Não importa o quanto tentemos seguir adiante e o quanto desejamos nunca olhar para trás. Uma hora ou outra, o passado sempre volta à tona.
[sequência de bad idea]
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Harry está de volta à cidade.
Ele está aqui. Eu o vi.
— E... como você está? — Sophie me faz a indagação.
Pego o bule no fogão — que acabara de chiar anunciando o ponto da água — e me viro para a ilha, onde a morena está acomodada. Num determinado momento durante o caminho, me vejo precisando me concentrar no verdadeiro motivo por trás da pergunta em questão, e me desvencilhar daquele que vem martelando a minha cabeça desde a cerimônia do Zayn. O mesmo que tem nome e sobrenome: Harry Styles. Mas fazer isso só faz com que eu me sinta ainda mais insensível e egoísta com toda a situação, porque acabei de enterrar um velho amigo de infância, e ainda sim, não parei de pensar no mágico reaparecimento do cara que me abandonou anos atrás.
O que diabos há comigo, afinal?
— Mal, é claro — encolho os ombros, despejando o líquido fervente nas duas xícaras à minha frente. Parte de mim está constrangida, e o fato da Sophie não saber ler mentes me alivia, pois assim ela saberia o porquê da reação. — Tudo isso pegou todo mundo desprevenido. Zayn cresceu junto com a gente, eu o via quase todo dia, e agora ele está... — engulo a seco, me forçando a não encarar nos olhos da Sophie. Morto, é o que eu deveria dizer. Essa palavra, no entanto, ainda me assusta, porque dizê-la em voz alta só torna tudo o que aconteceu real.
Pensar que nunca mais o veremos por causa de um sinal avançado me deixa nauseada, com aquela sensação conflitante que só ressalta que, na verdade, não temos controle sob absolutamente nada neste mundo.
Nem mesmo sobre nossas vidas.
— É... — ouço seu suspiro. — Pra ser sincera, a ficha meio que não caiu ainda para mim. Quero dizer... eu sei que tivemos nossos ressentimentos no passado, mas ele fez parte da minha história. Zayn foi o primeiro cara que eu amei... — sua voz baixa consideravelmente, reverberando pelo cômodo com um quê de melancolia. — que eu ainda amo.
Fico triste pela Sophie. Especialmente por ela, que compartilhou mais do que uma mera relação de amizade com o Zayn. Englobou muito mais intensidade. Os dois namoraram por muito tempo, ainda que o relacionamento tenha se rompido de modo conturbado. Eles não resistiram à distância, e quase dois anos depois de Sophie ter largado tudo para cursar moda em Paris, o término veio a acontecer oficialmente. O que eu me lembro daquela época é de um Zayn muito abatido. Tudo havia acontecido ao mesmo tempo na sua vida, e de maneira abrupta: A descoberta do câncer do pai, o término com a Sophie e a saída da faculdade. Desde então, Malik nunca mais foi o mesmo. Nem mesmo comigo e com o restante dos meninos. Eu geralmente o via pelas ruas arranjando alguns trocados em troca de serviços rápidos e práticos, recebia visitas suas no café uma vez ou outra e nos primeiros aniversários da Mary, antes de sua ausência se tornar praticamente constante. Confesso que não me surpreendi muito quando soube que ele estava alcoolizado no momento em que sofreu o acidente, porque já havia chego aos meus ouvidos que ele andava tendo problemas relacionados ao abuso de álcool — apenas um efeito colateral mediante tudo o que aconteceu nos últimos anos. Mas, de todas as maneiras que ele poderia ter partido, essa com certeza foi a mais cruel. Sobretudo, para as pessoas ao seu redor.
