Capítulo 1

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A dor nos meus pulsos e ombros me acordou. Gastei um bom tempo lutando contra a névoa na minha mente para entender que eu estava presa.

Hmm. Aquilo era novidade. Sendo uma garota normal de um país qualquer vivendo uma vida comum, eu nunca esperaria acordar numa prisão, com algemas nos meus pulsos me prendendo no teto, meus pés a um palmo do chão e gosto de sangue na boca. É claro, eu sabia que a reação certa nesse tipo de situação era surtar, mas eu estava entorpecida e lenta, e meu corpo inteiro doía tanto que eu mal conseguia me mexer. Além do mais, dava para sentir algo em minha mente bloqueando a ansiedade. Tudo que eu sentia era uma curiosidade leve.

Depois de um certo tempo, comecei a reconhecer o tipo de lugar onde eu estava. Foi possível distinguir o contorno de uma porta, os espaços entre as enormes pedras do chão e do teto, sujeira nos cantos e esqueletos de rato.

Então, eu comecei a prestar atenção no meu corpo — além da dor — e tudo de repente ficou mais confuso. Eu era um homem. Eu olhei para baixo e eu não tinha seios, apenas um corpo musculoso e sem camisa, e machucados. Dava para sentir algo entre minhas pernas, e meu rosto coçava como se tivesse barba. Meu cabelo era curto o suficiente para não cair no meu rosto. Fiquei intrigada. Talvez eu estivesse sonhando.

Eu estava murmurando uma canção esquecida quando a porta abriu do nada. Eu fechei meus olhos tentando me esconder da luz, mas ela queimou meus olhos mesmo assim. Não era uma luz normal, meu corpo imediatamente ficou mais fraco. A luz se mexeu ao redor do quarto e eu senti duas pessoas se posicionando, uma de cada lado do meu corpo. A luz que eles carregavam era quente, e eu senti suor brotando do meu rosto. Entreabri os olhos com dificuldade, e tive que piscar várias vezes para reconhecer a pessoa que me encarava. Mas, uma vez que consegui, um sorriso imenso se espalhou no meu rosto. Eu quase gargalhei de prazer.

"Lucius Malfoy, eu realmente não esperava ver você."

Acordar preso numa cela de prisão era uma coisa. Mas perceber que aquela cela pertencia a um personagem fictício num mundo fictício, isso não tinha preço. Eu não conseguia parar de sorrir, e fiquei feliz em ver a expressão apreensiva do Malfoy. A ironia da situação!

"Não vejo porque não", disse Lucius, se recuperando. "Depois da nossa última conversa, você deveria ter imaginado que isso aconteceria. O Lorde das Trevas não está satisfeito com você."

Então eu estava em algum lugar nos livros quando Voldemort estava vivo e planejando. Pela expressão velha e cansada de Lucius, eu chutaria algo entre 1995 e 1996. Eu bocejei, nem um pouco preocupado com o interesse de Voldemort em minha pessoa. Não importava se eu era um Comensal da Morte ou algo assim. Além disso, eu nunca tinha lido essa cena nos livros. Nada a respeito dessa situação poderia existir.

"Mil perdões, mas aparentemente eu estou sofrendo de uma súbita perda de memória. Você se importa de me esclarecer a respeito do que discutimos?"

Ele apertou os lábios numa linha fina, sentindo meu escárnio.

"Nosso Lorde das Trevas insiste que você traga a Aliança dos Vampiros para o nosso lado. Caso contrário..." ele disse, fazendo um gesto amplo para a minha prisão.

"Caso contrário, eu vou ficar preso como um bicho, entendi." Então eu era um vampiro? Eu não conseguia sentir nada que comprovasse isso, mas eu ainda estava fraco por conta daquela luz em volta de mim. Talvez aquilo era a luz do sol entorpecendo meus poderes. Eu com certeza devia ter poderes.

"Me lembre de novo quando eu jurei obediência ao Lorde das Trevas", eu perguntei com certo desdém, mas francamente curioso.

"Já tivemos essa discussão várias vezes", Lucius respondeu. "Estou vendo que sua resposta ainda é a mesma. Talvez mais algum tempo preso nessa cela vai enfraquecer sua força de vontade".

Parecia que eu era a razão pela qual Voldemort não fez um trato com os vampiros para a guerra. Por mim, tudo bem. Eles se mexeram, se preparando para sair.

"Como estão seus esforços para matar o Dumbledore?", eu perguntei, dando um palpite doido.

Lucius parou abruptamente e eu sorri. Era fácil demais provocá-lo.

Ele fez um gesto para dispensar os guardas e eles saíram com a luz. Eu me senti imediatamente mais forte. Eu conseguia sentir o sangue de Lucius correndo pelas veias dele. Meus olhos ficaram famintos.

Aquilo era um sonho estranho, eu pensei enquanto ele se aproximava um passo de mim. A dor no meu corpo era real demais. O cheiro de sangue era muito forte. Eu não tinha imaginação suficiente para criar essa situação inteira tão vividamente, e meus sonhos costumavam ser loucos e fluidos. Eu nunca havia passado tanto tempo na mesma cena sem ser jogado em outra coisa.

"O que você poderia saber sobre isso, criatura?"

Ele estava perto demais. Eu lambi meus lábios e meus olhos famintos pousaram nos dele. Gemi suavemente e me debati contra as correntes. Eu estava com sede e o cheiro do sangue limpo dele era muito tentador. Sim, com certeza um vampiro.

As bochechas de Lucius se avermelharam levemente, e ele me deu uma secada. Meu corpo pendurado devia parecer carne fresca para ele, totalmente disponível para satisfazer seus desejos. Eu não me importava, desde que eu conseguisse colocar meus dentes perto daquele pescoço.

Quando os olhos dele percorreram meu corpo todo e voltaram para o meu rosto, eu tinha um sorriso diabólico esperando, e foi delicioso ver a quantidade de sangue surgindo no rosto dele.

"Eu quero tanto você, Lucius", eu disse, minha voz derretendo feito mel. Ele parecia incapaz de falar, mas eu sentia para onde o sangue dele estava correndo. A sexualidade de Lucius era novidade para mim, mas eu com certeza abusaria disso. "Por que você não me solta pra gente se divertir um pouco?"

A magia se quebrou quando a Marca Negra ardeu. Lucius apertou o próprio antebraço e eu senti sua excitação acabando rapidamente e o sangue voltando ao fluxo normal. Ele recuou e eu gemi mais alto. Eu estava com sede demais.

Ele limpou a garganta.

"Acredito que terminamos por aqui. Verei você novamente quando você mudar de ideia".

Então, ele me deu as costas e saiu.

A Vampire Tale of Harry PotterOnde histórias criam vida. Descubra agora