Viagem ao verdadeiro inferno

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É uma tarde fria e chuvosa, bom para Ferreira, que tem suas lágrimas disfarçadas. As sombras de caputâ fizeram uma marca profunda em sua alma, como uma tatuagem, uma maldição. Algo que Ferreira terá que carregar para o resto de de seus míseros dias na terra. Ele podia estar perdoado por deus e pela igreja, mais não por ele mesmo. Por isso pisava fundo no acelerador, Ferreira estava dentro de uma espécie de jeep de guerra, carregando consigo o corpo de seu amigo morto, que estava enrolado em algumas ataduras. Ferreira tinha pressa, pressa para fugir do carma negativo que trouxe aquela cidade, e pressa também para dar um bom e glorioso enterro a seu querido amigo.

Nessas alturas, Ferreira já havia se esquecido que teria que prestar contas a seu superior, o lorde Criffort.

Criffort era inglês, um bispo respeitado por toda igreja, um dos líderes do ataque mundial do santo exército. Ele aparentava uns cinqüenta e quatro anos, cabelos grisalhos e só dos lados, uma barba branca que vinha até o queixo, usava sempre uma blusa social e gravata.

Estava sempre a ensinar ao povo que o seguia uma passagem do livro de Malaquias. Criffort tinha uma mente tão perversa que fazia o povo de mente fraca te dar dinheiro com aquela passagem bíblica. Nesses cultos, Criffort estava em algumas vezes acompanhados de 360 pastores, era algo muito estranho.

Mais Ferreira nem se lembrava da existência de um homem que comandava um exército corrupto para uma organização mais corrupta ainda, ele só pensava em seu amigo...

Foi uma longa viagem até Tamaris a cidade santa, três dias de longas e angustiantes lembranças. Ferreira só queria enterrar seu amigo e junto com ele, caputâ e passar o resto de sua vida tranquilo com sua esposa Clarice e seu amado filho Dylan.

Ao lembrar de Dylan e a caminhar para a basílica de Tamaris, Ferreira sentiu uma vontade enorme de abraçar seu filho. Parece que ao ver o quanto o serumano é fraco, Ferreira lembrou do valor da vida.

Lembrou de uma vez que exagerou ao brigar com seu filho, que tinha machucado o amigo brincando com duas espadas de madeira. O menino dizia:

- Eu sou Ferreira, a mão de deus! Se renda, eu sou invencível!

E foi quando ele bateu com a espada na cabeça do amigo. Ferreira gritou muito com ele, fez até o menino chorar.

Até esse momento, ele não tinha percebido que o menino apenas estava se espelhando em seu pai... Ele não queria aquilo para seu filho... De jeito nenhum.

Ferreira estava de frente para a basílica, era grande, branca, redonda, uma escada branca com detalhes vermelhos, a mesma cor do exército santo. No topo, uma cruz vermelha, que representava o sangue dos inimigos da santa igreja. Não era exatamente esse o significado, mais foi o quê Ferreira pensou na hora.

Ao entrar, Ferreira viu o bispo Criffort que estava a frente do altar arrumando alguns papéis.

A basílica tinha um tom gótico no interior, Ferreira nunca havia estado lá, por isso estranhou um lugar santo com aquela aparência. Quadros de santos que ele nunca tinha visto, símbolos e uma estátua grotesca no lado esquerdo, parecia um anjo com uma bíblia e roupa de pastor, mais em uma aparência muito macabra.

Ferreira se aproximou do bispo, que o viu, mais fez um sinal para esperar. Ele estava no telefone falando com Maltês, um dos pastores de Criffort.

Maltês usava um estilo de cowboy, chapéu de couro e tudo mais. Todos diziam que ele tinha uma forte inveja do poder que Criffort tinha, e raiva também. Raiva, por que Maltês queria promover um amigo dele a pastor, mais por questões pessoais Criffort não aceitou.

Ao finalizar a ligação, Criffort se levanta e diz em um alto som:

- Ferreira, meu amigo, e as novidades?

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