que era uma jovem, solteira e sem responsabilidades. A sensação tinha sido tão boa que ela nunca mais se recuperou totalmente dessa experiência. Quando Carter Jr. abriu o berreiro por cair, ela se aproximou, ajudou-o a ficar de pé novamente, e se afastou.

As horas se arrastavam e ela começou a nutrir uma ansiedade sem saber pelo quê. Não tinha o que esperar, e a menos que Carter voltasse pra casa, sua vida havia se transformado num tremendo nada.

Ella se dirigiu pra cozinha onde abriu uma garrafa de cerveja e deu um longo gole. Não queria voltar a beber em plena luz do dia, mas estava ficando mais difícil lidar com seus pensamentos. Quando o som da campainha ecoou pela casa, ela abriu uma fresta na janela da cozinha e viu um carro de polícia. Congelou por um minuto, pensando que Carter estaria no hospital ou morto, mas não se sentia preparada pra receber nenhuma dessas notícias.

Quando abriu a porta e os dois policiais começaram a falar, talvez tivessem visto apenas uma mãe maluca quando ela arfou de alívio ao invés de raiva. Um deles se dirigiu ao carro e abriu a porta pra Debby descer. No banco de trás, haviam mais duas meninas que choravam sem parar.

Ella olhou pra filha sem reconhecê-la totalmente, e depois de agradecer os policiais, fechou a porta e apoiou as costas nela.

Debby subiu as escadas sem sequer olhar pra mãe. Sem dizer nada.

Era isso que sua vida havia se tornado, pensou Ella, um silêncio sem fim.

Era isso que sua vida havia se tornado, pensou Ella, um silêncio sem fim

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
O Amor que Transforma [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora