Acordei sob um teto de madeira e palha. Havia uma pequena fogueira no centro da Oca já quase apagada.
- Filha? – Um homem que eu não tinha visto saiu das sombras e se ajoelhou ao meu lado.
- Túa. – Me levantei e pulei em seus braços. Aquilo era tão bom.
- Minha filha. – Ele me segurou em seu colo como quando era criança, sua mão alisava meu cabelo.
- Sinto muito pai. Sinto tanto, eu só... eu... – De repente as lembranças do que havia acontecido voltaram de uma só vez e meu coração voltou a pesar e as lágrimas a caírem.
- Tudo bem pequena. Chore, pode chorar. Os deuses também choram sua perda e de toda a aldeia. – Ele secava minhas lágrimas enquanto mantinha meu rosto erguido. – A estação das chuvas começou duas luas antes do previsto.
- O que? Mas... mas e a aldeia?
- Não perdemos quase ninguém. – Ele beijou minha testa. – Agora pode descansar.
- Mas... eu quero sair. Tenho de encontrar Irani. – Funguei enxugando as lágrimas. – E Acir e Porã? Estão bem?
- Estão bem. Mas você não pode sair, nem ir atrás dela.
- O que? Por que?
- Aiyra você matou três homens. Isso foi longe demais.
- Pai, eles matariam meus irmãos, seus filhos. Eu os ajudei.
- Se fosse a hora deles então os deuses o teriam levado, se não fosse eles o teriam protegido e sozinhos venceriam sua batalha.
- Eu...
- Você fica aqui. Uma mulher cuidará de você até o dia de seu casamento, até lá não deixará essa Oca.
- Eles iam machucar as mulheres, pegaram Irani.
- Chega! – Ele me empurrou e eu cai deitada. Ele se levantou ajeitando o cocar. – Você é uma mulher e não vive como uma. Saber lutar e caçar já era ruim o suficiente, agora tirar a vida de um igual? É passar de todos os limites.
- Um igual? São monstros tua, eles nos atacaram matariam sem dó.
- Somente um guerreiro, um homem, pode tirar a vida de outro. Você não conhece seu lugar nem seus limites.
Uma mulher apareceu na entrada, segurando um amontoado de folhas secas. Ela se curvou para o meu pai e sentou-se próximo a mim.
- Ela cuidará de você a partir de agora. Não saíra daqui até que eu permita ou você se case. Até lá, ensine a ela o que uma boa esposa deve ter.
E ele se foi sem dizer mais nada. A mulher me encarou de cima a baixo e colocou as folhas entre nós.
- Separar em tiras iguais. Começar a trançar.
Não a respondi. Queria sair correndo pedir perdão a eles, mas ao mesmo tempo não me arrependia de ter matado eles. Iam matar meus irmãos e eu só os protegi, por que era tão errado? Ninguém me respondeu e acho que ninguém o faria. Estava sozinha com meus pensamentos.
O dia passou em completo silêncio. Não conversamos só traçamos as cestas, tira após tira. Outra mulher nos trouxe comida e água, sair da oca apenas para fazer minhas necessidades e a minha guardiã sempre me acompanhava sem tirar os olhos de mim.
Quando a noite finalmente chegou meus dedos estavam ásperos e parecia ter milhares de saúvas mordendo minhas pernas. Não tomei banho e não quis jantar, apenas me deitei sobre a esteira de palha e deixei que o sono me levasse para longe.
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Iara - A história por trás da lenda
Short StoryTodos conhecemos o mito da sereia Iara. Mas você conhece a sua origem? A história por trás da bela sereia que atrai os homens para a água e os mata. Mergulhe nesse mito junto comigo, mas cuidado! Você pode acabar sendo conquistado pela sereia.