𝐇𝐎𝐌𝐄.

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"John e Emori têm sua primeira grande briga após quatro meses vivendo no Anel

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"John e Emori têm sua primeira grande briga após quatro meses vivendo no Anel."

Casa não é de onde você veio, mas sim onde você encontra luz quando tudo escurece.
— Pierce Brown, Golden Son.

Eles tiveram sua primeira grande briga depois de quatro meses vivendo no Anel.

John acaba com o rosto vermelho e cuspindo de raiva. Emori atinge os pontos de pressão e cava seus insultos como uma faca.

É sobre algo estúpido, e nenhum dos dois lembra como começou, ou por que se importaram o suficiente para discutir, mas termina em gritos. Insultos amargos e raivosos explodem deles, ecoando nas paredes de metal que compõem seu quarto.

John se sente preso na Arca, enjaulado pelas grossas paredes ao seu redor. Isso o lembra muito do bunker, ou do templo em Polis, ou mesmo da cela Skybox em que viveu por anos, e às vezes ele jura que não consegue respirar, que está ficando sem ar, que está sufocando até a morte - de verdade desta vez.

Quando ele não está olhando para o Anel ao seu redor como uma prisão, ou como uma sentença de morte, ele vê um cemitério. Fantasmas percorrem os corredores e quartos, e ele se sente tão assombrado pelas boas lembranças quanto pelas más, constantemente balançando no precipício de seu passado, tão perto de voltar para coisas que nunca quer revisitar.

Emori se sente desligada de tudo que ela já conheceu. Ela está acostumada a mudar e pensava que havia se preparado para a vida no espaço, mas nunca esperou a frieza do Anel, a completa ausência do sol e seu sentido de tempo que se desvanece. Os dias passam sem fim, as semanas passam mais rápido do que ela esperava, e ela se sente solta, girando no esquecimento, como um barco que não foi amarrado à costa e flutua nas ondas. Ela também se sente doente, desacostumada a uma dieta à base de algas, não familiarizada com o ar reciclado, seu corpo se rebelando contra o meio ambiente tanto quanto sua mente.

Eles se rasgam porque não podem destruir a Arca - porque John não pode escapar e Emori não pode voltar para a Terra.

A briga termina abruptamente. Emori sai furiosa, e a porta se fecha atrás dela; o som repentino reverbera profundamente nos ossos de John, deixando-o instável, desvendado, e sua voz morre instantaneamente em sua garganta. A sala fica em silêncio, fria e sufocante. A raiva se esvai. Deixando em seu lugar o medo, a dor e um arrependimento horrível e doloroso que raspa suas entranhas e sua garganta.

Ele quer correr atrás dela e se desculpar, implorar por seu perdão porque ele perdeu tudo de bom em sua vida e ele não pode perdê-la também, mesmo se ele merece. Mas ele acha que ela não vai querer que ele a siga, que ele já estragou tudo e não deve se preocupar.

Então ele fica sozinho no quarto deles. Ele abre a porta novamente e a escora mais uma vez, mas não se sente menos preso. Ele não dormiu a noite toda, embora tente. Sua cama está fria sem ela, estranhamente vazia; ele se sente mais solitário do que há meses, e é uma lembrança terrível e amarga de como ele costumava viver. Ele odeia isso. Ele se odeia. Ele gostaria de odiar menos as coisas.

Horas depois, as luzes do corredor piscam para sinalizar a manhã, e ele se arrasta para cima apenas porque tem um trabalho a fazer. Ele se move como um homem morto, lento e afetado, sem energia, e quando a noite chega, ele se sente ainda pior.

Emori não está no quarto deles quando ele volta; a pequena esperança que ele manteve o dia todo se esvai, porque ela sempre volta para encontrá-lo e não.

John só adormece naquela noite porque está muito exausto e acorda com Raven batendo em sua porta aberta. Ela parece - bem, ele não sabe como ela é, exatamente. Bravo? Decepcionado com ele? Simpático?

— Sua namorada está dormindo na janela de Jasper — diz Raven, usando o nome que Monty deu e todos eles adotaram.  — Não sei do que se trata, mas conserte.

Ela começa a sair, então para, recua. 

— Foda-se — ela respira, e parece doloroso, envolto em raiva e dor e derramando para fora dela. — Já temos problemas suficientes. Não podemos começar a nos machucar.

E então ela vai embora e John não tem tempo para se preocupar com Raven ou sua dor, porque ele estragou tudo e Emori está ferida e ele não consegue dormir outra noite sem ela, isso o está matando.

Ela está enrolada em um cobertor e encostada na janela. Ele se pergunta por que ela não dormiu no camarote onde há camas, mas então vê que seus olhos estão abertos e percebe que ela não está dormindo. Ela está olhando para a Terra, vermelha e quente e tão volátil quanto sua luta, parecendo em nada com o lugar que ele conheceu - nada com o lugar em que ela cresceu.

Ele se senta ao lado dela, mantendo certa distância no caso de ela não querer que ele a toque. Quando ele fala, sua voz falha, e é feia e complicada, emaranhada com tantas emoções que ele não consegue nem classificar todas elas.

— Eu sinto muito. Emori, sinto muito.

Ele acha que está se desculpando tanto pela Arca quanto pela luta.

— Eu odeio este lugar — diz ele, e ele não sabe como expor sua alma mais do que isso. Ele não precisa. Ela sempre o entendeu melhor do que ninguém.

Emori desvia o olhar da janela; ela direciona seu corpo para ele e enterra o rosto em seu pescoço, fechando todo o mundo, exceto ele. Ela está tremendo. John envolve seus braços ao redor dela e a puxa ainda mais perto, colocando-a ao seu lado. Eles se agarram com força um ao outro.

— Eu sinto muito, John — Emori sussurra em sua pele. — Sinto falta do chão. Sinto falta de árvores. Eu sinto falta do sol. Eu sinto falta... — ela se interrompe, a voz embargada, então se recompõe e acrescenta com veneno: — Eu odeio espaço.

Ele passa os dedos suavemente pelos cabelos dela.

— Está tudo bem — diz ele. — Nós apenas temos que esperar. Não vamos ficar aqui para sempre. Você vai voltar para casa um dia, Emori.

Ela balança a cabeça e o mata por um momento pensar que ela perdeu todas as esperanças, que não acredita, mas, em vez disso, diz:

— Vamos voltar para o chão. Eu estou em casa. Você é minha casa.

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Autor(a) original: interlude no AO3.

NOTA: Oi gente, espero que tenham gostado dessa one-shot, porque ela é a minha favorita! É super soft <33
Em breve trarei mais one-shots — a próxima provavelmente será de minha autoria. Caso você tenha alguma one-shot de Memori e quer que eu a coloque aqui, me chame no privado, no meu insta (@/octaviabsky) ou meu twitter (@/starsminnie).
Até a próxima!

𝐌𝐄𝐌𝐎𝐑𝐈 𝐨𝐧𝐞 𝐬𝐡𝐨𝐭𝐬 ࿐࿔*:・Onde histórias criam vida. Descubra agora